''É bom ser mulher!!!!
Porque podemos ser todas em uma só, fortes e corajosas, frágeis e acessíveis, mães, filhas, amantes, donas de casa, profissionais.
Somos sensíveis e analisamos no dia-a-dia a melhor maneira de demonstrar o que pensamos .
"Nosso cérebro dá conta de vários serviços ao mesmo tempo.
''Porque mulheres são como chocolates. Podem ser brancas ou negras. Podem ser doces ou amargas. Podem até virem acompanhadas, mas no final todo mundo gosta.''
Irene Mell
Homens opinam sobre as cores das peças íntimas das mulheres
Comprar calcinha e sutiã para o dia a dia é fácil. Conforto e
adequação ao vestuário são itens que as mulheres geralmente levam em
conta. Para seduzir, no entanto, muitas dúvidas surgem: como fazer
bonito e não errar? Obviamente o modelo deve valorizar as qualidades do
corpo, mas e com relação à tonalidade? Fomos às ruas de quatro capitais
do Brasil para descobrir qual cor de lingerie mais agrada o público
masculino. Conversamos com 90 homens em São Paulo, Rio de Janeiro,
Salvador e Porto Alegre. As cores mais amadas e odiadas você confere a
seguir.
A lingerie preta ficou em primeiro lugar na preferência dos homens e
recebeu 79 aprovações no total. Apenas três pessoas disseram não gostar e
oito responderam “tanto faz”. Para o bancário Daniel Mitraud, 37 anos,
de São Paulo, a lingerie preta guarda mistérios. “É como se ela me
envolvesse mais”, diz. O administrador Marcelo Scipioni, 31 anos, de
Porto Alegre, é direto ao declarar: “Deixa a mulher mais gostosa e
sensual.”
Não só os brasileiros se sentem estimulados com as peças escuras. Em
2010, um levantamento realizado pela empresa Dr. Beckmann com homens
britânicos mostrou que eles preferem suas mulheres em calcinhas e sutiãs
pretos.
Em segundo lugar aparecem calcinhas, sutiãs e espartilhos brancos ou em
tons de rosa. De Salvador, o publicitário Leandro Santana Filho, 32
anos, diz adorar – e outros 70 homens concordaram com ele. Para o
professor de educação física Willian Machado, 28 anos, de Porto Alegre, a
cor desperta fantasias. “Fica entre o puritano e o devasso”, diz.
Gabriel Botelli, 31 anos, analista de sistemas, aprecia o contraste das
cores e diz que as mulheres negras ficam mais bonitas com tecidos
claros.
Foto: Getty Images
Lingerie preta é a campeã absoluta. As brancas “inocentes” ganham o segundo lugar
Símbolo da sexualidade, o vermelho crava apenas o terceiro lugar na
pesquisa e divide algumas opiniões, mas agrada a maioria. 62 homens
disseram gostar, 13 são indiferentes e 15 rejeitam a cor. “Há uma linha
tênue entre o sexy e o ‘bagaceiro’. Muito mais tênue ela fica se a
lingerie for vermelha”, brinca Marcelo Magrisso, 38 anos, do Rio Grande
do Sul. A opinião do paulista João Sartore, 35 anos, é diferente: “Adoro
o jeito de safadinha que ela dá”, diz o designer.
CORES DE LINGERIE
GOSTO
É sexy
NÃO GOSTO
Não use!
INDIFERENTE
Tanto faz
PRETAS E ESCURAS
79
3
8
BRANCAS OU ROSADAS
71
4
15
VERMELHAS
62
15
13
TONS DE BEGE
12
51
27
Bege é a cor mais odiada pelos homens para peças íntimas. 51
declararam não gostar, 27 ficaram indiferentes e apenas 12 disseram
gostar. Neste caso, as declarações são ainda mais engraçadas – e
sinceras! “É um convite à impotência”, resume o gaúcho Eduardo Silveira,
de 31 anos. O conterrâneo Márcio Borges Fortes Cassol, 33 anos,
concorda:“Se eu fosse presidente, faria lobby para que o uso desse tipo
de lingerie virasse crime inafiançável”, brinca. E para finalizar,
Marcelo Magrisso aconselha: “Usem e fiquem à vontade. Só não contem
comigo”.
Quanto mais autônoma e livre de estereótipos, mais a mulher deseja como parceiro o homem que respeita seu jeito de ser
Mário não entendeu por que Maria Inês o abandonou, apesar dela ter lhe explicado...
“Ela se chateou porque eu a mandei jogar no lixo aqueles
biquínis que usava antes de me conhecer. Ora, ela agora tinha um homem,
não precisava ficar se exibindo! Mas ela falou que aquilo foi só a gota
d´água, que não aguentava mais o meu jeito de ser. Só porque falei que
mulher compromissada é diferente, tem que se comportar. Eu gosto muito
dela, não consigo entender por que precisa ficar quase nua, se já não
está só. Estávamos há quatro meses juntos, e eu até estava pensando em
casamento, mas para isso ela precisava tomar jeito. As amigas dela vivem
dando bola pra qualquer um, e o grupo fica falado, é claro! Mas acho
que a perdi, não queria. Gosto muito dela, mas Maria Inês não consegue
entender. Diz que sou um machista ultrapassado. Entrei no Facebook dela e
vi um monte de homens – que não sei quem são – dizendo todo tipo de
coisa, mandando beijinhos, não dá. Que segurança eu posso ter? Quis
saber quem eram esses homens e ela disse que eram os 'ex', depois deu
uma gargalhada. Estou sofrendo muito. Liguei para marcar de nos
encontrarmos, mas ela não topou. Diz que sou um machão e que quer
distância de machões.”
O homem machão está perdendo o prestígio. Ainda bem. Isso é bom para a
mulher e principalmente para ele próprio. Os homens estão esgotados,
exaustos de serem cobrados a corresponder a um ideal masculino
inatingível – ser forte, ter sucesso e nunca falhar. O famoso poema
"If", de Rudyard Kipling, começa assim: “Se és capaz de manter a tua
calma quando todos ao redor já a perderam e te culpam, se és capaz...”, e
continua enumerando infinitas condições para, no final, se o jovem for
capaz de tudo, dizer: “Então, és um homem meu filho.” Ufa! Com é difícil
ser homem!
Desde pequenos os homens são desafiados a provar sua masculinidade. O
masculino é uma tragédia coletiva. Nunca relaxar para sempre ser
considerado macho gera angústia nos homens, além de sentimento de
inferioridade entre eles. Na nossa sociedade, ser homem requer um
esforço sobre-humano. Ele é tão emotivo e sensível quanto a mulher, mas
aprende que para ser macho não pode chorar. Tem que ser agressivo, não
ter medo de nada e, mais do que tudo, ser competente no sexo, ou seja,
nunca falhar.
Como defesa contra a ansiedade que essas exigências provocam, e para
encobrir o sentimento de inferioridade por não alcançar o ideal
masculino, eis que surge o machão. Sempre alerta, seu objetivo é deixar
claro que despreza as mulheres, os homossexuais e é superior aos outros
homens.
Foto: Reprodução/Rede Record
Marlon: presença na lista de gatos
Até o movimento de emancipação feminina, há 40 anos, o machão ainda
agradava às mulheres. Os papéis sociais masculinos e femininos eram
claramente definidos: as mulheres se conformavam em apenas expressar
características de personalidade que lhes eram atribuídas, como
meiguice, gentileza, fragilidade e indecisão. Ocultando quaisquer outras
que estivessem ligadas à coragem, força e decisão – elas se mutilavam.
Sabiam que seriam repudiadas. Assim, valorizavam homens também
mutilados, isto é, os que só expressavam uma parte de si: força,
agressão, coragem, desafio e poder.
