Estaria Deus vingando-se do Egito com as dez pragas?
No livro de Êxodo, encontramos o violento choque entre o Deus de Israel e os falsos deuses do Egito, quando dez pragas se sucedem contra um faraó obstinado e o Egito que ele domina. De acordo com Alan Millard, alguns acham inconcebível que desastres tamanhos tenham atingido uma nação tão bem-organizada como a egípcia sem deixar nenhum registro escrito. Porém, segundo o CBASD e outros, é sabido que os egípcios eram orgulhosos quanto a seu poderio e domínio, e como de regra, entre os povos antigos, possivelmente eles relutariam em registrar um fato tão negativo para sua história como um povo.
Tem-se questionado sobre quem seria o Faraó do Egito nos dias das pragas. O CBASD afirma:
“Se Aminotep II foi o Faraó da época de Moisés foi seu filho maior (o irmão dele o sucedeu, a saber, Tutmósis IV) quem foi morto nesta noite de horror. Não há registros egípcios sobre isso, pois estes não registravam fatos humilhantes. Porém inscrições egípcias mencionam, Tutmésis se revelando como sendo instituído mediante uma revelação divina, embora se faça menção do seu irmão mais velho. O que aconteceu a este, não há registro”.(NICHOLL, 1:566).
LaSor apresenta uma estrutura interessante: nas nove primeiras pragas encontramos uma estrutura literária que as agrupa em três conjuntos de três pragas. No primeiro conjunto, Moisés aparece junto ao rio Nilo. No segundo, aparece no palácio. No terceiro, faz gestos sem aviso a Faraó. Ele também faz uma leitura imaginativa, negando o elemento sobrenatural das primeiras pragas, mas por fim, reconhece que o décimo acontecimento foge à regra e não oferece explicações naturais.
Outros estudiosos reconhecem a historicidade do evento. As pragas são descritas com palavras hebraicas cognatas, e todas elas têm sentido de “golpe”, “pancada”, e ao mesmo tempo, pelas palavras usadas para “sinais”. Deus, então teria se valido de golpes reais como sinais de Sua autoridade divina perante o orgulho do Egito a fim de redimir Seu povo. Para Cole, esta é uma prova de atividade divina e mostra nessa atividade, castigo e principalmente, salvação.
Mas salvação para quem?, essa é a grande pergunta. Para Israel? Ou teria Deus propósito de salvar também o Egito? Uma leitura atenta demonstra que Ele desejava acima de qualquer coisa, revelar-se acima de todos os deuses do Egito e atrair a todos para si, inclusive a Faraó e seus súditos.
Paul House insiste nessa idéia. Para ele, Deus começa Sua revelação com um homem só, Moisés, a fim de alcançar as duas nações. Também afirma que Deus não começa imediatamente com as dez pragas. No primeiro momento, Deus se revela a Faraó e lhe dá uma ordem. Faraó mesmo confessa que não conhece a YAHWEH (Ex 5.2). Conclui-se que Deus precisa então se revelar para ele. O primeiro sinal teria sido um “prelúdio” das pragas, por meio das quais “lenta, mas inexoravelmente YAHWEH remove a falta de conhecimento de Faraó” (House, 2005, p. 127). As pragas eram de um modo especial, redentivas, e não apenas para Israel, mas também para todo o Egito, a fim de todos os povos reconhecessem a soberania de Deus e se submetessem a Ele. Mas os sinais vão se intensificando à medida que o coração do Faraó se torna mais e mais duro.
Pode-se cogitar também, se era do interesse de Deus que tais catástrofes ocorressem de fato. Sobre esse aspecto, é importante notar que embora Deus houvesse dito a Moisés que necessitariam vários castigos a fim de induzir a Faraó deixar sair Seu povo, jamais revelou o número exato destas pragas. Faraó mesmo causa a sequencia, pela sua obstinação.
Concluindo, propomos que, quanto à natureza, as pragas tiveram origem em Deus, em razão da ‘rebeldia dos egípcios em atender ao apelo de Deus. Além disso, deve-se ver que o propósito divino não seria a destruição do povo egípcio, mas sim revelar-se a eles, e por meio deles. Além de convencê-los de que YAHWEH é Soberano Deus e não seria aceita nenhuma oposição aos Seus reclamos divinos, havia a pretenção de salvar. As pragas vieram em resultado de sua rebelião contra a revelação e a autoridade de Deus e a oposição a Seu povo. Deus, como Salvador, veio em manifestação contra a opressão e em defesa de Seu povo oprimido. [Claudio Soares sampaio]
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