A Índia tem uma política curiosa quanto a drogas para doenças como HIV, diabetes e câncer: o país obriga que grandes farmacêuticas que queiram se estabelecer no mercado a liberarem a fórmula de produção de suas drogas a empresas menores e locais. Com isso, medicamentos genéricos e, portanto, mais baratos, ficam acessíveis à população mais carente imediatamente, a empresa farmacêutica perde os direitos exclusivos da produção do remédio e perde, também, a possibilidade de cobrar o quanto quiser pela droga, por causa da concorrência dos genéricos. A empresa farmacêutica não perde a patente do remédio e continua recebendo um pagamento pelo uso da fórmula, mas a produção não fica sendo um direito exclusivo.
Isso, é claro, não agrada as farmacêuticas e muitas estão enfrentando a justiça indiana pra tentar manter os direitos sob seus remédios. Confrontado, o CEO da Bayer disse que apesar de ele considerar a prática um roubo, a medida não deve afetar os lucros da empresa, porque ele não faz remédios para o mercado indiano. A declaração pegou muito mal e Dekkers disse, em outro momento, que o comentário foi uma “resposta rápida” dada na conferência e que a Bayer “quer que todas as pessoas compartilhem dos frutos do progresso da medicina, independentemente de sua origem ou renda”.
Sites como o TechDirt e usuários do Reddit lembraram que, apesar de ser uma declaração ofensiva, ela só é uma admissão honesta de um cenário que frequentemente vem disfarçado. “É uma admissão animadora e honesta de que, em vez de salvar vidas pelo mundo, a Bayer está interessada em maximizar lucros vendendo drogas caras para pacientes ocidentais que puderem pagar, e quem não puder pagar, que morra [...], escreveu o TechDirt. No Reddit, o comentário mais votado sobre a notícia diz: “Esse é provavelmente o CEO mais honesto da indústria farmacêutica que já existiu. Aprecio a honestidade dele, mas não gosto dessa natureza não caridosa. Todo mundo no planeta, sendo de Manhattan ou de Burundi, é um ser humano com esperanças e sonhos reais, e todo mundo merece uma chance.”
Vale lembrar de uma declaração de 1929 de George Merck, das farmacêuticas Merck: “Não é pelo lucro [que fazemos remédios]. O lucro é uma consequência, e se lembrarmos disso, ele sempre virá. Quando pensamos nisso com mais ênfase (que a medicina é feita para as pessoas), maiores foram os lucros.”
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