segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Contextualização: Uma Via de Mão Dupla



Contextualizar é a palavra de ordem. O pós-modernismo é um desafio para a igreja? A Geração Y precisa de maior interatividade nos cultos? O Ocidente vive profunda transformações e hoje a sociedade se caracteriza como pós-cristã? Ora, a solução para todas as mazelas do evangelismo cabe em uma palavra: contextualização!
A contextualização seria tudo isso ou estamos atribuindo poderes mágicos a ela? O fato é que ninguém ouve a mensagem do evangelho se ela não for relevante para ele. A relevância implica em traduzir o evangelho em termos significativos para determinado cultura. A transmissão do evangelho não ocorre no vácuo, porque seus ouvintes possuem culturas peculiares. A essência do evangelho é transmita dentro da cultura do ouvinte.
Por isso, é esperado que o missionário compreenda a cultura das pessoas as quais pretende evangelizar. O missionário tem de se adaptar à cultura, e não adotá-la em todos os seus aspectos. Isso exige uma versatilidade, desprendimento e capacidade de tolerância a extremos. Ele precisa antes de ser um bom pregador, aprender a agir como ouvinte.
O exemplo do missionário é útil por que o processo de secularização esvaziou o conteúdo religioso de instituições e conceitos morais moldados pela mentalidade cristã. O mundo ocidental não é mais o quintal da paródia – está mais para o mar que cerca a ilha chamada igreja. Abordar as pessoas como se fazia a algumas décadas é frustrante. Não porque elas estejam menos interessadas em Deus, mas porque perdemos a capacidade de nos comunicar em termos que sejam compreensíveis.
A contextualização é crucial para que o evangelho alcance as pessoas. Todavia, é óbvio que a mensagem do evangelho impõe limites a estratégias de aproximação com pessoas de outras culturas; afinal, determinados costumes, embora aceitáveis em uma cultura, estariam contradizendo princípios bíblicos. Um pastor missionário na Albânia relatou que é costume naquele país as famílias distribuírem charutos caseiros aos visitantes. Nesse caso, fumar corresponde a uma mensagem de acolhimento e hospitalidade na cultura albanesa. Entretanto, fere o princípio de que o corpo é templo do Espírito Santo (1Co 10:25).
A apresentação do evangelho a qualquer cultura deve ser completa, a fim de que os indivíduos oriundos dela encontrem como expressar e viver as verdades aprendidas em sua própria cultura. Desde Atos 15, a igreja cristã entendeu que não se faz necessário que o indivíduo migre de sua cultura para outra, com o objetivo de ser cristão. Judeus poderiam permanecer como judeus e gentios, gentios. E cada qual, com sua cultura, viver de forma agradável a Deus, sublimando aspectos contrários ao evangelho.
A contextualização se torna, desse modo, um processo de mão dupla: a igreja se adapta às pessoas, que se adaptam às ordenanças de Cristo. Pouco proveito há em conceber a contextualização como mera adequação da igreja à cultura vigente ou mesmo à qualquer subcultura que se pretenda evangelizar; quando isso ocorre sem critérios, não se pode falar em contextualização, mas em aculturamento. Ironicamente, denominações e movimentos que se aculturaram, pretendendo alcançar a relevância, se tornaram irrelevantes, sem poder para influenciar a cultura, posto que se tornaram parte dela. A contextualização genuína não altera a essência do cristianismo, apenas sua abordagem; simultaneamente, altera a essência dos ouvintes, não sua abordagem.

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