"O Recebedor" é desdobramento da Lava Jato que, com base em depoimento, aponta pagamento de propina para a construção de ferrovias Norte-Sul e Integração Leste-Oeste
A Polícia Federal deflagrou, na manhã desta sexta-feira (26), a operação "O Recebedor", desdobramento da Lava Jato que investiga esquema de corrupção na Petrobras, com base em informações colhidas em um depoimento de delação premiada e acordos de leniência que apontaram pagamento de propina para a construção de ferrovias Norte-Sul e Integração Leste-Oeste.
As investigações revelaram prática de cartel e lavagem de dinheiro por meio de superfaturamento de obras públicas. Os investigadores concluíram que as empreiteiras realizavam pagamentos regulares, por meio de contratos simulados, a um escritório de advocacia e mais duas empresas sediadas em Goiás, utilizadas como fachada para maquiar origem lícita para o dinheiro proveniente de fraudes em licitações públicas.
Os mandados são cumpridos no Paraná, Maranhão, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Distrito Federal. Em dezembro, a PF fez a primeira operação resultado de investigações da Lava Jato, a Crátons, que teve como foco a extração e comercialização ilegal de diamantes em terras dos índios cinta-larga, em Rondônia. A Lava Jato investiga esquema de corrupção na Petrobras.
Somente em Goiás foi detectado desvio de cerca de R$ 630 milhões, considerando trechos executados na construção da Ferrovia Norte-Sul. Odebrecht, Queiroz Galvão, Mendes Junior, Serveng e Constran estão entre as empreiteiras investigadas nessa operação.
A PF cumpre mandado de busca e apreensão em endereços de Juquinha. Indicado à presidência da Valec em 2003 pelo PR – partido do deputado federal Valdemar Costa Neto (SP), seu padrinho político –, ele precisou do aval do ex-senador José Sarney (PMDB-AP) para assumir o cargo na estatal.Nos depoimentos de colaboração, os executivos da Camargo Corrêa entregaram provas contra o ex-presidente da Valec, a estatal das ferrovias, José Francisco das Neves, o Juquinha. Ele foi afastado do cargo em 2011 por suspeita de corrupção na "faxina" da presidente Dilma Rousseff. Conforme as colaborações, ele teria recebido R$ 800 mil em propina.
A Camargo, que é alvo da Lava Jato, já anunciou acordos de colaboração com o Ministério Público Federal e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), por meio dos quais se comprometeu a pagar mais de R$ 800 milhões.
Os investigadores concluíram que empreiteiras realizavam pagamentos regulares, por meio de contratos simulados, a um escritório de advocacia e mais duas empresas sediadas em Goiás, indicadas por Juquinha, usadas como fachada para maquiar origem lícita para o dinheiro proveniente de fraudes em licitações públicas.
Os delatores da Camargo forneceram provas documentais e indicaram testemunhas contra outras empresas e pessoas que também teriam participado do esquema criminoso apurado pela "O Recebedor". O nome da operação é referência à defesa apresentada por Juquinha na operação intitulada "Trem Pagador". Seus advogados alegaram que, "se o trem era pagador, o alvo não era o recebedor". O ex-presidente da Valec foi preso na ocasião.
As investigações da "Trem Pagador" começaram quando a Procuradoria da República em Goiás fazia levantamento para pedir à Justiça a indisponibilidade de bens de Juquinha, investigado por inflar preços da obra da Ferrovia Norte-Sul quando presidente da Valec, beneficiando empreiteiras. O trabalho mostrou que um vasto patrimônio, avaliado em R$ 60 milhões, estava em nome do ex-dirigente, parentes e laranjas.
Presidente da Câmara, Eduardo Cunha está entre os que serão investigados na Lava Jato. Foto: Gustavo Lima / Câmara dos Deputados
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Os 51 mandados não incluem ordens de prisão, apenas de condução coercitiva (sete), quando o investigado é liberado após prestar depoimento, e de busca e apreensão (44).
Obras
A Fiol é um projeto de 1.527 km de extensão que corta a Bahia para escoamento de grãos e minérios. A obra já consumiu R$ 3 bilhões e ainda não foi concluída. Na ocasião, a estatal Valec, responsável pela construção, acumulava dívida de R$ 600 milhões com fornecedores.
A Ferrovia Norte-Sul é um projeto dos anos 1980 e foi iniciada no governo de José Sarney (1985-1990). Na época, o então sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva dizia que era uma obra para ligar "nada a lugar nenhum". Anos depois, a ferrovia virou uma das vitrines do governo do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O projeto, que foi ampliado por Lula, prevê ligar Açailândia, no Maranhão, até Rio Grande, no Rio Grande do Sul.
Em Açailândia ela se interliga hoje com a Ferrovia dos Carajás e vai até São Luiz. O governo quer construir outro braço até Barcarena (PA), um percurso de 477 km com investimento estimado de R$ 3,7 bilhões. A parte já construída, com recursos públicos, vai de Açailândia até Anápolis (GO).
Há outro trecho praticamente pronto, de Anápolis até Estrela d’Oeste (SP), uma obra de 682 km estimada em R$ 3,38 bilhões. Foi uma obra bancada com recursos do PAC, mas que será entregue à exploração pela iniciativa privada mediante concessão.
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