Nenhuma partida é igual a outra. São todas únicas, com uma infinidade de características diferentes que as tornam próprias. Seria um erro, portanto, imaginar que o duelo da seleção brasileira diante da Sérvia pelas quartas de final da Copa do Mundo teria a mesma história do encontro anterior, lá na primeira fase. O resultado de 84 a 56 em favor dos europeus tratou de comprovar isso.
Houve um trecho em comum entre os dois embates: o terceiro quarto. Em ambos, o Brasil foi dominado nos dois lados da quadra e não conseguiu acompanhar o ritmo do rival, que movimentou o placar com uma freqüência absurda. Mas foi só isso.
No confronto da primeira fase, o time de Rubén Magnano teve um desempenho na metade inicial que beirou a perfeição. Por isso, se manteve vivo mesmo com a produção paupérrima apresentada na volta dos vestiários. Desta vez, houve equilíbrio antes do intervalo, o que tornou fatal uma queda tão acentuada assim.
Cada jogo é mesmo único.
A Sérvia entrou em quadra com duas mudanças em relação ao quinteto inicial que encarou o Brasil na primeira fase. As novidades foram o ala Nikola Kalinic, que não havia atuado um minuto sequer naquela ocasião, e o armador Milos Teodosic.
Esse último dispensa apresentações. É um craque. Aparece em qualquer lista dos melhores armadores do mundo fora da NBA. Mostrou um pouco disso nestas quartas de final, explorando ao máximo a dificuldade brasileira em marcar jogadas com bloqueios — algo que gerou muito bate cabeça durante toda a Copa do Mundo e que rendeu mais problemas desta vez.
Não foi à toa que Teodosic marcou 16 dos 37 pontos da Sérvia no primeiro tempo. Essa deficiência de se virar diante dos bloqueios fez com que o Brasil permitisse muitas infiltrações da turma de perímetro do outro lado. Quem também se aproveitou foi Nemanja Bjelica, dono de uma partidaça. Mais alto que os armadores e mais rápido que os pivôs, representava um grande problema quando atacava. Funcionou bem ainda como ala-pivô aberto, levando um grandalhão da marcação para longe da cesta, o que criou espaços para seus companheiros.
Com a bola nas mãos, o Brasil viu as portas completamente fechadas na área pintada com seus homens grandes. Mas eles exploraram bastante Marquinhos, que se aproveitou bem da concentração de marcadores lá embaixo para aparecer e definir, movimentando-se bastante ao invés de se limitar apenas à linha de três. Algo que já tinha sido bem feito em outras oportunidades. Até mesmo contra a Sérvia.
Mas o grande mérito dos europeus foi anular completamente uma das maiores forças do Brasil, que tinha dado resultado naquele primeiro tempo avassalador do último duelo entre os países: os pontos fáceis em contra-ataque. Foram raros os momentos nos quais os comandados de Magnano conseguiram imprimir velocidade no sistema ofensivo. Quando fizeram isso duas vezes seguidas, passaram à frente. Abriram 32 a 29, pouco antes do intervalo.
Magnano mexeu pouco no time durante o primeiro tempo. Deixou no banco caras que costumavam participar mais tempo do jogo. Um deles foi Larry, que tanto ajudou Raulzinho a colocar uma pressão absurda na bola dos rivais nos segundos quartos em outras partidas, aumentando os contra-ataques — justamente o que faltou desta vez.
A Sérvia fez oito pontos seguidos e chegou à metade do duelo vencendo por cinco: 37 a 32. Com os mesmos defeitos da primeira metade, os brasileiros viram o adversário continuar em melhor momento no início do segundo tempo. Até que uma falta de Anderson Varejão e duas técnicas marcadas em cima de Marquinhos e Tiago Splitter no mesmo lance acabou definindo a disputa. Os europeus tiveram a chance de arremessar seis lances livres seguidos. Acertaram cinco. Mataram o jogo.
Depois disso, o que se viu foi um Brasil com pressa para definir os ataques, definidos de maneira precipitada. Melhor para a Sérvia, que aproveitou o desespero para construir uma vantagem ainda mais folgada, carimbando a vitória e a passagem à semifinal com autoridade.
Acabou o Mundial para o Brasil. Mas antes que se inicie qualquer caça às bruxas, é importante colocar as coisas sob uma perspectiva correta. Foi uma boa campanha. Sim, boa. Que alcançou as quartas de final e que incluiu vitórias sobre outros adversários fortes — incluindo o próprio responsável pela eliminação. Teve pontos críticos, é verdade. Muitos deles destacados neste espaço desde os amistosos de preparação. Mas passou longe da porcaria que alguns poderão tentar pintar. Nada de oito ou oitenta.
O placar dilatado não é normal, mas também não quer dizer nada. Para não viajar tão longe na história, fiquemos com uma lembrança de 2013, quando o San Antonio Spurs massacrou o Miami Heat em uma das partidas da final da NBA. Acabou não conquistando o título.
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