Ideia de instituto é erguer obra no mesmo local que abrigou o Primeiro Templo, em Israel; no Brasil, rabinos atacam iniciativa
Reconstruir o Templo de Salomão não é ideia exclusiva da Igreja Universal do Reino de Deus. Composto por judeus ortodoxos, o Instituto do Templo, sediado em Israel, tem feito grandes esforços para erguer o Terceiro Templo Sagrado da religião no mesmo local onde teria existido a construção original - o Monte Moriá, de acordo com a narrativa do Antigo Testamento. E não é só uma ideia jogada: já existem plantas feitas por arquitetos especializados na Torá (conjunto de livros sagrados do judaísmo), lista de materiais a serem usados na obra e até estratégia completa para arrecadar doações - atualmente em quase US$ 65 mil.
Entretanto, assim como a construção orçada em R$ 680 milhões promovida pelo bispo Edir Macedo, o templo dos ortodoxos israelenses também é alvo de críticas. E de seus próprios pares. Ao menos foi assim que expuseram ao iG o tema representantes da comunidade judaica no Brasil, que parecem unânimes ao se dizerem totalmente contra a possibilidade da construção de um edifício semelhante ao da Universal para a sua religião em Israel.
É o mesmo posicionamento da Federação Israelita de São Paulo (Fisesp), que congrega instituições judaicas de todo o Estado. "É uma construção divina. Em Israel temos judeusmais ortodoxos e outros menos ortodoxos, cada um com a sua visão. Mas sem entrarmos na Era Messiânica o templo simplesmente não deve existir", diz Ricardo Berkiensztat, vice-presidente-executivo da entidade.
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O Instituto que prega a construção do Terceiro Templo tem uma visão diferente e chama de mito a ideia de que o edifício descerá milagrosamente do céu. Para o Rabino Yisrael Ariel, fundador do grupo que existe há quase 30 e atualmente mantém um museu sobre a história dos monumentos sagrados em Jerusalém, existe uma visão deturpada da religão a respeito do tema. "Ao longo do tempo em que investi em meus estudos descobri que as expectativas sobre o templo estavam simplesmente erradas", afirma ele no site oficial do grupo. "Deus não tem a pretensão de que esperemos por um dia de milagres: a expectativa é de que ajamos por conta própria."
Em vídeo divulgado quando do anúncio da construção da réplica do Templo de Salomão em São Paulo, o diretor do departamento internacional do instituto, Rabino Chaim Richman, foi bastante crítico em relação aos planos da Igreja Universal do Reino de Deus. Para ele, a obra de orçamento astronômico - R$ 680 milhões - "sequestraria o conceito mais profundo do Templo Sagrado judaico e do que ele significa a Israel". "Para quem esse templo está sendo construído? Quem será nele verdadeiramente cultuado? Isso corrompe totalmente a santidade do Templo Sagrado", disse na ocasião.
Em nota, a Universal afirma compartilhar com o povo de Israel "a esperança de que o tão aguardado Terceiro Templo seja construído em Jerusalém" e ressaltou o fato de nunca ter tido como objetivo de "comparar ou transferir a santidade e a importância" do edifício original para sua obra na capital paulista: "A Universal respeita a opinião do Instituto do Templo, contudo ressalta que tal posição não é compartilhada por inúmeros membros dascomunidades judaicas brasileira e internacional. Prova é que contamos com a presença de vários representantes de Israel e do povo judeu na inauguração oficial do Templo de Salomão e em outras ocasiões".
Atualmente, a meta do instituto é atingir US$ 100 mil em doações para se chegar aos US$ 300 mil necessários para o encerramento da fase inicial do projeto, que inclui um completo detalhamento dos planos para quando o templo iniciar sua construção. No entanto, além do desafio financeiro e da crítica de parte da comunidade judaica, o grupo ainda terá de enfrentar outros obstáculos se quiser atingir seu objetivo. Um deles, e talvez o maior, é o fato de o Monte Moriá, onde pretendem construí-lo, atualmente abrigar a Mesquita de Al-Aqsa, a maior de Jerusalém e o terceiro lugar mais sagrado do islamismo. O iG contatou o instituto mas não obteve um posicionamento até o fechamento desta reportagem.
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