Homens com filhos adultos vivenciam a paternidade novamente e contam as vantagens e desvantagens
Paternidade tardia não tem contraindicações. O que importa mesmo é se existe disponibilidade amorosa para acolher a criança que chega. Essa é a opinião de especialistas e homens que vivem isso em suas rotinas.
A história se repete quase sempre da mesma maneira. Eles tiveram filhos quando eram mais jovens. Dedicaram-se à família e ao trabalho e conquistaram razoável estabilidade profissional e financeira. Com filhos crescidos e encaminhados, resolvem trilhar o caminho da paternidade novamente – mesmo que isso coincida com a chegada de netos.
“Eu revivi através dos meus filhos”
O humorista Carlos Alberto de Nóbrega, aos 75 anos, é pais de seis filhos. O mais velho tem 48 anos e os mais novos, gêmeos, 11. “A diferença é enorme mesmo”, reconhece. “Quando Maria Fernanda e João Victor nasceram, eu já era avô há muito tempo. Tenho netas de 21 anos.”
Os benefícios observados pelo artista foram tantos que hoje ele se arrepende de não ter tido os filhos antes. “Eu ficava pensando que ia morrer na mesma idade dos meus pais, por volta dos 63. Isso mexia muito comigo e me fez adiar a paternidade. Hoje me arrependo muito. Eu revivi através dos meus filhos mais novos”, conta.
A chance dos pais ficarem “grávidos”
“Maria Fernanda e João Victor me fizeram não querer mais envelhecer. Fiquei com vontade de não ter cara de velho, fazer esportes com eles e participar das brincadeiras”, revela Carlos Alberto.
O analista de sistemas Felício Maurício Saccucci, 51, pai de quatro filhos, também vivenciou esse “segundo turno” da paternidade tardia. Seu filho mais velho tem 28 anos e o mais novo, Marcelo, quatro. Além do filho, outras crianças fazem parte de sua rotina: os dois netos, um de cinco anos e outro de um ano e meio. Pai e avô quase ao mesmo tempo, ele revela que adora poder conciliar as duas experiências. “Adoro ser avô e ser pai. Mas as duas funções são bem diferentes. Com meu filho sei que tenho responsabilidades, assim como tive com os mais velhos. O meu neto tem o pai dele, este sim tem a responsabilidade de criá-lo”, afirma.
Mais atenção
Homens que já têm filhos sabem o que virá pela frente, e a nova paternidade deve ser encarada como uma oportunidade de aperfeiçoar suas habilidades paternas. “Os pais aprendem muito com os filhos mais velhos, e podem fazer tudo muito melhor, sempre. O primeiro filho é mais difícil de criar. É comum que erros sejam cometidos com mais frequência na criação do mais velho”, pondera Soely Kardosh, psicóloga e psicoterapeuta de família.
Eles criaram seus filhos sozinhos
O advogado e economista Geraldo Michelotti, 67, conta que trabalhava muito e não participou da criação dos dois filhos mais velhos como faz hoje com os mais novos – algo comum entre os pais de segunda viagem. “Eu sei cada traço das personalidades dos meus dois caçulas. Hoje enxergo que não conhecia os meus filhos mais velhos quando eles estavam crescendo”, revela.
Rejuvenescimento
Claro que existem preocupações quando se é pai na casa dos 50, 60 anos ou mais velho. Carlos Alberto confessa que fica entristecido em pensar que não vai acompanhar a vida de seus caçulas tanto quanto gostaria. “Sempre fui muito presente na vida dos meus filhos mais velhos e penso que, com os mais novos, estarei menos tempo por perto”, admite. Geraldo compartilha o sentimento do humorista. Pai de quatro filhos, cujas idades vão de 35 a seis anos, ele diz que não gosta de pensar no assunto. “Dá uma grande tristeza imaginar que não vou estar por perto sempre que precisarem.”
Felício faz coro: “quando o Marcelo tiver 20 anos vou ter quase 70. É uma preocupação com a fase adulta do filho, coisa que eu não tinha com os outros. Mas sei que a qualidade do tempo que passamos juntos vai ser mais importante do que a quantidade”, afirma.
Contrariando o sentimento dos pais mais velhos, a psicoterapeuta e autora do livro “Teias” (Ed. Larousse) Maria Tereza Maldonado não enxerga a idade avançada como um problema. “A vida é imprevisível. Idade não á garantia de vida longa”, enfatiza.
“Crianças fazem muito bem para pessoas mais velhas”, afirma Soely Kardosh, psicóloga e psicoterapeuta de família. Assim como um pai mais maduro também pode trazer muitos benefícios para a criança, que precisa ser guiada e orientada, o que pode ser beneficiado pela experiência do pai..
Apenas se sentir mais jovem com a chegada de um filho não basta. Os homens precisam realmente estar em dia com a saúde. Criança demanda grande energia e disposição. Não é por que o pai é mais velho que apenas a mãe tem obrigação de levar o filho no parquinho ou ensiná-lo a andar de bicicleta. “O homem precisa participar, saber das novidades do mundo infantil. Hoje em dia isso tudo é muito mais fácil porque as pessoas estão cada vez mais ativas, exercitam-se bastante”, diz Soely.
Estrutura familiar
Estrutura familiar
Maria Tereza Maldonado afirma que as estruturas familiares estão mudando, e que isso deve ser levado em conta na decisão de ter um filho temporão. “É importante frisar que as famílias estão passando por transformações. São segundos, terceiros casamentos. Irmãos por parte de pai, irmão por parte de mãe. Enfim, em cada uma delas existem desafios e possibilidades de convívio harmônico”, diz.
O pai que mudou a Justiça após perder tudo para salvar o filho
De acordo com Soely Kardosh, a possibilidade de haver conflitos entre os filhos mais velhos e os mais novos é muito pequena se a separação dos pais foi bem resolvida. “Sabemos que pode acontecer competição entre os filhos e também ciúme. Mas difícil mesmo é quando o pai inicia um segundo relacionamento ainda estando casado. Neste cenário, é complicado para os filhos mais velhos aceitarem a chegada dos mais novos”, explica.
Por outro lado, quando não há problemas como estes na família, os irmãos mais velhos podem participar ativamente no cuidado e na criação do caçula. “Essa é uma maneira de formar um ciclo familiar de acolhimento e participação bastante ativa”, afirma Maria Tereza.
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