por Dr. Carlos Bayma
Artigo publicado no Jornal O Recifense
Antes do PSA (Antígeno Prostático Específico, em português) usava-se a dosagem sanguínea de fosfatase ácida / fração prostática como marcador para rastreamento de câncer da próstata. Não servia para nada, na verdade. Também nessa época, as biópsias – muitas vezes – eram feitas às escuras (sem o auxílio valiosíssimo do ultrassom transretal). Era de se esperar que muitos diagnósticos, há 20 ou 30 anos, eram feitos tardiamente. O PSA chegou e facilitou a vida dos urologistas e dos pacientes. Mas, parece não ser absolutamente confiável.
Os laboratórios de análises clínicas colocam como “normal” o nível de PSA até 4 ng%. Alguns sugerem que o valor deva ser abaixo de 2,5 ng%. Entre 4 e 10 ng% seria o que chama de “zona cinzenta”, ou seja faixa de dúvida. Mas ainda sou pouco crédulo quanto aos valores ditos de normalidade. Isso depende de muitas variáveis, a começar pelo peso da próstata medido pela ultrassonografia. Como o PSA é uma proteína exclusivamente produzida pela glândula prostática, quanto maior seu peso, mais elevado o PSA, sem que isso signifique câncer.
Não é raro ter pacientes com inflamações crônicas da próstata (a forma aguda dá logo febre alta, dor intensa em baixo ventre e incapacidade de controlar a urina). São as chamadas prostatite crônicas. Essas também elevam os níveis sanguíneos de PSA, mimetizando um possível câncer da glândula.
O que é fato – e bom que todos saibam – é que o valor absoluto do PSA não é tão importante quanto sua velocidade de elevação. Como exemplo: se o seu PSA hoje é de 4, mas há seis meses era de 2, considero uma situação de alerta. Porém, se hoje ele está em 15 ou 20 ng%, mas já foi de 30 há 1 ano, é provável que não haja câncer. Talvez tenha havido uma prostatite e ainda haja. Isso sem considerar o peso prostático, nem a predisposição genética que possa haver em seus antecedentes familiares
Há mais coisas. Muitos homens com PSA elevado (não exageradamente) e com câncer de próstata viverão por muito tempo e morrerão de outras causas. O câncer pode não evoluir a ponto de se manifestar como doença debilitante e fatal. Não há um só urologista moderadamente experiente e com certa estrada que não tenha diagnosticado câncer em pacientes com próstatas pequenas e com baixo PSA (2,5 ng%, por exemplo). Geralmente esses tumores são bem agressivos. Também já vi o oposto, pacientes com próstatas grandes, PSA elevado, passado de várias biópsias, que se revelaram negativas para câncer.
Sei que são exceções. O problema é que cada vez mais essas exceções incidem com maior frequência. Será que um dia não serão exceções e o PSA seja substituído por outro marcador tumoral mais confiável? De qualquer forma, o PSA já foi um grande avanço para o diagnóstico precoce do câncer de próstata. Mas não é absoluto!
Portanto, procure ser acompanhado por um urologista de sua confiança e que possa mostrá-lo as diversas possibilidades de tratamento (cirurgia, radioterapia, braquiterapia, quimioterapia), além da modalidade “acompanhar e não fazer nada”, denominada de vigilância ativa. Minha sugestão é: não se precipite e não se apavore; mantenha a calma e o discernimento e ouça duas ou mais opiniões, se julgar necessário.
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