"Bariátrica teen" vira opção para filhos obesos
Técnica pode ter efeito colateral e só pode ser feita em adolescentes com mais de 16 anos
A mãe de meninos e meninas obesos sabe que os filhos estão sempre no alvo. As pesquisas já mostram que, ao mesmo tempo em que são citados como mais vulneráveis aos “problemas de adulto”, tipo hipertensão e diabetes, eles também são mais numerosos nas estatísticas de vítimas de piadinhas cruéis dos amigos em sala de aula.
O sofrimento – físico e psicológico – do público infantil com o peso é tanto que, mesmo eles tendo uma jornada pela frente para conseguir mudar os hábitos de vida e entrar em harmonia com os ponteiros da balança, a alternativa extrema de uma cirurgia de redução de estômago já aparece na adolescência.
A chamada “cirurgia bariátrica” deixou de ser opção só para adultos e exige que os médicos tenham um olhar especial para esta parcela de pacientes precocemente classificada como obesa mórbida.
No Brasil faltam números oficiais para contabilizar quantas das 30 mil bariátricas feitas todo são destinadas aos pacientes com menos de 18 anos de idade. Mas o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica (SBCB), o cirurgião Thomas Szego, afirma que o número cresce seguindo o gráfico que mensura a quantidade de adolescentes com sobrepeso no País – hoje estimados em 30% da população jovem.
Por isso hoje já existe um protocolo para definir quais pacientes infantis podem ser submetidos à técnica cirúrgica. “A idade mínima é 16 anos (nas diretrizes brasileiras) e este paciente precisa ser muito bem avaliado pela equipe clínica”, afirma Szego.
Segundo ele, não é só saber se o IMC (o Índice de Massa Corpórea, resultado da divisão do peso pela altura ao quadrado) é maior do que 40, mas também fazer um trabalho psicológico capaz de apurar se os meninos e meninas estão prontos para uma operação deste porte.
“A participação dos pais é obrigatória no processo. Eles precisam ser envolvidos porque a mudança na dieta e nos hábitos de vida, necessários após a operação, é o que garante a saúde do paciente e a o sucesso na eliminação de quilos”, afirma o presidente da SBCB.
Bullying
O envolvimento dos pais é essencial não só no pós-cirúrgico, mas também antes da cirurgia bariátrica ser escolhida como uma opção. Muitas vezes não é um problema físico que faz as crianças e adolescentes obesos cogitarem a realização de medidas extremas para emagrecer.
Uma pesquisa publicada no jornal médico Pediatrics ouviu 5.165 meninos e meninas entre 11 e 16 anos matriculados em escolas do Canadá e concluiu que os com sobrepeso sofriam mais bullying escolar (as tais piadinhas cruéis e perseguições dos colegas) do que os garotos com peso normal. A variação estatística chegou a 3 vezes na comparação dos dois grupos.
Foi por causa de uma dessas agressões verbais que Brittany Cesar, moradora do Estado do Texas, nos Estados Unidos, entrou para a história da medicina como a paciente mais jovem a fazer uma bariátrica. Ela tinha 14 anos e pesava 183 quilos. Ao jornal New York Times, Brittany disse que se preparava para comer “os dois cheesebúrgueres, duas porções de fritas e um refrigerante” na hora do recreio quando foi ofendida de forma muito cruel por uma das colegas. “Por que come tanto? Você não é normal”, disparou a menina.
Ela foi operada em 2003 no Hospital Infantil do Texas. Hoje, cinco anos depois, ela está com 19 anos e pesa 80 kg – e a mesma unidade de saúde já realiza uma média de duas cirurgias pediátricas do tipo por mês.
Herança de família
Além de estarem atentos ao cenário em que os filhos obesos estão inseridos fora de casa, os pais também devem olhar para dentro de suas residências para encontrar a origem da obesidade infantil.
De acordo com um estudo feito pelo Instituto do Coração de São Paulo (Incor) – que acaba de ser publicado no Arquivo Brasileiro de Cardiologia – a análise de 2.125 adolescentes matriculados em escolas públicas e particulares de São Paulo (média de idade de 12,9 anos) mostrou que entre obesos (22% da amostra), 40% deles tinham pais diabéticos e hipertensos e 41% comiam sal em excesso nas refeições caseiras.
Elsa Giugliani, coordenadora de Saúde da Criança do Ministério da Saúde, afirmou durante a Conferência Latino Americana de Diabetes, realizada no Brasil, que é impossível promover um padrão alimentar de qualidade aos filhos se os pais não forem exemplo. “Nenhuma criança vai pedir para por salada no prato se não ver que a mãe come alface também”, diz ela.
Acumular anos de rotina desregrada de alimentação e pouca atividade física não é “passe livre” para uma cirurgia bariátrica na adolescência. O cirurgião Thomas Szego diz que a operação só pode ser considerada como alternativa quando todas as outras estratégias já foram cessadas. Não podem ser descartados ainda os efeitos colaterais creditados à cirurgia, como embolia pulmonar, hérnia, úlcera e obstrução do intestino após a operação, já ressaltados na Revista da Associação Médica Brasileira. Além disso, alguns especialistas são receosos com a intervenção do bisturi muito cedo, pois o adolescente pode estar ainda em fase de crescimento.
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