Doença que pode causar aborto dispara no Rio. Entre os motivos: maridos que não se tratam
Rio - Uma doença que pode causar graves danos ao feto e até provocar aborto não para de crescer entre as gestantes do Estado do Rio de Janeiro. A taxa de incidência da sífilis em grávidas triplicou no período de 2009 a 2013. E os níveis da infecção em recém-nascidos dobraram no mesmo período. Um dos principais desafios no combate à doença, transmitida principalmente por meio da relação sexual, é convencer os parceiros das futuras mamães de que eles também precisam se tratar.
O marido com sífilis deve receber o cuidado completo para evitar que a gestante, uma vez tratada, seja infectada novamente ao fazer sexo com o homem doente, explica Alexandre Chieppe, superintendente de Vigilância Epidemiológica e Ambiental da Secretaria Estadual de Saúde (SES). “É grande o número de gestantes com a doença que se reinfectam com o próprio parceiro, devido à dificuldade de abordar e tratar corretamente os homens”, afirma o especialista.
Em 2009, a taxa de incidência era de cinco casos a cada mil gestantes. Já em 2013, o estado registrou 15 por mil. No mesmo período, o índice de bebês que nasceram com a doença subiu de seis a cada mil para 12 por mil. Aliás, a taxa em bebês do Estado do Rio é a maior do Brasil (a média nacional em 2012 ficou em dois por mil). Os dados são do Boletim Epidemiológico e Ambiental e do Boletim Epidemiológico DST/Aids e Hepatites Virais, da SES.
A doença, provocada por bactéria, é preocupante sobretudo porque, se a mulher não receber o cuidado adequado durante a gestação, o feto também adoece. Dados do Ministério da Saúde mostram que há aborto espontâneo ou morte perinatal em cerca de 40% das crianças infectadas por mães não tratadas. Outro risco é o de o bebê nascer com má-formação física. Normalmente, o tratamento da criança com sífilis dura duas semanas e ela deve permanecer internada.
PLANO DE ENFRENTAMENTO
Segundo Alexandre Chieppe, é muito importante garantir o acesso ao teste da doença durante o pré-natal. “E o resultado deve vir em tempo oportuno para que a gestante e o parceiro sejam tratados”, afirma. O tema preocupa tanto que, ainda de acordo com Chieppe, em outubro será lançado um um plano de enfrentamento da sífilis congênita (de nascença), com ações específicas para serem postas em prática por secretarias municipais de saúde do Rio e também para a rede privada. A meta é reduzir os índices.
Homens não querem parar de beber para tomar remédio
São vários os fatores que dificultam o tratamento dos homens. Alguns simplesmente não quererem parar de ingerir bebidas alcoólicas, pré-requisito para poder tomar o antibiótico necessário. Outra dificuldade, explica Guilherme Wagner, superintendente da Atenção Primária da Secretaria Municipal de Saúde, é a falta de hábito do sexo masculino em procurar médico ou medo de se tratar. “Quem ama tem de cuidar da esposa e do filho. Os profissionais das clínicas chamam os homens, mas a adesão ainda é baixa. O pré-natal é do casal e não apenas da mulher”, aponta, acrescentando que as clínicas funcionam das 8h às 20h e algumas abrem aos sábados — portanto falta de tempo também não é desculpa.
O primeiro sintoma da doença é uma ferida indolor no órgão genital, que desaparece rápido. Depois, vêm manchas vermelhas na mão e no pé, que também somem. Se o diagnóstico demorar, a doença pode provocar danos neurológicos.
Diagnóstico e tratamento na cidade
Na rede municipal de saúde do Rio, no momento em que se confirma a gravidez, a mulher faz testagem rápida para sífilis. O resultado fica pronto em 15 minutos e, caso dê positivo, a paciente inicia no mesmo dia o tratamento. O serviço é oferecido nas Clínicas da Família.
De acordo com Guilherme Wagner, superintendente da Atenção Primária, o tratamento para a mulher consiste em seis injeções de benzetacil (único medicamento que atravessa a placenta e trata o bebê). São duas doses por vez, aplicadas durante três semanas. Já para os homens, além da injeção, há opção de tomar antibiótico por 28 dias.
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