Mulheres maduras de Nova York, Londres e Los Angeles trocam os cortes de cabelos tradicionais por cores e tesouradas ousadas
Num belo dia de agosto, três mulheres, todas com mais de 40 anos, estavam encarapitadas nas cadeiras cinzentas do salão de Yves Durif, no luxuoso Hotel Carlyle em Nova York.
Considerando o endereço, seria de se esperar que o clima fosse quase de reverência. Em vez disso, só seu ouviam frases curtas; o dono do salão, Durif, um francês cheio de energia, e David Johnstone, o impassível colorista, examinavam as clientes uma a uma.
"Nem se atreva a me dar aquele cabelinho sem graça à la Upper East Side (uma das regiões mais caras de Manhattan)", disse Dawn Bennett, de 61 anos. "Quero uma coisa mais agressiva, no melhor estilo rock 'n' roll."
A diretora de arte que trabalha para a ONG Urban Glass, no Brooklyn, já usou o cabelo longo até o meio das costas; hoje em dia, porém, faz o que lhe der na cabeça, inclusive luzes rosa choque, três camadas de franja e uma nuca raspada que, se quisesse e tivesse à disposição bastante gel, poderia transformar num penteado moicano. "Os artistas mais jovens com quem trabalho dizem que sou a diretora de arte mais descolada que já viram", conta ela, toda orgulhosa.
Ao seu lado está Sunny Bates, uma empresária (cuja idade fica "entre 49 e 100 anos", ela brinca) que começou o dia com um Chanel sem graça acima do ombro, o mesmo que mantinha há seis anos. Durif repicou as pontas até lhe dar um visual mais sofisticado ‒ e raspou a nuca, de leve, de um lado só. "É meio como brincar de esconde-esconde quando ela passa a mão pelo cabelo", descreveu Durif. Johnstone então aplicou uma tonalidade avermelhada às mechas e o toque final: luzes de um loiro quase branco que lhe deram um ar de heroína de gibi. "Nunca mais quero ser comum", comentou Sunny sobre a mudança. "A pior coisa do mundo é ficar com cara de dona de casa."
Fui à cerimônia de formatura de minha enteada há alguns meses e todas as mulheres tinham o mesmo cabelo, reto, o mesmo tipo de escova", conta ela. "É opressivo. Sei que muitas fazem isso para atrair a atenção dos homens, mas, se são todas iguais, como é que vão se destacar?"Mas talvez Linda Holliday, CEO de uma empresa que produz resumos de livros clássicos, tenha sido a mais audaciosa de todas: ela optou por fazer mechas azuis que, além iluminarem o visual, lhe deram um ar meio punk. Linda, que tem 50 e poucos anos, disse que "estava ensaiando fazer isso desde o verão passado", mas mesmo assim saiu um pouco chocada da sala do colorista.
Cores ousadas e cortes inovadores sempre atraíram as mulheres jovens e descoladas, mas nos salões das grandes cidades como Nova York, Londres e Los Angeles, mulheres de 40, 50, 60 anos e até mais velhas estão adotando a tendência ‒ geralmente trocando o clássico penteado Bergdorf (também conhecido como loiro Park Avenue ou loiro Madison Avenue) por novidades dramáticas e chamativas.
Michael Van Clarke, cabeleireiro londrino que já cuidou das madeixas de muitas mulheres da família real, vem recebendo pedidos para "usar flashes de cores malucas perto da raiz e mechas temporárias de cores bem diferentes". "Não fomos nós que sugerimos; é ideia das mulheres vibrantes de 50, 60 anos que ainda querem competir, de certa forma, com as mais novas."
Geralmente ele usa tonalizante em mechas mais largas e tingimento temporário. Segundo ele, a técnica fica melhor nas mulheres bem vestidas e bem penteadas porque "só se o conjunto for refinado e autoconfiante é que se alcança o resultado desejado"."É uma questão do contraste da elegância com o choque dos cabelos", ele acrescenta.
Edward Tricomi, sócio da cadeia de salões Warren-Tricomi, vem fazendo o que chama de "polinização capilar" na filial do Hotel Plaza, em Nova York, método que abandona o pincel de coloração e usa as mãos para espalhar a tinta ‒ muitas vezes num tom azul-esverdeado.
"As clientes mais velhas de Nova York são muito progressistas", afirma Tricomi, justificando a característica pela riqueza de arte, moda e música na cidade. "Além disso, há as mulheres de 60 e poucos anos – da minha geração – que são saudáveis, vão à academia e se sentem jovens. Com certeza nem eu tenho a aparência que meus tios tinham na minha idade. Essas mulheres estão curtindo uma vida maravilhosa e plena."
Até no sul da Califórnia, terra do cabelo comprido e das mechas de sol, as mulheres estão optando por um visual mais inovador. "E nem é influência das celebridades", afirma o colorista George Papanikolas, do salão Andy Lecompte de North Almont Drive, em West Hollywood. A maioria das famosas de que Papanikolas cuida, incluindo a modelo Miranda Kerr, prefere realçar a cor natural.
O estilo dos cabelos coloridos das personagens do filme "Jogos Vorazes" é que pode ter influenciado um público maior. Na região de Los Angeles, porém, "os cortes ainda são clássicos", explica Papanikolas. "E o destaque é feito com tonalizante com um efeito mais escuro ou colorido nas pontas, por exemplo."
Este é o caso de Gela Nash-Taylor, fundadora da Juicy Couture, que tingiu só as pontas das madeixas de verde-folha. Muitas mulheres de empresários do show-business também pediram a mesma coisa. "É como se, com isso, elas dissessem: 'Não estou nem aí' ou 'Eu quero mais é me divertir'", afirma ele.
Segundo os cabeleireiros, também não é um caso de mães imitando as filhas porque segundo Durif, do Carlyle, são as filhas que estão deixando o cabelo comprido e sem graça. "Talvez seja a economia", arrisca Johnstone. "As mais jovens estão se sentindo mais vulneráveis no emprego e, por isso, preferem o visual mais conservador."
Sem dúvida, aquele cabelo loiro que requer manutenção cara e constante já não é mais tão comum. "Esse tipo de cabelo se limita a apenas um grupo demográfico", explica Johnstone. "A época está muito tumultuada, tanto política como ideologicamente, e muitas dessas senhoras não querem ser vistas como exclusivistas. Para evitar isso, basta só mudar a tonalidade adotada por sua faixa etária."
Essas mulheres provavelmente se inspiram na herdeira Daphne Guinness, que está longe de cultivar uma beleza convencional: tanto que há anos Johnstone vem imitando seu penteado tradicional (um loiro bem claro, quase platinado, com mechas pretas, puxado num coque alto). "Não vejo meu cabelo na cor natural desde que tinha onze anos", confessa Daphne, aos 44, em Cannes, na França. E conta que, quando tinha trinta e poucos, usou as tinturas sem dó nem piedade, brincando com mechas vermelhas e castanhas, além de também ter sido loira. "O loiro simples não dizia nada", admite Johnstone em relação à cor do cabelo da cliente. "Era uma nuvem nebulosa."
O estilo atual de Daphne, por outro lado, reflete tão bem sua personalidade que se tornou parte inseparável de seu estilo. Uma vez, numa sessão de fotos, o cabeleireiro tingiu seu cabelo de preto. "Não ficou ruim, mas eu não era mais a mesma", revela Guinness, acrescentando: "Não vou mais brincar com o meu visual nem aceitar conselhos dos outros. Tudo bem que é só cabelo, mas quando você se olha no espelho, não pode ver outra pessoa. Tem que enxergar a si mesma"
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