MAGNO MALTA não falava com ninguém desde a semana passada, quando se convenceu de que não vai mesmo fazer parte do governo de Jair Bolsonaro.
Até então, ele era o braço direito do presidente eleito. Participou da campanha mais ativamente que qualquer outro aliado. Articulou o tão desejado apoio do pastor Silas Malafaia e da bancada evangélica, movimento definitivo para derrotar Fernando Haddad. Conduziu uma oração em rede nacional logo após Bolsonaro vencer a eleição. Era chamado por ele de “vice dos sonhos”.
Tudo levava a crer que Malta teria um lugar de destaque na equipe que comandará o país. De uma hora para outra, porém, as coisas mudaram. E ele sofreu as duas maiores derrotas de seus 30 anos de vida pública.
Primeiro, o capixaba não conseguiu se reeleger como senador. Ele diz que abdicou de fazer campanha para si mesmo para se dedicar à de Bolsonaro. Mal pisou no Espírito Santo nos dias que antecederam o pleito.
Segundo, foi escanteado pelo aliado. Antes, o pastor dizia: “vou ser ministro, sim“. As pastas foram acabando e ele sobrou. O general Mourão, vice de Bolsonaro, chegou a se referir a Malta como “o elefante no meio da sala“, pois ninguém sabia o que fazer com ele.
Alvo de escândalos, como supostamente ter mandado torturar um homem inocente para se promover (o ex-cobrador Luiz Alves de Lima relatou o caso ao Intercept) ou ter gasto quase meio milhão de reais de dinheiro público em dois postos de gasolina no Espírito Santo, além de crítico de integrantes da equipe, como do próprio Mourão, o senador acabou sendo visto como um homem tóxico.
Chegou ao ponto de Bolsonaro cogitar chamar Damares Alves, assessora parlamentar de Malta, para o Ministério dos Direitos Humanos – justamente a pasta com que sonhava. A punhalada foi forte.
Visivelmente abatido, Magno se isolou em seu sítio em Viana, região metropolitana de Vitória, desde a última quinta-feira. Estava na companhia da família e de poucos assessores. O celular, fora de área. “Ele precisava de um tempo”, comentou o pastor Valmir Lima, irmão de criação do senador. Frases parecidas foram repetidas a mim por amigos, funcionários e conhecidos.
Durante três dias, percorri Cachoeiro do Itapemirim, Vitória e Vila Velha atrás de Malta. Só consegui encontrá-lo no voo de volta a Brasília. Sentei ao seu lado. Ele vestia uma camiseta de sua campanha contra a pedofilia (tema de CPI que comandaou no Senado), sapatênis branco e uma grossa corrente de ouro. Reparei que ninguém o cumprimentou.
Falando baixo e com postura encurvada, sua figura em nada lembrava a imponência de situações que ele domina com maestria: cultos, shows, tribunas e campanhas. No avião, pediu um café com três saquinhos de adoçante. Sua voz saiu tão fraca que o comissário não escutou.
Na conversa, de cerca de duas horas, ele disse várias vezes que ainda torce por Bolsonaro e o considera “um amigo”. Mas também não escondeu a amargura: “Você vê muita gente que falava mal dele, não pedia voto, e agora tá aí, se aproximando”. Ao ser questionado se sua atual situação se deve a Mourão, desconversa, e diz que é preciso tempo. Mourão seria um ingrato? “Ingrato eu não diria.” Se arrepende de ter deixado de lado a própria campanha para se ver hoje fora do governo? “Não lutei para ter um cargo no governo”, mas “pelo Brasil”.
Seus atos, no entanto, são menos generosos que as palavras. A desilusão foi tão grande que ele decidiu não disputar mais eleições. Quer se dedicar ao projeto de recuperação de viciados em drogas que mantém em Cachoeiro e ver os netos crescerem. “O meu papel foi feito. Tudo passa nessa vida”, comentou, entre uma turbulência e outra.
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