Acontece que, a partir daí, as mulheres passaram a se sentir no
direito de se mostrar por inteiro. Podiam ser fracas, mas também fortes,
dóceis e agressivas, indecisas e decididas, medrosas e corajosas,
dependendo do momento e das circunstâncias. O caminho natural foi
desejar se relacionar com homens que pudessem ser inteiros também, que
assim como elas não mais precisassem reprimir vários aspectos da
personalidade.
O machão perdeu seu lugar. Quanto mais autônoma e livre de
estereótipos, mais a mulher deseja como parceiro o homem que respeita
seu jeito de ser e suas escolhas. Ela valoriza o homem sensível, que não
tenha vergonha de chorar, de ficar triste, que fale dos seus
sentimentos e aceite seus próprios fracassos.
No que diz respeito à sexualidade, isso é evidente. A mulher gosta
cada vez mais dos homens que não têm vergonha quando falha a ereção e
que vão para o ato sexual não para cumprir a missão de macho, mas para
trocar com ela todos os prazeres que o sexo pode proporcionar.
Mulher deve reagir à violência verbal e psicológica e encontrar em si mesma a força para sair de uma situação abusiva
“Sempre tivemos muitas discussões. Fábio fica bastante irritado
quando contrariado. Xinga, me ofende, mas nunca tinha me agredido
fisicamente. Ontem, foi diferente. Ele estava com raiva de mim, me
empurrou e quando caí no chão me chutou. Levantei, mas ele me segurou
com força e me deu vários tapas no rosto. Sorte as crianças estarem
dormindo e não terem ouvido nada”. Este foi o relato que Eunice me fez
no consultório.
Compreender por que se tolera um comportamento intolerável é também compreender como se pode sair dele
A mulher foi extremamente maltratada pela violência do homem,
considerada banal no lar. No entanto, supunha-se que ela tinha que
aguentar e sofrer sem se queixar. Isso durou muito tempo. Na Idade
Média, por exemplo, o marido tinha o direito e o dever de punir a esposa
e de espancá-la para impedir “mau comportamento” ou para mostrar-lhe
que era superior a ela.
Até o tamanho do bastão usado para surrá-la tinha uma medida
estabelecida. Se não fossem quebrados ossos ou a fisionomia da esposa
não ficasse seriamente prejudicada, estava tudo certo. Hoje as esposas
ainda são vítimas de agressões físicas. Estima-se que nos Estados Unidos
a violência ocorra em pelo menos 3,4 milhões de lares. A mulher
americana é mais vítima de agressões físicas em casa do que de acidentes
de carro, assaltos e câncer somados. As estatísticas mostram que grande
parte dos ferimentos físicos e assassinatos ocorrem entre pessoas que
vivem juntas. No Brasil, uma em cada quatro mulheres sofre com a
violência doméstica.
Segundo um artigo do jornal americano New York Times, o comandante
das forças das Nações Unidas na Bósnia costumava se referir aos rugidos
noturnos das metralhadoras no centro de Sarajevo, em 1993, como
“violência doméstica”. Quase todos os homens que agridem suas mulheres
acreditam ter esse direito. Foi somente na década de 1970, com as
iniciativas das feministas, que se começou a estudar o impacto da
violência conjugal sobre as mulheres. Mesmo assim muitas continuam sendo
agredidas por seus maridos.
Numa relação amorosa é comum haver discussões, afinal, quando não se
está de acordo com alguém argumentar, mesmo de forma veemente, é um modo
de reconhecer o outro, de levar em conta que ele existe. Na violência,
ao contrário, o outro é impedido de se expressar, não existe diálogo. A
agressão física não acontece de uma hora para outra. Tudo tem início
muito antes dos empurrões e dos golpes. Um olhar de desprezo, uma
ironia, uma intimidação, são pequenas violências que vão minando a
autoestima da mulher.
A psicanalista francesa Marie-France Hirigoyen, que escreveu um livro
sobre o tema, diz que quando um homem estapeia sua mulher a intenção
não é deixá-la com um olho roxo, e sim de mostrar-lhe que é ele quem
manda e que ela tem mais é que ser submissa. O ganho visado pela
violência é sempre a dominação. Marie-France acredita que atos de
violência física podem não ocorrer mais de uma vez ou podem se repetir,
mas quando não são denunciados há sempre uma escalada de intensidade e
frequência. É suficiente, a partir daí, fazer lembrar a primeira
agressão por meio de ameaças ou de um gesto, para que, segundo o
princípio do reflexo condicionado, a memória reative o incidente na
vítima, levando-a a submeter-se novamente.
A violência física inclui uma ampla gama de sevícias, que podem ir
de um simples empurrão ao homicídio: beliscões, tapas, socos, pontapés,
tentativas de estrangulamento, mordidas, queimaduras, braços torcidos,
agressão com arma branca ou com arma de fogo. “Por meio de golpes, o que
lhes importa é marcar o corpo, arrombar o envoltório corporal da
mulher, fazer cair assim a última barreira de resistência, para
possuí-la inteiramente. É a marca do jugo, é o sinal que permite ler no
corpo controlado a aceitação da submissão.”, diz ela.
Não há necessidade do uso da força para subjugar o outro; meios
sutis, repetitivos, velados, ambíguos podem ser empregados com igual
eficácia. Atos ou palavras desse tipo são muitas vezes mais perniciosos
que uma agressão direta, que seria reconhecida como tal e levaria a uma
reação de defesa. Marie-France faz uma severa crítica aos psicanalistas
que consideram que as mulheres que permanecem na relação experimentam
uma satisfação masoquista em ser objeto de sevícias. “É preciso que esse
discurso alienante cesse, pois, sem uma preparação psicológica
destinada a submetê-la, mulher alguma aceitaria os abusos psicológicos e
muito menos a violência física.”
Antes do primeiro tapa as mulheres devem cortar o mal pela raiz,
reagindo à violência verbal e psicológica. Para isso é essencial que
elas aprendam a perceber os primeiros sinais de violência para encontrar
em si mesmas a força para sair de uma situação abusiva. Compreender por
que se tolera um comportamento intolerável é também compreender como se
pode sair dele.
E por que muitos homens agridem suas mulheres? Não é nada fácil para o
homem corresponder ao ideal masculino que a sociedade patriarcal lhe
exige – força, sucesso, poder. Homens e mulheres têm as mesmas
necessidades psicológicas — trocar afeto, expressar emoções, criar
vínculos. A questão é que perseguir esse ideal impede a satisfação das
necessidades, e a impossibilidade de alcançá-lo gera frustração. Está
aberto o espaço para a violência masculina no dia-a-dia. Essa ideia se
confirma quando os estudos mostram que a violência contra as mulheres
não é a mesma em todos os lugares. É muito maior onde se cultua o mito
da masculinidade.
O crime passional costuma ser uma reação daquele que se sente possuidor da vítima
Medeia era filha de Aetes, rei da Cólquida, que possuía o velocino
de ouro – lã de ouro do carneiro alado Crisómalo. Jasão e os argonautas –
tripulantes da nau Argo – buscavam o velocino para que ele retomasse o
trono de Iolco, mas Aetes o mantinha guardado por um dragão. Medeia
apaixonou-se por Jasão e se opôs ao pai para ajudá-lo, salvando a vida
do herói grego. Fugiu com ele da Cólquida em seu navio rumo à Grécia.
Após alguns anos juntos, Jasão a abandonou, para se casar com a filha
de Creonte, rei de Corinto, e permitiu que este a exilasse junto aos
filhos. Injustiçada e furiosa Medeia não poupa esforços para se vingar
de Jasão: envia um presente de casamento à noiva de Jasão – um vestido
envenenado que ao ser usado rompe em chamas e queima até a morte a
princesa de Corinto e o rei. Mas não é o fim. Ela mata os dois filhos
que tivera com Jasão.
