terça-feira, 9 de setembro de 2014

Alunos raspam cabeça em solidariedade à professora diagnosticada com câncer

'Temos que acreditar no ensino como a verdadeira mudança'

Rio - Os últimos 30 dias têm sido de muita emoção para a professora de Língua Portuguesa e Literatura Norma Ribeiro do Carmo, de 37 anos. Em meados de julho, de férias do Colégio Carolina Patrício, no Recreio dos Bandeirantes, onde dá aulas para o Ensino Médio, Norma fez um autoexame na mama e sentiu um volume estranho no lado direito. Precavida, resolveu procurar um médico para saber do que se tratava e recebeu o diagnóstico de câncer. 
Ao retornar às aulas, a professora tentou manter o ritmo normal, mas volta e meia precisava faltar para realizar uns exames. Os alunos, preocupados com sua ausência, começaram a estranhar a situação. E o boato de que a professora estaria doente foi aumentando até que a história veio à tona.
Solidários, tomaram a iniciativa de passar a máquina no cabelo, já que sabiam que a professora, em breve, teria de fazer o mesmo por conta do tratamento de quimioterapia. “Foi um gesto gratificante, fiquei muito emocionada, mas confesso que não esperaria menos desses meus alunos. São muito generosos, acolhedores”, diz. 
'Esse tipo de gesto é muito gratificante'
Foto:  Ernesto Carriço / Agência O Dia
A professora conta que a surpresa aconteceu um dia de manhã cedo, no primeiro tempo de aula. Ela estava entrando na sala, quando sentiu falta de um grupo de meninas. De repente, começou um entra e sai, e ela resolveu saber do que se tratava. Os alunos haviam preparado um café da manhã em sua homenagem. Ela lembra que um dos jovens, usando um casaco com capuz, leu um texto sobre superação e, ao terminar de ler, tirou o capuz: ele estava com a cabeça raspada. 
“No mundo de hoje, você encontrar adolescentes com essa sensibilidade é raro. Ainda mais que eles são muito vaidosos”, completa a psicopedagoga do colégio, Sueli Portugal. Norma conta ainda que tem na memória todos os detalhes da consulta com o oncologista quando este lhe deu o diagnóstico.
“Ele foi direto. Perguntou se eu tinha fé e disse que era para eu me acalmar. Lembro que na hora eu chorei, fiquei muito nervosa. Meu marido estava comigo e, ao sairmos do consultório, pedi para que déssemos uma volta. Naquele momento minha vida passou feito um filme na minha cabeça”, desabafou a professora. Ela tem duas filhas — uma de 5 e outra de 8 anos — não é fumante e nunca teve um caso de câncer na família.
Emocionada, professora Norma agradeceu a alunos que cortaram o cabelo em solidariedade
Foto:  Ernesto Carriço / Agência O Dia
Os alunos dizem que Norma é muito querida e que, quando ela resolveu se abrir e contar sobre a doença, todos se comoveram. “Conversamos com ela, tentamos confortá-la. Quem tinha parentes que já passaram por isso contou sua experiência e o resultado foi positivo”, diz Eduardo de Oliveira, 16 anos, aluno do segundo ano do Ensino Médio. 
Norma, que só cortou o cabelo depois que viu seus alunos de cabelo cortado, vai fazer a primeira sessão de quimioterapia na semana que vem. “Serão 8 sessões antes da cirurgia. Estou confiante e quero dizer que o importante é manter a esperança, o alto astral e estar rodeada de gestos de amor sempre”, ensinou a mestra.
Material será doado a ONG 
Além de passarem a máquina nas madeixas, os alunos do Colégio Carolina Patrício, resolveram lançar uma campanha para arrecadar cabelos que serão doados a ONGs que produzem perucas para crianças e mulheres que enfrentam o câncer.
“O colégio todos os anos promove uma campanha, seja para arrecadar alimentos não-perecíveis, seja para arrecadar fraldas, e tudo sempre é doado a instituições de caridade no fim do ano. Desta vez, motivados pela doença da nossa professora Norma, resolvemos arrecadar cabelos”, conta Anselmo Martins, coordenador das série do Ensino Médio do colégio. 
Com a iniciativa, até a tarde desta quinta-feira, os alunos haviam arrecadado cerca de 1,40 metro de mechas de cabelos, que deverão ser entregues à ONG Laço Rosa. O grupo já existe há três anos e faz todo o trabalhao de pré-produção de perucas para pacientes que perdem cabelos com o tratamento quimioterápico. 
“É um processo delicado, quase artesanal. Contamos com uma gama de parceiros”, diz Marcella Medeiros, presidente da ONG. Ela explica que o material doado precisa ser catalogado para que se saiba quem são os doadores e só então é levado para empresas parceiras no Rio de Janeiro, no Espírito Santo, em São Paulo e até mesmo no exterior, onde as perucas serão confeccionadas. 
Depois, a ONG recebe o material já confeccionado, conforme as solicitações do banco, junto com um kit de resgate da autoestima, que contém, além da peruca, lenços, bijuterias e informativos. A Laço Rosa funciona numa sala da ONG Entre Amigos, no Centro Administrativo do Metrô.

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