Para Flávio Dino (PCdoB), do Maranhão, a posição do PMDB, eleito para compor o governo com o PT, é de "causar espanto"
Logo depois de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara dos Deputados, anunciar que aceitaria a abertura do processo de impeachment contra a presidente da República, um grupo de nove governadores do Nordeste divulgou uma carta de apoio a Dilma Rousseff. Um dos signatários foi Flávio Dino (PCdoB-MA).
Além do representante do Maranhão, assinaram a carta os governadores Robinson Farias (PSD-RN), Ricardo Coutinho (PSB-PB), Camilo Santana (PT-CE), Rui Costa (PT-BA), Paulo Câmara (PSB-PE), Wellington Dias (PT-PI), Jackson Barreto(PMDB-SE) e Renan Filho (PMDB-AL).
Ex-juiz federal e professor de Direito, Flávio Dino condena a decisão de Cunha: "Neste instante a posição que causa mais espanto é a do PMDB, que foi eleito e compõe metade do governo."
"É inaceitável desrespeitar a Constituição em detrimento de uma posição política. Por isso acredito que o impeachment seja um disparate, um delírio, um caminho golpista. É deplorável." E o governador provoca: "A proposta de impeachment é totalmente destituída de seriedade. Duvido que se consiga reunir dez professores de direito constitucional que apoiem isso."
Na análise de Flávio Dino, o presidente da Câmara tentou após o rompimento do PT no Conselho de Ética (que julga Cunha por supostamente ter mentido aos integrantes da CPI da Petrobras ao dizer que não tinha contas no exterior), fazer uma composição com o PSDB e outros partidos de oposição.
"O objetivo no meio desse processo era criar um tumulto. E criou mesmo. Se há descontentamento, essa luta deve ser travada no Congresso, no Judiciário e nas ruas. As pessoas precisam entender a importância do zelo democrático e o que está em jogo", analisa o político.
Além de correr o risco de ter o mandato cassado na Câmara, Cunha é investigado na Operação Lava Jato. O governador do Maranhão lembra que, ainda que o presidente da Casa acredite que terá uma sobrevida ao dar o primeiro empurrão para a saída da presidente Dilma Rousseff do Palácio do Planalto, não conseguirá blindagem na Justiça.
"A Lava Jato não está sob a força política, por isso acaba sendo inútil essa reação contra o governo. Seja qual for o governo, as ações e os julgamentos relacionados ao trabalho da Lava Jato vão continuar. Essa retaliação política é inútil", analisa.
As verdadeiras prioridades
Enquanto o Congresso e o governo centram munição para ver quem leva a melhor em torno do processo de impeachment, algumas discussões importantes serão escanteadas. É o caso da crise econômica, de questões ambientais como o desastre em Mariana (MG) e os riscos de disseminação do zica vírus e do consequente aumento de casos de microcefalia em bebês.
"O debate nacional não pode ser esse, mas infelizmente está se perdendo o foco principal. A política tem de ser um instrumento para resolver problemas como esses. Política não pode ser de si para si", podera Flávio Dino.
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