O poeta grego Eurípedes escreveu Medeia, no século V a.C,. Usando o
exemplo dela mostrou a situação das mulheres da sua época, pouco
diferente da condição de escravas. Medeia renuncia a tudo para seguir
Jasão. O sentido de sua vida é amá-lo, e isso ainda representa a
situação de muitas mulheres. O “grande amor” é para elas o centro da
existência e absorve grande parte de suas energias.
A história de Medeia retrata o efeito destrutivo que a fixação no
“grande amor” pode ter. “Uma mulher que vê, no seu relacionamento
amoroso com o homem, um sentido exclusivo e um conteúdo da sua vida,
acaba de mãos vazias quando o seu homem se dedica a uma outra ou se ela
acredita não estar mais correspondendo aos ideais masculinos relativos à
beleza e à atração sexual. Tendo investido todas as suas energias no
relacionamento, ela agora se sente lograda”, diz Olga Rinne, que
escreveu um livro sobre Medeia.
Após terem se passado 2500 anos dos assassinatos múltiplos promovidos
por Medeia, uma chinesa que queria vingar-se do marido, por ele ter
pedido o divórcio, em março de 2006, explodiu o edifício em que ele
morava, informou a polícia de Leye (sul da China). Segundo um oficial, a
mulher de 37 anos comprou o explosivo por US$ 23 e, com a ajuda de três
cúmplices, detonou a carga no edifício residencial de três andares,
deixando um saldo de nove mortos e quatro feridos.
Mas os homens suportam menos ainda o abandono. A procuradora de justiça
de São Paulo, Luiza Nagib Eluf, afirma que as mulheres são menos afeitas
à violência física. “A história da humanidade registra poucos casos de
esposas ou amantes que mataram por se sentirem traídas ou desprezadas.
Essa conduta é tipicamente masculina. O crime passional costuma ser uma
reação daquele que se sente ‘possuidor’ da vítima. O sentimento de
posse, por sua vez, decorre não apenas do relacionamento sexual, mas
também do fator econômico. O homem, em geral, sustenta a mulher, o que
lhe dá a sensação de tê-la ‘comprado’. Por isso, quando se vê
contrariado, repelido ou traído acha-se no direito de matar”. Na vida
real há inúmeros casos de mulheres assassinadas por terem desejado o
término da relação.
Para a escritora uruguaia Carmen Posadas o ato do amante passional
que mata o ser amado que o abandona ou prefere outra pessoa é a
consequência da frustração de seu desejo de posse. A pessoa não suporta
mais seus sofrimentos e sente que sua única possibilidade de salvação é
cortar o problema pela raiz. Entretanto, a dinâmica da violência
vingativa é outra. O amante quer resolver uma questão que considera
pendente; não quer evitar o mal que o ameaça, mas “anular magicamente”
aquilo que na realidade já aconteceu. Delicia-se imaginando mil vezes o
castigo que infligirá ao ser amado ou ao rival que o roubou, inventando
roteiros de terror que não para de aperfeiçoar. O que move a vingança é o
ódio, fruto da rejeição. O amante rejeitado acredita que ninguém o
amará, nunca mais. Odeia a si mesmo e à pessoa que nele provocou esses
sentimentos. Como o ódio não tem o poder de refazer o passado, ele
confia à vingança futura.
Para o psicólogo americano David Buss, um refrão comum aos matadores
emitido para suas vítimas ainda vivas é: “Se eu não posso ter você,
ninguém pode”. As mulheres estão sob um risco maior de serem
assassinadas quando realmente abandonaram a relação, ou quando
declararam inequivocamente que estão partindo de vez. Buss aponta dados
importantes. Um estudo de 1333 assassinatos de parceiras no Canadá
mostra que mulheres separadas têm de cinco a sete vezes mais
possibilidades de serem assassinadas por parceiros do que mulheres que
ainda estão vivendo com os maridos. O tempo de separação parece ser
crucial.
As mulheres correm o maior risco nos primeiros dois meses depois da
separação, com 47% das mulheres vítimas de homicídio sendo mortas
durante esse intervalo, e 91% dentro do primeiro ano depois da
separação. Os primeiros meses depois da separação são especialmente
perigosos, e precauções devem ser tomadas por pelo menos um ano.
Os homens nem sempre emitem ameaças de matar as mulheres que os
rejeitam, claro, mas tais ameaças devem sempre ser levadas a sério. Eles
ameaçam as esposas com o objetivo de controlá-las e impedir sua
partida. A fim de que tal ameaça seja acreditada, violência real tem que
ser levada a cabo. Os homens às vezes usam ameaças e violência para
conseguir controle e impedir o abandono.
De qualquer forma, é fundamental que homens e mulheres, se quiserem
viver de forma mais satisfatória, reflitam sobre como se vive o amor na
nossa cultura, principalmente no que diz respeito à dependência amorosa e
possessividade. “Talvez uma mulher reaja com raiva e sede de vingança
contra o homem, contra a sociedade que a impeliu para esse papel; mas
como a expressão de raiva, da ira e dos sentimentos de vingança é
considerada ‘nada feminina’, é provável que ela volte sua agressão para o
interior e caia numa depressão autodestrutiva”, diz Olga Rinne.
Depois do crime, o criminoso passional não costuma fugir. Alguns se
suicidam, morrendo na certeza de que o ser amado não pertencerá a mais
ninguém. O medo de que ninguém nos possa proteger e a suspeita de ser
abandonado e rejeitado são os pesadelos da infância, mas também os
fantasmas da maturidade.
Corrimento exagerado pode indicar risco de infertilidade
Secreção vaginal alterada está entre os sintomas de doenças sexuais e de inflamações perigosas
O corrimento é visto por muitas mulheres como um incômodo sem
complicações sérias, possível de ser tratado com soluções caseiras. Há
quem simplesmente ignore o problema, na esperança do tempo resolver tudo
sozinho, o que é um erro grave.
A secreção vaginal exagerada e de consistência, cor e cheiro
alterados, pode estar associada a doenças sexuais e infecções perigosas,
com risco até de infertilidade.
Na maioria dos casos, o corrimento é resultado de um desequilíbrio na
flora vaginal. “Ali existem bactérias e fungos em equilíbrio. É algo
normal”, esclarece Maria Lúcia Iglesias, ginecologista do Hospital do
Servidor Público Estadual (HSPE).
Foto: Thinkstock/Getty Images
Secreção vaginal em excesso causa incômodo e pode dificultar a gravidez
Existem vários fatores que podem interferir neste equilíbrio. “Estresse e
baixa imunidade são dois deles”, aponta a médica. A baixa imunidade,
inclusive, pode ser resultado direto do estresse.
Quando há queda na imunidade, as bactérias e fungos da vagina podem se proliferar de forma acentuada, aumentando o corrimento.
“É natural haver secreção na vagina. O problema surge quando ele está
acima do normal, a ponto de causar desconforto ou odor forte”, afirma
Maria Lúcia.
Se a secreção tiver cor amarelada, é indício de infecção bacteriana.
Uma das bactérias que frequentemente causam o problema é a gardnerella.
“Ela provoca um odor acentuado”, relata a médica.
Candidíase
Já entre os fungos, o mais comum é a cândida. Ela faz parte do trato
vaginal, mas pode proliferar acima do esperado e causar candidíase. “A
doença causa uma secreção branca e pastosa, que provoca coceira,
irritação e dor”, detalha a médica.
É relativamente fácil tratar a candidíase. Na primeira vez que ela
acontece, o médico pode optar até por um antifúngico oral. Em caso de
reincidência, existem cremes para uso intravaginal. A candidíase, no
entanto, pode voltar.
