Juizado apreende 109 estudantes menores no local. Mãe da aniversariante teria fugido deixando uma CNH vencida
Uma festa organizada por dois adolescentes de 16 anos em Belo Horizonte virou caso de polícia e Juizado de Menores, na última sexta-feira, dia 22. O evento por onde circulavam menores de idade tinha bebidas alcoólicas liberadas e uma adolescente de 13 anos “prestes a iniciar um strip-tease em cima da mesa”, segundo informou a comissária da Vara da Infância e Juventude, Denise Pires da Costa. A denúncia veio de um pai, que tinha uma filha na festa.
A polícia chegou ao local por volta da meia-noite do dia 23 acompanhada do Juizado de Menores, apreendendo 109 menores no local, muitos deles embriagados. O encaminhamento dos menores até suas casas se prolongou até às 5h20, quando todos os pais já haviam buscado seus filhos.
Convite da festa, American Pie
O convite do evento mostra uma garota de biquíni com a bandeira dos Estados Unidos e a logo do filme “American Pie”. Também informava que bebida e comida estavam liberadas. Este flyer foi distribuído em shopping centers pelo promoter da festa, o adolescente Gabriel*, de 16 anos, que é famoso na cidade por organizar matinês mensalmente pela “S4F TEENS BH” (Saturday For Fun Teens BH, ou “sábado pela diversão adolescente BH”).
Gabriel que não sabia que deveria ter alvará para fazer a festa e que fez a produção do evento às escuras. “Foi escondido, sem ninguém saber. Não tinha mesmo autorização”, relata.
O rapaz é amigo de Luiza, aniversariante e dona da festa, com quem combinou toda a organização. A jovem confirma que vendeu ingressos, mas que seria uma festa fechada. “Meus amigos foram pedindo para levar outros amigos e familiares, e eu fui deixando”, disse. Segundo o promoter, a festa foi organizada para “200 pessoas no máximo”, mas perdeu o controle do número de convidados.
A dupla teria o consentimento da mãe de Luiza, Cristiane, que também foi quem assinou o contrato de locação do salão de festas do Mirante da Raja, na Associação de Rádios Amadores de Belo Horizonte.
Segundo Denise, Cristiane estava com a filha na festa. “Ela fugiu do local e deixou apenas uma carteira de habilitação vencida”, disse. E ao sair ainda teria levado pertences da casa e bebidas da festaCristiane, que se negou a fornecer seu sobrenome, nega a informação. Ela disse ao iG que tinha conhecimento da festa. “Eu só pedi pra não ter bagunça e falei que ia dar uma passadinha pra ver como ia ser”, diz. Segundos os funcionários da casa, ela chegou ao local às 23h45 e encontrou a polícia e o juizado de menores. A filha Luiza, naquele momento, apenas chorava e não conseguia explicar o que estava acontecendo.
Festa open bar para comemorar as férias
O conceito da festa “open bar” era comemorar as férias, quando os estudantes estavam livres “e sem nada pra fazer”, segundo Gabriel. “Eu não vi nada, porque estava na porta controlando a entrada”, diz ele. “Foi quando vieram duas viaturas e chegaram os policiais sem falar nada, entraram sem dar explicação e levaram uns moleques não sei pra onde”, diz.
Um dos menores que estavam no local conta que foi convidado pela própria aniversariante. “Ela disse que teria que pagar R$ 30 para ajudar na comida e no refrigerante”, disse. O mesmo foi retirado do local pela própria mãe, que o proibiu de frequentar festas “open bar” como castigo.
A secretária responsável pelo local alugado, Núbia Monalisa, relata que a festa começou às 23h e terminou não mais que à meia noite. “Nem cabe tanta gente aqui, o lugar com mesas e cadeiras é pra no máximo 250”, diz. A responsável pelo local ainda afirma que segundo o contrato assinado com Cristiane, os ingressos não poderiam ser vendidos e menos ainda comercializadas bebidas alcoólicas.
Segundo Wesley*, de 18 anos, primo de Luiza, os convidados na porta receberam pulseiras com cores diferentes para que os funcionários do bar pudessem distinguir os menores de idade, que não poderiam beber, dos maiores. “Quem tinha pulseira branca não podia beber”, disse ele. O jovem afirma que todos os garçons tinham a mesma orientação. “Mas tinha maior dando bebida para menor”, diz Gabriel. “Não deu tempo nem do pessoal ficar alterado”, conta Wesley.
De acordo com Denise, a Vara da Infância e Juventude vai apurar em processo judicial a infração administrativa cometida. Segundo ela, a infração tem dois autos: a falta do alvará de funcionamento e o consumo da bebida alcoólica por menores. “Tanto Cristiane como os responsáveis pelo Mirante da Raja vão responder processos”, diz. A penalidade é uma multa, que varia de 3 a 20 salários mínimos.
E agora, José?
A Vara da Infância e da Juventude já investiga uma outra festa com menores de idade em torno de 13 anos bêbados, seminus e fazendo strip-tease, que aconteceu na cidade há um ano. Veja reportagem publicada num telejornal local.
A polícia agora inicia uma investigação para apurar se houve ou não corrupção de menores, já que, segundo a comissária da Vara, aliciar menores para venda de ingressos de um evento com bebidas alcoólicas é uma infração penal.
O Mirante da Raja já planeja um processo contra Cristiane. “Fomos totalmente enganados. Ela (Cristiane) chegou aqui e contratou o salão para uma festa de 15 anos”, comenta Núbia.
Cristiane, por outro lado, também promete processar o local. “Não me falaram que tinha que ter alvará. Eu tenho contrato, e eles nem me perguntaram que tipo de festa eu ia fazer”, diz.
Os pais de um menor que estava na festa procuraram nesta quarta-feira a Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente para denunciar Cristiane, alegando que não estavam cientes de que o filho iria a uma festa com bebida alcoólica.
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