quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Menos culpa, mais harmonia



Mesmo administrando bem a casa, cuidado dos filhos e do marido, a mulher ainda sente uma culpa ancestral

Conversar sobre o universo feminino dá mesmo muito pano pra manga. Como cabem assuntos nesse tema, em quantos aspectos se dividem (ou multiplicam) os interesses. Que imenso caminho percorrido desde a mulher criada para o lar e a família, o bordado e as crianças todas, a limpeza da casa e a comida na mesa, o silêncio das opiniões, a submissão, a ausência do desejo. E mesmo assim, ainda restam sonhos tais como livrar-se de uma culpa ancestral e encontrar o companheiro sonhado. Menos culpa no sucesso e mais harmonia no amor.

As mulheres conquistaram direitos e acumularam deveres, mas ainda sentem culpa! O sucesso na carreira e o tempo dedicado a isso parecem ser roubados dos filhos ou do marido. Como se seu tempo não lhe pertencesse e não fosse seu o poder de decidir como administrá-lo. A casa funciona bem, as crianças estão bem atendidas e acompanhadas, a geladeira cheia, o cardápio definido, o rodízio combinado com outras mães que trabalham, o celular sempre a postos para qualquer emergência ou dúvidas dos pequenos (qualquer mesmo, podem acreditar). As consultas com o pediatra e o ortodontista em dia, o microondas na assistência técnica, a final do campeonato agendada, bem como as reuniões de escola, claro, e as apresentações de final de ano todas devidamente fotografadas. Onde será que ainda cabe a tal da culpa? Uma voz que acusa e cobra e que parece vir desde sempre lá dos tempos primeiros. Uma culpa mais que típica: arque-típica!

Assim também resiste o sonho do príncipe encantado. O homem que vai enxergar nossa beleza num olhar profundo, valorizar nossas conquistas e descobertas, vibrar com as vitórias nas provas tão cheias de obstáculos que a vida é. Mais: ele será nosso parceiro e complemento. Um aviso – esse homem incentivador existe dentro de cada uma e com ele é que seremos felizes para sempre.

A mesma força e competência que conduziu ao sucesso, traz o reconhecimento e a auto-estima. Se o homem que encontrarmos não tiver que adivinhar nossos anseios ou preencher nossas faltas, ficará mais fácil e possível a satisfação mútua. Mostrar-se ao outro, ter prazer em conhecer e revelar-se. Pense bem, nas últimas duas décadas a mulher saiu, numa pirueta, de dentro de casa para o mundo – como ficaram os homens, ali sem saber mais pra que serviam nem como agir. Pagar ou não a conta? Abrir ou não a porta? E no sexo? No planejamento familiar? Onde foram parar os velhos papéis estabelecidos e tão conhecidos?

Precisamos de uma nova coreografia. Não servem mais as antigas divisões de tarefas. Nesses tempos, as mulheres puderam exercer sua força e os homens, sua sensibilidade. Cada gênero desenvolveu aspectos do outro e fez-se uma mistura mais forte, onde cada um tem o complemento em si mesmo. Cada um é inteiro, mas não mais engessado em papéis rígidos. Neste par de inteiros, cada um oferece pra relação aquilo que serve ao crescimento do casal e do outro. Há homens com trabalhos de horários mais flexíveis do que a sua mulher, há mulheres com mais competência para ganhar e administrar o dinheiro. Cada casal faz sua dança, sua ética, seu companheirismo. Assim, parece, nos com-prometemos e nos acercamos mais da tão sonhada harmonia.

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