“Essa é uma das principais dificuldades. Como a doença pode ter causas imunológicas, ela pode também se tornar crônica”, afirma.
Calças de tecido sintético
O corrimento também pode ser provocado pelo uso de calças de tecido
sintético. “Elas reduzem a ventilação”, esclarece Maria Lúcia. Outro
fator externo é o uso de absorventes. “A mulher começa a ter secreção,
então resolve usar absorvente. Mas ele agrava ou provocar uma reação,
que aumenta ainda mais a secreção. É um ciclo vicioso”, diz a
ginecologista.
Sabonetes, íntimos ou não, também podem causar reações. “Neutro é o
melhor, tem risco menor de gerar problemas”, recomenda a médica.
Doenças sexuais
Nos casos mais graves, a secreção exagerada pode ser resultado de
alguma doença sexualmente transmissível (DST). A mais comum se chama
tricomoniase, causada por um protozoário.
“Ela provoca uma secreção meio verde, meio amarelada, com odor muito
forte”, descreve a ginecologista. O tratamento da doença é simples,
feito com antibiótico oral e deve também ser dado ao parceiro da mulher.
Contudo, a tricomoniase é perigosa porque pode ser uma porta de
entrada para a clamídia, que causa infertilidade. “O protozoário da
tricomoniase é parecido com um espermatozóide. Ele tem uma cauda e pode
abrir caminho para a clamídia seguir pelo canal do colo do útero”,
explica. É como se a clamídia pegasse carona com o protozoário.
O problema é que a clamídia avança de forma silenciosa, quase sem
sintomas, e provoca uma infecção grave no útero. Somente quando a
situação já está grave demais, com inflamação acentuada, o corrimento se
torna mais forte e pode chamar mais a atenção da mulher.
“Essa inflamação é chamada de cervicite e pode atingir as trompas,
causando uma obstrução tubária”, alerta o ginecologista José Gonçalves
Franco Jr., presidente da comissão de reprodução humana da Febrasgo
(Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).
A cervicite pode dificultar a gravidez e, em alguns casos, o problema
pode se tornar definitivo. Quanto mais cedo for feito o diagnóstico e
iniciado o tratamento, maiores serão as chances de curar a doença.
Exames frequentes
A melhor forma de prevenir qualquer problema grave é usar
presertativo em todas as relações sexuais e, ao primeiro sinal de
desconforto, procurar um ginecologista. “O papanicolaou deve ser feito
regularmente”, recomenda Maria Lúcia.
Se houver suspeita de corrimento por desequilíbrio na vagina, os
médicos recomendam um exame chamado bacterioscopia. Ele permite
visualizar as bactérias em excesso e se há algum tipo que não faz parte
da flora normal da vagina.
Também é preciso investigar o que estaria causando o corrimento,
tanto fatores ambientais (roupas e sabonetes, por exemplo) quanto
imunológicos. Alguns médicos chegam a combinar o uso de remédios com
vitaminas e até recomendam uma visita a nutricionistas, para melhorar os
hábitos alimentares.
Cabeleireira usaria sua participação no evento para arrecadar verba para organização de caridade, mas morreu durante a corrida
Foto: Arquivo pessoal
Morte de Claire Squires foi a 11ª na Maratona de Londres desde 1981
A morte de uma mulher britânica durante a Maratona de
Londres, no domingo passado, gerou uma onda de doações de caridade em
seu nome, que já ultrapassam o equivalente a R$ 2,5 milhões.
A cabeleireira Claire Squires, de 30 anos, pretendia usar sua
participação na maratona para arrecadar algumas centenas de libras em
doações para uma organização de caridade em memória do irmão, morto em
2001, aos 25 anos. Ela desmaiou quando entrava na etapa final do
percurso de 42 quilômetros.
A morte de Squires foi a 11ª durante a Maratona de Londres desde o
início da disputa, em 1981. Ela havia aberto uma página em um site de
doações na internet para arrecadar fundos para a organização Samaritans,
para a qual sua mãe trabalhava como voluntária havia 24 anos.
Até o início da maratona, a página indicava 400 libras arrecadadas
(cerca de R$ 1,2 mil), mas a notícia de sua morte fez as doações
dispararem. Na tarde deste sábado, o site indicava mais de 75 mil
doações feitas em seu nome.
'Conforto'
Uma amiga de Squires, Nicola Short, disse à BBC que as doações estão
dando à família da cabelereira "um pouco de conforto". Ela disse ter
ficado surpresa com a notícia da morte da amiga, descrita por ela como
"incrivelmente em forma e saudável".
Em 2010, ela havia escalado o monte Kilimanjaro, na Tanzânia, para
arrecadar doações para outra organização de caridade. A
diretora-executiva da Samaritans, Catherine Johnstone, afirmou que a
organização está "estupefata" com a onda de doações após a morte de
Squires.
sexta-feira, 27 de abril de 2012
Bronca, limites, rotina, escola, brincadeiras: Educação de A a Z tem tudo que os pais precisam saber sobre estes e outros temas
Foto: Gabriel Silveira
Educação de A a Z tira dúvidas dos pais sobre conceitos fundamentais da criação dos filhos
Como impor limites às crianças? O uso da palmada é válido? Como agir ao dar bronca? Fazer elogios demais estraga? Como criar um filho único? Todos os dias, pais e mães se deparam com estas questões - e muitas outras - na aventura de educar seus filhos.
Pensando nisso, reunimos as dúvidas mais comuns da educação das crianças para respondê-las no especial Educação de A a Z.
Além de entender a importância da rotina, aprender a tirar dúvidas sobre sexualidade e se livrar da tendência à superproteção, pais e mães encontram aqui dicas para lidar com a competição entre irmãos, criar tempo de qualidade e muito mais.
Foto: Gabriel Silveira
Educação de A a Z: não importa a quantidade, mas a qualidade do tempo que os pais passam com os filhos
Entre elas estão: abdominais não diminuem a barriga, treinar em jejum não ajuda a emagrecer e resultado é sinônimo de disciplina
Abdominais ajudam a manter a forma, mas não reduzem a gordura da barriga
Quem inicia a malhação, além da bolsa da academia, costuma carregar uma bagagem de mitos ou informações erradas.
No mundo ideal, certamente os treinadores gostariam que cada aluno já
chegasse à academia sabendo algumas coisas básicas sobre atividade
física.
Pensando nisso, o iG Saúde conversou com
especialistas que deram preciosas dicas para você entender melhor o
papel da atividade física e assim potencializar seus resultados. 1. Treinar em jejum não ajuda a emagrecer. “É um
erro clássico. Quando você fica horas sem comer, cai o nível de
"combustível" (ele se chama glicogênio) necessário para manter o corpo
funcionando. Se estiver em baixa, será extraído dos músculos, provocando
perda de massa muscular e fraqueza”, explica o professor de educação
física Carlos Henrique Augusto, supervisor técnico da Run For Win
Assessoria Esportiva, de São Paulo. Além disso, a fome em conjunto com a
exaustão pode levar a tonturas e desmaios. 2. Milagres não acontecem: você não resolve em pouco tempo o que levou anos para acumular.
“Se você esteve muito tempo parado, não adianta voltar querendo malhar
todos os dias. Não dá para querer compensar o tempo perdido. É
necessário descansar entre um treino e outro. Quem não respeita isso e
está fora de forma, pode acabar se lesionando e parando por um tempo
ainda maior”, alerta o treinador e atleta Nelson Evêncio, presidente da
Associação de Treinadores de Corrida de Rua de São Paulo (ATC-São
Paulo).
A busca pelo resultado rápido não é saudável. “É comum ver gente
fazendo um esforço fenomenal para atingir determinado objetivo e não
conseguir manter o que foi conquistado depois. A mudança deve ser
gradual”, orienta o personal trainer e fisiologista Givanildo Matias,
diretor da rede Test Trainer, de São Paulo. 3. Correr de moletom para queimar mais calorias não adianta nada.
