Cortar o cordão umbilical, dar o primeiro banho e aproveitar para fazer exames são estratégias para melhorar a saúde deles
O Ministério da Saúde quer aproveitar a paternidade para melhorar os indicadores de saúde dos homens.
Reunião com especialistas da área definiu uma espécie de “pré-natal do papai”, que deve ocorrer com os cuidados gestacionais da mulher.
A proposta já está em andamento – de forma experimental – em algumas cidades brasileiras (como São Paulo, Ourinhos, Campinas e Rio de Janeiro) e a ideia é padronizar as estratégias e recomendações em todas as unidades básicas de saúde do País.
“Buscamos trabalhar com as coordenações Estaduais e Municipais de Saúde do Homem para incentivar a participação dos pais no pré-natal, parto e pós-parto”, afirma Eduardo S. Chakora, coordenador da Área Técnica de Saúde Masculina do Ministério.
Cortar o cordão umbilical do bebê, ajudar no primeiro banho das crianças e divulgar o direito dos pais de acompanhar o parto nos hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS) estão entre as recomendações definidas para todo o território nacional, diz Chakora.
Além do papel mais participativo dos homens no momento do nascimento das crianças, o pré-natal masculino também visa aproximar os adultos do cuidado preventivo. Os “grávidos” serão estimulados a fazer exames que detectam aids , sífilis e hepatites virais , além de fazer visitas ao cardiologista e urologista.
“Queremos oferecer horários alternativos (de funcionamento dos serviços de saúde), tais como sábados e terceiro turno, para consultas, atividades de grupo e visitas às enfermarias, para facilitar a presença dos pais que trabalham”, completa o coordenador.
Sexo frágil
As sociedades médicas brasileiras – Urologia, Cardiologia e Psiquiatria – já em 2010 alertaram que os indicadores de saúde masculina apresentam desvantagem em relação aos de saúde feminina. Por isso, criaram uma comissão nacional para melhorar os dados.
Os homens hoje vivem oito anos a menos do que as mulheres, reúnem o dobro de casos de mortes cardíacas, fumam e bebem o dobro em relação a elas (e por isso são maioria em câncer de pulmão , boca e laringe) e ainda englobam 80% dos mortos em acidentes de trânsito e homicídio.
A fragilidade masculina em relação à saúde está baseada em padrões culturais que por anos mantiveram os homens afastados dos médicos.
“O próprio termo ‘saúde masculina’ é recente. Antes só existia saúde da criança e saúde da mulher”, afirma o professor de urologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, André Cavalcanti.
“A política nacional para eles começa a ser desenhada apenas em 2007. Agora estamos colhendo os primeiros frutos da mudança”, completa.
Segundo o especialista, hoje já há menos preconceito em fazer exames de próstata, o grande tabu. Além disso, a melhora dos tratamentos para a disfunção erétil também fez com que os homens mais velhos perdessem o receio de procurar tratamentos, que exigem avaliação não apenas da saúde sexual, mas do funcionamento do corpo e da mente.
“Outro sinal de mudança é que, além das esposas – que sempre foram as grandes incentivadoras das consultas dos homens – os filhos adultos passaram a desempenhar papel de destaque na condução dos pais aos consultórios médicos”, atesta André Cavalcanti. Para ele, um sinal de que a geração mais nova está mais comprometida com a própria saúde e com a saúde da família.
O urologista do Hospital Edmundo Vasconcelos, Fernando Almeida, também acredita que a resistência dos homens aos cuidados médicos tem diminuído.
“Mas ainda há uma postura de só procurar o consultório depois que o problema aparece e não de forma preventiva. Isso precisa mudar para reduzir a mortalidade e ampliar a qualidade de vida.”
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