Todas as possíveis discussões serão feitas nos próximos meses em torno da brutal tragédia ocorrida em Connecticut, nos Estados Unidos. Um jovem atirou e matou quase 30 pessoas em um colégio, sendo a maioria crianças com seis ou sete anos de idade apenas. Matou, ainda, a própria mãe, que era professora no estabelecimento de ensino. Comentários e comentaristas repercutirão o tema por muito tempo ainda com diferentes desdobramentos e pontos de vista.
Vai se falar de tudo: do perfil psicológico do atirador, da insegurança em escolas norte-americanas, da facilidade para se adquirir armas nos EUA, da proximidade do fim do mundo e de acontecimentos horríveis como esse, dos motivos que puderam levar a essa tragédia, etc. Tudo será objeto de análise de especialistas e gente de todo o mundo tentando encontrar alguma explicação para o que ocorreu e infelizmente de vez em quando ocorre em outros lugares, inclusive no Brasil.
Quero refletir sobre como percebemos o papel de Deus nesse tipo de massacre. Não estou falando da atuação em si de Deus, mas da maneira como nós vemos o Seu papel. Há pelo menos três conceitos. O primeiro é o defendido pelo descrente em Deus. Daquele que não enxerga uma ação divina sobrenatural no mundo e que, portanto, considera que nesse episódio simplesmente há uma boa argumentação racional que não inclui Deus ou um poder maior do que o dos homens. Deus, para esses pensadores, é um constante ausente na trajetória dos seres vivos e na história do mundo.
O segundo conceito provém dos que creem em Deus e atribuem a Ele os massacres protagonizados pelos seres humanos, as catástrofes climáticas, enfim, tudo o que de ruim acontece. Para esses, a culpa inevitavelmente é de Deus. Ele tem o controle de todas as coisas e, por isso, é responsável, também, por aquilo que não dá certo e causa sofrimento. Na conta de Deus, como entendem os que advogam essa ideia, são creditados todos os infortúnios do planeta. Veem a Deus como causador de problemas e benesses.
E finalmente tem o grupo que defende a terceira via possível para digerir mentalmente os massacres como o de Connecticut. Creem que Deus observa tudo e que, apesar de saber do impacto que uma tragédia dessas acarreta sobre familiares e toda a sociedade, permitiu por alguma razão que isso ocorresse no momento e da maneira como agora sabemos que foi.
Mas eu pergunto: quem está certo? Quem defende a ideia mais apropriada, mais plausível, mais coerente?
Não me atrevo a responder porque respeito o direito de cada um pensar como bem entende. Ainda mais diante de uma situação como essa que é extrema e profundamente dolorosa de perda. Mas eu acredito na terceira tese.
Entendo que Deus existe e vê esse massacre como tantos outros na história de um mundo de incrível. Com um olhar de amor e misericórdia, mas com a capacidade de ver muito mais além do que as lágrimas de familiares agora conseguem expressar. Creio que Deus não ignora a dor e nem o pesar sentidos e é de Sua índole consolar os que choram. A revelação bíblica assegura esse perfil. Ao mesmo tempo, Ele sabe o futuro por ser onisciente. Os tiros disparados, a tentantiva de alguns sobreviverem, as professoras que fizeram o que foi possível para salvar alunos, enfim, a atmosfera que envolveu o episódio, tudo isso Ele acompanhou. Nada escapou de Sua atenção que, imagino, é infalível e total.
Só que creio em um aspecto que talvez seja difícil para quem sofre agora entender. Não estou vivendo isso, portanto, falo com o conforto de quem está de fora como mero analista. Mais um, aliás, para a tarefa. Creio que Deus tem planos mais longínquos do que os nossos mesmo. Enxergamos o pequeno mundo ao nosso redor, que nossos olhos permitem visualizar.
“Pois os meus pensamentos não são os pensamentos de vocês, nem os seus caminhos são os meus caminhos”, declara o Senhor em Isaías capítulo 55 e versículo 8. É duro absorver profundamente o sentido dessas palavras e pensar que nossos pensamentos ou planos ou ideias não são exatamente aquilo que Deus tem em mente. E que os pensamentos Dele são diferentes e, acrescento, melhores do que os nossos pelo simples motivo de que Ele conhece muito mais. Sabe de nossa estrutura física, psicológica e espiritual e dos tempos hoje e no futuro.
Provavelmente isso não consiga atenuar as perdas que todos temos. É, contudo, mais alentador pensar não em um Deus ausente ou tirano, mas em um Deus que – sim, é verdade, deixou que algo de ruim ocorresse – mas que tem consciência plena de que aquilo, por incrível que pareça, não aconteceu sem que Ele soubesse. E o fato de Ele saber e ter um caráter essencialmente de amor pode conforta mais do que a indiferença ou a tirania pura e simples.
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