Você não queima gordura, apenas perde líquido. O excesso de roupa só
prejudica a malhação, já que traz desconforto em função da alta
temperatura, tornando o treino menos eficiente. “Perder líquido em
excesso durante o treino é submeter-se às consequências da desidratação e
ainda não obter o resultado esperado”, diz o treinador da Run for Win. 4. Correr na esteira não é correr. “É praticamente
saltar no lugar, com a esteira rodando sob os pés. Correr significa
empurrar o peso do seu corpo para frente. E para isso os músculos da
parte posterior da coxa e glúteos fazem um grande esforço”, diz o
personal trainer Carlos Klein, da equipe Movimente-se, de São Paulo.
Segundo ele, na esteira isso não acontece, pois o equipamento faz o
trabalho de empurrar o pé para trás, economizando energia para os
músculos. “Se quer realmente correr, vá para a rua, o parque ou a
praia”, sugere. 5. Aquecimento na esteira não prepara o corpo para o treino de musculação.
De acordo com Klein, o ideal é fazer um alongamento dinâmico, com
movimentos semelhantes aos da ioga, que aquecem, aumentam a
flexibilidade e deixam o corpo preparado para pegar pesado. 6. Treinos de musculação não deixam a mulher com corpo de fisiculturista.
“Ouço muita garota dizer que não treina musculação porque não quer
ficar forte igual a um homem. Isso não vai acontecer, a não ser que você
queira. Os treinos de musculação podem ter vários objetivos e são
montados levando em conta diversas variáveis como intensidade,
quantidade de repetições, velocidade das repetições, número de séries,
tempo de intervalo entre as séries e quantidade de exercícios para
determinada musculatura”, explica o treinador Carlos Henrique Augusto.
Excessos no final de semana podem comprometer seus esforços
7. Sim, o final de semana pode estragar tudo. Para o
treinador Givanildo Matias, os sábados e domingos costumam ser os
vilões dos bons resultados. “As pessoas acabam aumentando o consumo de
calorias com pizza, churrasco, bebida, doces, massas, além de diminuir
o gasto calórico“ 8. Não, abdominais não diminuem barriga. Esses
exercícios, ainda que realizados com ajuda das “máquinas milagrosas”,
mobilizam, no momento do exercício, a musculatura do abdome e não a
gordura localizada. “Se você espera ter uma barriga chapada, faça
exercícios gerais de musculação (abdominais também) e não esqueça os
aeróbios, como corrida e caminhada”, diz o treinador Carlos Henrique
Augusto. 9. Para queimar gordura o treino precisa ter intensidade.
“Pode caminhar o quanto quiser ou até correr longas distâncias, mas o
método mais eficiente para queimar gordura é acelerar o ritmo e chegar
perto da exaustão, em pequenos intervalos de muita intensidade”, diz o
personal da Movimente-se. 10. Correr de tênis não necessariamente minimiza o impacto nas articulações.
“O calçado de corrida pode muitas vezes provoca um tipo de pisada com o
calcanhar que acaba gerando mais impacto no corpo. Muita gente tem
experimentado a correr descalço ou com calçados minimalistas, do tipo Five Fingers, que levam a uma pisada frontal, menos impactante ao corpo”, explica o personal Carlos Klein. 11. Disciplina é fundamental para ter resultados. A
atividade física deve estar inserida na agenda de quem realmente busca
resposta aos exercícios. “Durante a semana vários obstáculos aparecem,
mas você nunca deve perder o foco. Comprometa-se com o que pode cumprir e
siga a risca”, sugere o diretor da Test Trainer. 12. É preciso mudar o estilo de vida e mexer na causa do problema.
Quem realmente pretende ter uma vida saudável e um bom resultado
estético não pode se limitar apenas ao momento da atividade física.
“Algumas pessoas saem da academia e têm coragem de pegar um elevador
para subir apenas um lance de escada ou tirar o carro da garagem para ir
à esquina comprar pão. Mexa-se e cuide-se o dia todo”, orienta Matias.
Em artigo científico especialistas dizem que estas substâncias poderiam produzir efeitos biológicos capazes de gerar a doença
Pesquisadores americanos advertiram que a ação dos suplementos antioxidantes na prevenção ao câncer não foi comprovada cientificamente, afirmando, inclusive, que seu consumo poderia ser contraproducente.
Segundo uma equipe de cinco cientistas liderada por María Elena
Martínez, da Universidade de San Diego (Califórnia, EUA.), os supostos
benefícios anticancerígenos de suplementos como o betacaroteno ou das vitaminas C e E são "em sua maioria um mito".
Em um artigo publicado nesta quinta-feira na revista britânica
"Journal of the National Câncer Institute", os especialistas assinalam
que estas substâncias poderiam produzir efeitos biológicos capazes de
gerar um câncer.
O consumo de antioxidantes se generalizou desde que os mesmos se
popularizaram como alimentos capazes de retardar o envelhecimento e
prevenir doenças como o câncer, já que poderiam ter um papel importante
no processo de oxidação das células.
No entanto, segundo Martínez, as pessoas estão sendo "enganadas pelas
mensagens dos fabricantes de suplementos", que sublinham os benefícios
de seus produtos para a saúde, principalmente a prevenção do câncer.
"A suposição de que qualquer suplemento dietético é seguro sob
qualquer circunstância e em qualquer quantidade não são sustentadas
cientificamente", ressaltou Martínez.
Nos últimos anos, inúmeros estudos feitos em animais apoiaram a
teoria de que estes suplementos poderiam reduzir o risco do
desenvolvimento de um câncer, mas suas conclusões ainda não foram
confirmadas em testes aleatórios, a "prova de ouro" na medicina,
argumentou Martínez.
Só um pequeno número de suplementos foi submetido a este tipo de
prova, sendo que alguns estudos científicos concluíram que, de fato, o
risco de se desenvolver um câncer aumentou após o consumo desses
antioxidantes.
"A ingestão de antioxidantes exógenos pode ser uma faca de dois
gumes. Na verdade, estes componentes poderiam gerar um efeito contrário
(pró-oxidante) e interferir em alguns processos protetores do organismo,
como a indução de apoptose", afirmaram os pesquisadores no artigo.
A apoptose, conhecida como morte celular programada, é um processo em que as células problemáticas provocam sua própria morte.
Diversos estudos experimentais demonstraram que os diferentes tecidos
do organismo respondem de maneira diferente a cada um dos nutrientes e,
por isso, "um antioxidante associado à prevenção do câncer poderia
causar um dano em outros", conclui o artigo
Elas estudam, fazem bicos, batalham e estão transformando a relação com as “patroas”
A mineira de Belo Horizonte Luana Tolentino tem 28 anos, é professora de História e
pesquisadora na Universidade Federal de Minas Gerais. Ama o que faz e acredita
que tinha vocação para professora “desde sempre”. Política, literatura e música
são paixões. Na adolescência, já lia Antonio Callado, Clarice Lispector e
Dostoievsky. Construir esse currículo, no entanto, não foi nada fácil. Dos 13
anos até entrar na faculdade Luana se bancou trabalhando em ‘casas de família’,
como mensalista, faxineira e babá.
Vera Godoy
A professora de História e pesquisadora Luana Tolentino se bancou trabalhando em casas de família por anos
“Matei e enterrei essa fase porque não é minha vida”, conta.
“Eu não vejo problema no trabalho doméstico. O que eu não quero lembrar é a
forma como fui tratada. É uma profissão que envolve muita dor e sofrimento”,
diz a historiadora.
