Atacar a geladeira à noite é sinal de problema
O comportamento caracteriza uma síndrome que afeta 1,5 % da população
Foto: Getty Images/Photodisc
Comilança exagerada: compulsão pode ter origens diversasDurante o dia, você procura manter uma alimentação equilibrada, sempre de olho no ponteiro da balança. Mas, à medida que a noite chega, a vontade de comer se torna incontrolável e as visitas à cozinha se tornam cada vez mais frequentes.
Para quem se identificou com o quadro, um aviso: esse é um dos principais sintomas da Síndrome do Comer Noturno (SCN), distúrbio que atinge cerca de 1,5% da população e pode ter origem multifatorial, entre questões genéticas, familiares, psicológicas e culturais.
“Ele parece representar um novo transtorno a ser incluído na categoria de Transtornos Alimentares Não-Especificados, ou seja, cujos critérios ainda não estão bem definidos”, explica Ana Maria Devoraes, nutricionista do Programa de Orientação e Assistência a Pacientes com Transtornos Alimentares (Proata), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Apesar de ser uma síndrome pouco conhecida – ela foi descrita pela primeira vez em 1955, mas o assunto foi retomado devido à relação entre a obesidade e esta condição – muitas de suas características já estão bem definidas. A principal delas é a falta de apetite no período da manhã e uma comilança exagerada após a última refeição – em média, correspondente a 50% do consumo calórico diário.
Reflexos do descontrole
O mais curioso é que há casos de pessoas que não se lembram do que aconteceu e só desconfiam da situação quando encontram vestígios de comida espalhados pela casa. De acordo com Maria Angélica Nunes, psiquiatra do Grupo de Estudo e Assistência em Transtornos Alimentares (Geata), de Porto Alegre, os alimentos preferidos pelos portadores da SCN são aqueles ricos em carboidratos e gorduras. “No geral, eles ingerem a comida praticamente sem mastigar e às escondidas, reduzindo provisoriamente a ansiedade”.
Como dá para imaginar, o ganho de peso é uma das conseqüências provocadas pela doença (tanto é que 10% dos indivíduos obesos são caracterizados como comedores noturnos). Além disso, o fato do descontrole alimentar acontecer justamente no período reservado ao sono faz com que a irritação e o cansaço se tornem frequentes no dia a dia. Isso sem falar nos sentimentos de culpa e inferioridade que costumam surgir depois das crises, muitas vezes acompanhados de sintomas de depressão.
De volta aos eixos
Antes de tudo vale ressaltar que um ataque ou outro à geladeira é normal! Para receber a definição de síndrome, os episódios de comilança noturna e as alterações de comportamento devem acontecer há pelo menos três meses. “Mas a pessoa também não precisa preencher todos os critérios para ser diagnosticada com problemas de ordem alimentar e necessitar de cuidados especializados” observa a nutricionista da Unifesp.
O tratamento pode incluir o uso de medicamentos, além de psicoterapia para lidar com a ansiedade e o estresse e acompanhamento nutricional com a finalidade de melhorar os hábitos alimentares diurnos e reduzir a fome à noite. “O paciente precisa contar com o apoio de uma equipe multidisciplinar e especializada”, resume Maria Angélica. Não hesite, portanto, em procurar ajuda: este é o primeiro passo para se ver livre do pesadelo e desfrutar de boas noites de sono.
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