Alterações no comportamento e no rendimento escolar podem ser pistas de que o auxílio profissional é bem-vindo para melhorar o presente e o futuro de seu filho
Resistência. Essa é a palavra que os especialistas mais usam para definir a postura da maioria dos pais que levam seus filhos para uma avaliação psicológica. “Eles têm uma aversão muito grande à terapia para suas crianças porque, em seu íntimo, isso é sinônimo de ‘nós falhamos’, ‘nós não damos conta de educá-los’. Sentem sua responsabilidade diretamente atacada”, explica a psicóloga Eliza Rocha, do Instituto Reintegrar.
O psicólogo Erick Rôso Huber, consultor do Consulte Aqui (portal de agendamento online de consultas médicas), concorda e nota também uma falta de disponibilidade física e emocional por parte desses pais. “Eles temem que em algum momento o acompanhamento psicológico infantil os atinja, o que pode acontecer, e criam todo tipo de dificuldade. Até as questões do transporte e de quanto tempo será gasto no trânsito acabam entrando na lista de desculpas para fugir do consultório”, relata.
Há, ainda, uma boa pitada de preconceito nessa equação. “Não é exclusivo no tratamento infantil. Muita gente ainda pensa que só precisa de psicólogo quem é louco”, conta Huber. Para Ricardo Halpern, presidente do departamento científico de comportamento e desenvolvimento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), esse é o primeiro aspecto que os pais devem trabalhar internamente caso seus filhos precisem de terapia: “Essa necessidade mexe com as emoções familiares, mas há que se conscientizar de que a promoção da saúde mental é importante em todas as idades”.
Atenção às mudanças
Halpern afirma que “as crianças normalmente não precisam de avaliação psicológica. Ela é válida apenas quando existe uma situação que fuja da normalidade”. E o que pode ser considerado fora da normalidade? “O surgimento de um comportamento repetitivo e duradouro que não seja adaptável à vida cotidiana. Ele indica que a criança encontrou uma forma não adequada para lidar com seus problemas e frustrações. Daí é interessante procurar auxílio para a recuperação de sua saúde mental”, esclarece.
Mas nada de pânico diante de qualquer mudança de comportamento de seu filho. Eliza sugere que os pais se façam algumas perguntas antes de procurar um profissional:
- O novo comportamento da criança prejudica seu dia a dia e suas relações pessoais?
- O desempenho escolar piorou por causa desse comportamento?
- Há quanto tempo o comportamento se manifestou?
- Aconteceu algo na família ou na escola que possa ter motivado esse novo comportamento?
- Os pais já tentaram ajudar e não conseguiram?
Independentemente da idade da criança, se alguma das respostas incomodar os pais no sentido de acharem que é melhor ter uma ajuda externa, podem levar o filho a uma avaliação psicológica. “Muitas vezes detecta-se que não é necessário um tratamento continuado, que uma orientação para os adultos lidarem com a situação já é suficiente”, diz a psicóloga.
Os benefícios do tratamento psicológico infantil são muitos, afirmam os especialistas. Além da promoção da saúde mental, Ricardo Halpern menciona o alívio da ansiedade e das situações que causam desconforto na criança. De acordo com Erick Rôso Huber, ela também consegue “resolver a questão pontual que causou sua mudança de comportamento e entender melhor o ambiente ao seu redor, interagir com o que se apresenta nele”.
Eliza complementa visualizando alguns passos adiante: “Ao compreender a si e ao outro, ao aprender a se relacionar bem com as pessoas, essa criança construirá melhor sua autoestima. Isso terá reflexos lá na frente, na vida adulta. Ela será um adulto mais seguro e completo”.
Respeite o temperamento de seu filho
Diante de tudo isso, vale ressaltar que os pais não podem desrespeitar a personalidade natural do filho e tentar moldá-la ao seu gosto em um consultório psicológico. “Ser muito quieto ou muito agitado não é motivo para precisar de psicólogo”, afirma Eliza. “A questão é realmente a mudança repentina de comportamento”, reforça.
Trocando em miúdos: assim como entre os adultos, há crianças mais introspectivas e outras mais extrovertidas. E tudo bem. “Se o temperamento não afeta os estudos, a sociabilização e o relacionamento com a família, não há com o que se preocupar”, diz Erick. “Nesse caso, a única recomendação que dou é que os pais aproveitem e se dediquem ao desenvolvimento do filho com a mesma atenção que dispensam à carreira profissional e à vida amorosa”, finaliza o psicólogo.
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