Luana participou das pesquisas da Rede Globo para a
construção de um dos núcleo de protagonistas da novela “Cheias de Charme”, o de
empregadas domésticas. Mas prefere não assistir à novela. Para ela, o trabalho doméstico
foi um caminho para chegar à sua verdadeira vocação: “foi uma escolha pessoal
para não aceitar a posição de vítima”, ressalta.
As empregadas domésticas da novela, Penha (Taís Araújo),
Rosário (Leandra Leal) e Cida (Isabelle Drummond) são amigas e fazem um pacto
para subir na vida. Seu lema: “dia de empreguete, véspera de madame”.
Nas redes sociais, o fato de apenas Penha ser negra gerou críticas.
“Eu me sinto incomodada de reivindicar papéis de empregada para negras. Já teve
muita empregada doméstica negra na televisão brasileira. Concordo com a crítica
a brancas nesses papéis, mas o que eu quero mesmo é reivindicar mulheres negras
fazendo papéis de médicas, enfermeiras, professoras, empresárias”, diz Luana.
Ela é a favor das empregadas como protagonistas. “Se tem uma empregada na
trama que bate o pé, que não aceita ser maltratada, acho positivo, embora eu
ainda ache pouco. As empregadas sempre foram representadas de forma subserviente,
submissa”, conta.
Nos primeiros capítulos, Penha já deixou claro que não
pretende ‘engolir sapo de patroa’ e se sujeitar. A historiadora se
identifica com a atitude: em uma das casas em que trabalhou na
adolescência, trabalhava tanto que chegava a ficar com os pés rachados e
feridos, ainda assim foi acusada de mexer nas coisas da patroa e fazer
“corpo mole”. Não teve dúvidas: pediu demissão.
Noveleira,
a empregada doméstica Maria Solange Nunes de Souza, 47 anos, está
adorando “Cheias de Charme”, apesar de ter consciência dos limites da
ficção. “As meninas na novela quase não fazem nada, né? Nossa vida é bem
mais puxada”, diz a carioca. Ela ri também do figurino ousado de
Rosário. “É meio extravagante, meio periguete. Dá problema na casa em
que você está trabalhando, com certeza. Pega muito mal”. E não poupa
críticas à Cida – “não pode ser banana como ela, que é boazinha e
puxa-saco demais para segurar a onda do emprego”. Mas aprova Penha. “Ela
tem filho, marido encostado, é mais real. É esquentada, mas é ela
mesma. Eu sou mais como ela. Se tiver aguentar desaforo num emprego, eu
não fico”. Mas hit mesmo é a expressão “empreguete”. “É maneiro! Não
gosto quando as patroas falam ‘a minha empregada’. Secretária do lar e
ajudante eu gosto, valoriza mais a empregada.”
Divulgação
Penha, Cida e Rosário fazem um pacto para subirem de vida juntas em "Cheias de Charme"
Luana também se incomoda com a expressão “minha empregada”.
“Há uma relação de posse que não existe em nenhuma outra profissão, como se
fosse uma reminiscência da relação ‘casa grande e senzala’ que insistimos em perpetuar. Você
pode perceber que até as crianças falam isso. Eu ouvi da filha de 10 anos de
uma patroa. ‘Você é minha empregada, se não estiver satisfeita tem gente
querendo trabalhar’”.
Para o sociólogo Jefferson Belarmino de Freitas, a expressão
“secretária do lar” termo era usado para “sofisticar” a figura da empregada
doméstica, para mostrar que ela tinha mais habilidades do que limpar a casa. “Nos
manuais de etiqueta, você percebe o ideal da doméstica perfeita: uma ‘governanta
alemã’, instruída, cheia de habilidades, que saiba receber visitas. Mas a empregadora
não quer pagar nem mesmo os poucos direitos trabalhistas”, afirma Belarmino, cuja
tese de mestrado foi “Desigualdades em distâncias - gênero, classe, humilhação
e raça no cotidiano do emprego doméstico”. Ele é pessimista sobre o impacto das
novelas. “São tramas feitas para entreter, não são críticas. Acabam repetindo a
velha fórum da comédia da vida privada”, diz.
Apesar de também achar a trama global um pouco fantasiosa, Aurineide
Jesus Viana, 35 anos, está gostando da novela. Casada e mãe de uma menina de 9
anos, ela trabalha como faxineira para pagar a faculdade de fisioterapia. “O
jeito da Penha bater de frente com a patroa não existe. Você responde ‘tudo
bem’ e obedece, porque precisa do dinheiro. Faxineira, no dia a dia, não tem
essa história de musa, de ficar trocando de roupa. Mesmo assim, a novela está
legal”, acredita. Neide está mais para empregada do que para ‘empreguete’. “Não
vejo problema nenhum no nome da profissão. Você é empregada de alguém quando
está fazendo uma faxina”, diz.
Neide já trabalhou de domingo a domingo, mas agora voltou a poder
dispor dos finais de semana e se prepara para o estágio, que vai ter que fazer
no final da faculdade. “Minhas patroas são legais. Quando eu falei da faculdade
ficaram felizes e me deram a maior força. Nenhuma ficou triste de me perder.”
Neide acha que o mercado está melhor. “Passou
no “Fantástico” que daqui a uns dias, doméstica não vai existir. Só vai restar
diarista, que eu acho melhor. É um trabalho mais valorizado.” Talvez o caminho
não seja de ‘empreguete à madame’, mas para quem já trabalhou como metalúrgica,
doméstica e operária, passar de faxineira a fisioterapeuta é só uma questão de
tempo.
Após noite de confusão entre passageiros e companhias aéreas, mau tempo continua afetando o aeroporto; 63 voos sofreram atrasos
A Empresa de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero)
informou nesta sexta-feira que a situação no aeroporto de Congonhas,
zona sul de São Paulo, está normalizada. A informação foi dada após uma confusão entre passageiros e companhias aéreas na quinta-feira (19).
Foto: HÉLIO TORCHI/AE/AE
Passageiros são vistos dormindo em bancos do terminal de Congonhas, zona sul de SPNo entanto, o mau tempo persiste afetando os voos do
terminal. Até as 14h, segundo último boletim da Infraero, 63 (50%) dos
126 voos programados sofreram atrasos. Cinco foram cancelados. Desde a
abertura, às 6h, pousos e docolagens são operados normalmente, porém por
instrumentos.
A assessoria de imprensa do aeroporto afirma que é esperada grande
movimentação no local durante o dia de hoje em função do feriado
prolongado do Dia do Trabalho, que acontece até a próxima terça-feira
(1º), e por ser sexta-feira, dia em que o aeroporto costuma registrar
maior índice de voos. Trânsito
A fluidez de veículos também foi diretamente afetada pela chuva que
atinge a capital nesta manhã. Às 9h30, segundo medição da Companhia de
Engenharia de Tráfego (CET), o trânsito alcançou índice recorde aos 168 km de vias congestionadas. O recorde anterior foi registrado no último dia 16, com 125 km.
Segundo a CET, foram registrados nesta manhã pelo menos três
acidentes com vítimas, quatro quedas de árvores, 21 semáforos apagados e
outros 11 seguem em amarelo intermitente. Esses fatores, a véspera de
feriado e o excesso de veículos contribuem para a lentidão na cidade,
diz o órgão de trânsito.
Foto: Divulgação
Filas nos guichês do aeroporto de Congonhas, nesta sexta-feira, em São Paulo
Colisão entre caminhão e carros ocorreu durante operação da Polícia Militar. Pelo menos sete pessoas ficaram feridas
Um repórter e um cinegrafista do Grupo Bandeirantes do
Rio Grande do Sul morreram na manhã desta sexta-feira (27) em acidente
ocorrido na ERS-122, em Farroupilha, enquanto acompanhavam uma operação
da Polícia Civil no município.
