Corrimento exagerado pode indicar risco de infertilidade
Secreção vaginal alterada está entre os sintomas de doenças sexuais e de inflamações perigosas
O corrimento é visto por muitas mulheres como um incômodo sem complicações sérias, possível de ser tratado com soluções caseiras. Há quem simplesmente ignore o problema, na esperança do tempo resolver tudo sozinho, o que é um erro grave.
A secreção vaginal exagerada e de consistência, cor e cheiro alterados, pode estar associada a doenças sexuais e infecções perigosas, com risco até de infertilidade.
Na maioria dos casos, o corrimento é resultado de um desequilíbrio na
flora vaginal. “Ali existem bactérias e fungos em equilíbrio. É algo
normal”, esclarece Maria Lúcia Iglesias, ginecologista do Hospital do
Servidor Público Estadual (HSPE).
Foto: Thinkstock/Getty Images
Secreção vaginal em excesso causa incômodo e pode dificultar a gravidez
Existem vários fatores que podem interferir neste equilíbrio. “Estresse e
baixa imunidade são dois deles”, aponta a médica. A baixa imunidade,
inclusive, pode ser resultado direto do estresse.
Quando há queda na imunidade, as bactérias e fungos da vagina podem se proliferar de forma acentuada, aumentando o corrimento.
“É natural haver secreção na vagina. O problema surge quando ele está
acima do normal, a ponto de causar desconforto ou odor forte”, afirma
Maria Lúcia.
Se a secreção tiver cor amarelada, é indício de infecção bacteriana.
Uma das bactérias que frequentemente causam o problema é a gardnerella.
“Ela provoca um odor acentuado”, relata a médica.
Candidíase
Já entre os fungos, o mais comum é a cândida. Ela faz parte do trato
vaginal, mas pode proliferar acima do esperado e causar candidíase. “A
doença causa uma secreção branca e pastosa, que provoca coceira,
irritação e dor”, detalha a médica.
É relativamente fácil tratar a candidíase. Na primeira vez que ela
acontece, o médico pode optar até por um antifúngico oral. Em caso de
reincidência, existem cremes para uso intravaginal. A candidíase, no
entanto, pode voltar.
“Essa é uma das principais dificuldades. Como a doença pode ter causas imunológicas, ela pode também se tornar crônica”, afirma.
Calças de tecido sintético
O corrimento também pode ser provocado pelo uso de calças de tecido
sintético. “Elas reduzem a ventilação”, esclarece Maria Lúcia. Outro
fator externo é o uso de absorventes. “A mulher começa a ter secreção,
então resolve usar absorvente. Mas ele agrava ou provocar uma reação,
que aumenta ainda mais a secreção. É um ciclo vicioso”, diz a
ginecologista.
Sabonetes, íntimos ou não, também podem causar reações. “Neutro é o
melhor, tem risco menor de gerar problemas”, recomenda a médica.
Doenças sexuais
Nos casos mais graves, a secreção exagerada pode ser resultado de
alguma doença sexualmente transmissível (DST). A mais comum se chama
tricomoniase, causada por um protozoário.
“Ela provoca uma secreção meio verde, meio amarelada, com odor muito
forte”, descreve a ginecologista. O tratamento da doença é simples,
feito com antibiótico oral e deve também ser dado ao parceiro da mulher.
Contudo, a tricomoniase é perigosa porque pode ser uma porta de
entrada para a clamídia, que causa infertilidade. “O protozoário da
tricomoniase é parecido com um espermatozóide. Ele tem uma cauda e pode
abrir caminho para a clamídia seguir pelo canal do colo do útero”,
explica. É como se a clamídia pegasse carona com o protozoário.
O problema é que a clamídia avança de forma silenciosa, quase sem
sintomas, e provoca uma infecção grave no útero. Somente quando a
situação já está grave demais, com inflamação acentuada, o corrimento se
torna mais forte e pode chamar mais a atenção da mulher.
“Essa inflamação é chamada de cervicite e pode atingir as trompas,
causando uma obstrução tubária”, alerta o ginecologista José Gonçalves
Franco Jr., presidente da comissão de reprodução humana da Febrasgo
(Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).
A cervicite pode dificultar a gravidez e, em alguns casos, o problema
pode se tornar definitivo. Quanto mais cedo for feito o diagnóstico e
iniciado o tratamento, maiores serão as chances de curar a doença.
Exames frequentes
A melhor forma de prevenir qualquer problema grave é usar
presertativo em todas as relações sexuais e, ao primeiro sinal de
desconforto, procurar um ginecologista. “O papanicolaou deve ser feito
regularmente”, recomenda Maria Lúcia.
Se houver suspeita de corrimento por desequilíbrio na vagina, os
médicos recomendam um exame chamado bacterioscopia. Ele permite
visualizar as bactérias em excesso e se há algum tipo que não faz parte
da flora normal da vagina.
Também é preciso investigar o que estaria causando o corrimento,
tanto fatores ambientais (roupas e sabonetes, por exemplo) quanto
imunológicos. Alguns médicos chegam a combinar o uso de remédios com
vitaminas e até recomendam uma visita a nutricionistas, para melhorar os
hábitos alimentares.
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