Foto: Ricardo Wolffnbuttel/Agência RBS/AE
Carro em que estavam os jornalistas muito danificado após a colisão
Segundo a Band, morreram no acidente o repórter Enildo Paulo Pereira,
conhecido como Paulão, que comandava o programa Polícia em Ação, e
o repórter cinematográfico Ezequiel Barbosa.
O veículo em que estavam os jornalistas foi atingido por um caminhão
desgovernado no km 47, em local da rodovia conhecido como 'curva da
morte'.
O acidente envolveu três viaturas policiais e três carros com equipes
de grupos de comunicação. Pelo menos sete pessoas ficaram feridas.
Casimiro de Abreu realiza 1º Campeonato de Tunning no Parque de Exposições
Disputa de som automotivo, veículos rebaixados,
pinturas estilizadas são alguns dos elementos que poderão ser apreciados
no 1° Campeonato de Tunning de Casimiro de Abreu. O evento será
realizado no domingo, dia 6 de maio, das 10h às 19h, no Parque de
Exposições da cidade. A entrada é gratuita. O evento tem apoio da
Prefeitura de Casimiro de Abreu, por meio da Secretaria Municipal de
Turismo e Eventos. O campeonato de "tunnados" é realizado em etapas
nacional, regional e municipal. A competição é dividida em diversas
categorias. De acordo com especialistas em carros transformados, são
muitas as características dos veículos exibidos. A mostra casimirense
contará com a participação de vários competidores do Estado do Rio de
Janeiro, e aproximadamente 200 automóveis. Segundo os organizadores,
estão sendo esperadas mais de cinco mil pessoas para prestigiarem o
evento.
Guardas Municipais de Casimiro de Abreu participam de curso de Cão Farejador
Os guardas municipais do Departamento de Operações
de Cães da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Civil de Casimiro de
Abreu participaram de um curso para cão farejador. A Guarda Municipal
possui um núcleo que lida com animais treinados há um ano. O curso durou
três dias no canil da cidade e foi encerrado na sexta-feira (27). O
objetivo foi adestrar os cães para o farejamento de entorpecentes e
capacitar os guardas no comando de ordens específicas com seus cães de
trabalho. O curso foi promovido pela Academia de Cães de Faro e
Funções (ACAFF), de Presidente Prudente, São Paulo. A academia atua no
mercado há 14 anos na aplicação de técnicas atualizadas de adestramento
nas áreas de resgate, busca em matas com cães, guarda e trabalho
policial com aplicação do faro para a localização de drogas ou
entorpecentes. As aulas foram ministradas pelo Instrutor de Faro, André
Herran. Participaram do treinamento nove cães das raças Pastor Belga
de Malinois, Pastor Alemão e Rottweiler, que foram avaliados em vários
quesitos. Os treinadores observaram o instinto de caça, comportamento,
postura e personalidade física, para depois o cão ser selecionado para a
área em que irá atuar. Foram capacitados o diretor do Departamento de
Operações com Cães Marcus Accioli e os guardas municipais Ariana da
Silva, Rômulo Bruno, Welinton Bento, Elton Araújo, Wempio Marins, Luis
Costa e Cláudio da Silva.
quinta-feira, 26 de abril de 2012
Reduzir pela metade o consumo de sal já seria o suficiente para diminuir em 15% dos casos de AVC e em 10% os de infarto
Foto: Getty Images
Hipertensão: medir a pressão é a única forma de confirmar o problema
A cada ano, 315 mil pessoas morrem no Brasil por doenças
cardiovasculares. Mais da metade dessas mortes, aponta a Sociedade
Brasileira de Cardiologia (SBC), seria evitada com o diagnóstico precoce
e o tratamento da hipertensão. E os especialistas vão mais longe no alerta:
“O brasileiro come, em média, de 12g a 15g de cloreto de sódio (sal)
por dia. Se conseguisse diminuir esse total para 5g, isso seria
suficiente para reduzir em 15% os casos de AVC (acidente vascular
cerebral) e em 10% os casos de infarto” diz o cardiologista Carlos
Alberto Machado, diretor de Promoção da Saúde Cardiovascular da SBC.
A influência do estilo de vida no surgimento da hipertensão, em
especial da alimentação, inspirou o mote da campanha deste ano da
entidade para o Dia Nacional de Prevenção e Combate à Hipertensão
Arterial, celebrado hoje (26).
Com o slogan “Menos sal, menos pressão, mais saúde” a SBC espera
aumentar a conscientização sobre a importância de reduzir o consumo de
sal na alimentação.
“Um pão francês tem 337mg de sódio. Ao comer três unidades você já
comeu mais da metade que pode comer o dia todo. As pessoas precisam
aprender a ler os rótulos dos alimentos e a escolher entre produtos
semelhantes os que contêm menos sódio na composição” adverte o
cardiologista.
Hoje a hipertensão atinge 30 milhões de brasileiros – cerca
de 30% da população adulta. Desse total, a maioria sequer sabe que tem
pressão alta e por isso não faz qualquer tipo de controle. Uma
realidade, explica Machado, que interfere diretamente nas estatísticas
de saúde do País, já que a hipertensão é responsável por 80% de todos os
casos de AVC e 47% dos infartos, fatais ou não, em todo o mundo.
Mas, como identificar que algo não anda bem na pressão sanguínea e
evitar que ela evolua para algo mais grave? Ao contrário do que muita
gente pensa, os sintomas comumente associados à hipertensão – dor de
cabeça, cansaço, tontura, sangramentos no nariz e pernas inchadas, entre
outros – não podem ser considerados um indicativo da doença porque nem
sempre há uma relação de causa e efeito entre a ocorrência deles e a
hipertensão.
“A única forma de identificar pressão alta é fazer a medição. Para
quem não tem problemas de saúde, a recomendação é ter a pressão medida a
cada seis meses. Quem descobre que tem, deve procurar um médico e
iniciar um acompanhamento que pode incluir mudanças no estilo de vida,
na alimentação e, caso necessário, o uso de medicamentos.”
A pressão alta pode comprometer o funcionamento de todo o organismo,
especialmente do coração, do cérebro, dos rins e dos olhos. Além
contribuir para a ocorrência de infarto e AVC, a doença pode agravar os
quadros de arritmia – alteração do ritmo normal do coração.
“Em pessoas que já têm arritmias, a hipertensão agravará de forma
importante o quadro, fazendo com que a arritmia se manifeste mais
frequentemente, em alguns casos, se torne crônica” explica o
cardiologista Adalberto Lorga Filho, presidente da Sociedade Brasileira
de Arritmias Cardíacas
Luísa Lina Villa foi a primeira a descobrir que o vírus é o causador da maioria dos cânceres de colo de útero
Foto: Divulgação
Luisa Lina Villa declarou guerra ao HPV
Em tempos de Segunda Guerra Mundial, a matriarca dos Villa
não conseguiu estudar. Com o marido e duas filhas no encalço, a mãe
deixou a Itália e veio ao Brasil tentar uma nova vida. Após uma longa
viagem de navio, olhou para a caçula Luisa Lina Villa e disparou a
frase: “a educação será a sua missão”.
A menina obedeceu e fez dos livros e pesquisas seu objetivo de vida. E
quando virou adulta utilizou todo o conhecimento adquirido nas escolas
brasileiras para declarar uma nova guerra, desta vez pessoal.
O alvo escolhido pela italiana, naturalizada brasileira e bióloga pela USP foi o HPV.
As pesquisas pioneiras de Luisa, iniciadas na década de 80, mudaram a
forma da comunidade médica tratar as mulheres vítimas de câncer de colo de útero.
Seus dias e noites analisando as moléculas cancerígenas no microscópio
mostraram que o vírus, até então desconhecido, era o causador de uma das
doenças que mais mata no País.
Só em 2012, o câncer de colo do útero deve fazer 30 mil novas vítimas
(projeta o Instituto Nacional do Câncer). Descobrir que estes tumores
tinham relação com o HPV, em mais de 40% dos casos, foi o primeiro passo
para fazer do Papanicolaou um exame de rotina importante para
resguardar a saúde da mulher. Os achados de Luisa também foram o embrião
da vacina contra o HPV, hoje disponível na rede particular do País, mas
que protege pacientes do mundo todo contra este tumor maligno.
Para travar esta batalha, Luísa conta que precisou ser movida a
paixão. “Um amor incondicional à ciência”, define. Namoro antigo mesmo,
que foi despertado aos 11 anos de idade, quando surpreendeu os pais ao
fazer um pedido especial.
Sapos, apêndice e vestibular
Luisa estava sentada à mesa, esperando o jantar, quando o pai
comunicou à família que precisaria fazer uma viagem aos Estados Unidos.
Disse que ficaria alguns dias longe de São Paulo mas que poderia trazer
dois presentes, um para a filha mais velha, amante de poesia, e outro
para a mais nova, que era fissurada pela natureza.
“Minha irmã pediu goma de mascar, cadernos e bonecas, relíquias por
aqui”, lembra. Já Luísa disparou: “papai, quero um microscópio”.
“Desde muito pequena, eu tinha uma curiosidade latente em saber o que
tinha dentro das coisas. Estava na primeira série do ensino fundamental
e a professora havia ensinado o que era célula. Pirei com aquela
informação”, conta.
“Imaginei que com um microscópio eu poderia saber como tudo
funcionava. Quando meu pai trouxe o presente encomendado, comecei a
minha investigação.”
A primeira coisa que Luisa observou foi uma gota d’água. Depois, um
pouquinho do sangue tirado do indicador do pai. Em seguida, a casca da
cebola, o tecido do vestido da mãe, os insetos. Os restos de comida, os
sapos e muitas coisas passaram por aquela lente que aumenta (só) 5 vezes
o tamanho das coisas. Os anos também passaram e a paixão pelos bichos,
células e fibras aumentava.
Aos 14 anos, Luísa precisou tirar o apêndice e, em vão, a mãe tentou
convencê-la a deixar o órgão no hospital. “Levei para casa. Guardei no
formol. E vasculhava quase que diariamente aquelas fibras, aqueles
tecidos, aquelas maravilhas”, diz, gargalhando, ao lembrar da
insatisfação da família em ter de conviver com todos aqueles vidros
espalhados pela casa. A irmã dizia que os vidros só continham
"tranqueiras”, mas Luisa garantia que se tratavam de “micro-organismos
importantíssimos para a vida”.
Fazendo jus ao pedido da mãe de ter a educação como tarefa, Luísa se
preparava para escolher a carreira no vestibular. Biologia já era a
alternativa certa, mas ficou ainda mais evidente em uma aula de ciências
naturais.
“A professora explicou na aula sobre o DNA. Fiquei maravilhada e não queria fazer outra coisa na vida.”
Escolhas e propostas
Luísa Lina já estudava brincando – e não teve muita dificuldade para
em 1969 entrar na USP. Naturalizou-se brasileira porque sonhava em dar
aula em escola pública e este era uma condição do governo para contratar
professores. De forma voluntária – e para ir se acostumando – dava aula
de educação sexual para alunos do período noturno em um colégio do
Estado.
Com apenas 17 anos, ela já percebia que os homens e mulheres, de
qualquer idade, tinham uma dificuldade enorme em conhecer o próprio
corpo, assimilar o autocuidado e a importância das relações sexuais
seguras. Condutas essas que se mostrariam tão influentes, anos mais
tarde, quando Luisa passou a pesquisar o HPV e constatou sua transmissão
via sexo sem camisinha.
Nos corredores da USP, Luisa dividia essas experiências com a turma
da Biologia, majoritariamente feminina. “Eram tantas mulheres que o
pessoal da Física e da Medicina Veterinária (na época ainda com mais
meninos do que meninas) só passava o intervalo com a gente”, diz. Entre
um lanche e outro, ela começou um namoro com um dos futuros
veterinários, relação que durou 13 anos e virou casamento.
“Meu grande parceiro, até hoje. Depois de casados, ficamos 6 anos
juntos e acabamos nos separando. Com 35 de idade, quando as minhas
amigas pensavam no segundo filho, eu estava me divorciando sem ter
experimentado a maternidade.”
“É claro que eu sei o quanto a paixão pela ciência influenciou neste
meu destino. Já confrontei várias vezes estes caminhos que trilhei, mas
quando olho para trás, honestamente, não vejo como ter feito diferente”,
diz com toda sinceridade Luísa Lina Villa.
Se do útero da pesquisadora não sairiam herdeiros, com o seu trabalho
Luísa conseguiu deixar um importante legado. Suas pesquisas sobre
microorganismo estavam a todo vapor, mas mudaram de foco quando ela
recebeu um convite do Instituto Ludwig, uma das instituições
internacionais mais importantes do mundo, para pesquisar “como era o
câncer por dentro”.
“Eu nunca tinha parado para pensar nesta doença, mas a proposta me
aguçou. Escolhi como foco o câncer de colo de útero e o de pênis e,
desde então, estou debruçada neles”, pontua a pesquisadora
Dona Emozilia
O ano era 1982, as investigações começaram e no final daquela década a
relação entre HPV, sigla misteriosa, e câncer de colo de útero e pênis
já estava estabelecida, comprovada e publicada nas revistas médicas mais
importantes. Luisa passou a ser convocada pela indústria farmacêutica
para ajudar na busca por uma vacina preventiva. Na metade dos anos 90,
as doses já estavam prontas e a bióloga cientista referenciada nos
quatro quantos do mundo por ter conduzido a maior parte das pesquisas no
Brasil.
Nos anos 2000, Luisa e sua equipe começaram a investigar a associação
entre os tumores malignos na língua e pescoço e o mesmo vírus. Pela
primeira vez, a relação entre sexo oral desprotegido e câncer na boca
começou a ser divulgada.
A guerra contra o HPV, todos sabem, não foi vencida. Luísa ainda
espera que a vacina chegue à rede pública brasileira, que as mulheres
usem mais camisinha, que façam o Papanicolaou regularmente e que os
homens não precisem ter o pênis amputado após um diagnóstico de câncer –
quatro em dez causados pelo HPV – em estágio avançado. Mas ela sabe que
a sua história é de sucesso e, a todo momento, diz que nenhuma história
se faz sozinha.
Dedica as conquistas à mãe e sua frase “a educação é sua missão”, a
todos os envolvidos nas pesquisas que ela já fez, aos concorrentes que
trouxeram mais dados aos ensaios clínicos e ao professor da USP Ricardo
Brentani (falecido em 2011 e um dos principais nomes da ciência
internacional).
“Foi ele quem me soprou no ouvido, lá nos anos 1980, que a comunidade internacional estava de olho no HPV”, diz Luisa.
A pesquisadora elencou uma lista de nomes e, com entusiasmo, citou
dona Emozilia, faxineira do Ludwig, com quem a bióloga testava os
questionários sobre hábitos de vida antes de aplicá-los na população
participante das pesquisas.
“Ela que me direcionava, dizia que as perguntas eram difíceis, fáceis, aplicáveis ou não.”
Luisa também coloca como peças fundamentais na história o pai e seu
primeiro microscópio, que ainda está na sua penteadeira, com algumas
partes faltando, mas com capacidade de mostrar como é importante
conhecer as coisas por dentro.
Foto: Eduardo Cesar/Fotoarena
Mariana Diniz, 28 anos, pesquisa fórmulas contra o HPV desde os 20 de idade