Aceitar opiniões, manter o diálogo e incluir familiares nas degustações e nas provas: especialistas dão dicas para as noivas contornarem os conflitos mais comuns
Imagine a cena: a marcha nupcial toca e a noiva caminha para o altar, acompanhada pelo pai. De repente, uma mulher se aproxima e arranca a noiva dos braços do homem. Uma maluca? Não. Apenas a mãe da noiva, que deixou aflorar, bem no dia do casamento da filha, toda a amargura pelo pai ausente que o ex-marido fora. A história, que poderia fazer parte de uma novela, aconteceu mesmo e foi testemunhada pelo assessor de casamento Ricardo Ranier.
Cláudia Puntel, psicóloga e coach de noivas, afirma que não é incomum ver algumas emoções atingirem o ápice durante esse tipo de evento. “O casamento é como uma lente de aumento focada em relacionamentos que já existem”, diz.
A noiva Soraya Caliope também se viu em uma situação delicada durante a organização do seu casamento. Depois de um namoro de oito anos, que não contava com a aprovação da família, Soraya resolveu se casar. Além de mais velho, o noivo era de outra religião. Contrariada com a decisão da neta, a avó de Soraya, que a criou, passou a cerimônia toda chorando. “Depois que a cerimônia acabou, todo mundo ficou feliz e os problemas terminaram. Parecia que estavam apenas nos desafiando”, relembra Soraya.
Como contornar os conflitos simples
Para contornar momentos de turbulência, o casal precisa ter disponibilidade emocional para lidar com amigos e familiares durante este período. Por mais decididos que estejam sobre o que desejam na sua festa, os noivos devem estar abertos a ouvir opiniões de outras pessoas. “Casamento sempre vai ser um evento em que a família acaba participando”, comenta Vera Simão. “Todo mundo se sente um pouco dono da festa”, diz Renata Trigueiro, assessora e sócia da Casório Perfeito.
Para driblar as demandas, por que não levar a sogra para experimentar os doces ou o jantar ? Ou até mesmo pedir ajuda para a irmã organizar o chá de cozinha? Tudo isso, segundo os especialistas, não tira a o poder de decisão dos noivos e ainda faz com que as pessoas se sintam importantes na vida do casal.
De acordo com Renata, a noiva deve deixar seus gostos claros. Assim consegue pedir ajuda aos amigos e familiares sem perder a identidade da festa. “Uma noiva muito radical pode machucar o sentimento dos que estão a sua volta”, diz Cláudia.
Ricardo Rainer sugere a primeira prova do vestido como um bom momento para ser dividido com a família. Mesmo que a noiva já tenha escolhido o modelo, ainda assim é um jeito de não deixar as pessoas queridas de lado. “É emocionante. É bom levar a mãe, a irmã e até o pai”, diz Rainer. A escolha dos arranjos também pode ser feita com ajuda dos familiares. “A única coisa que não costumo indicar é dividir a escolha das músicas. Elas têm que ter a cara do casal”, diz Ranier.
Indo a fundo em conflitos complicados
Mas quando equilibrar as vontades não é o bastante, vale observar mais de perto quais são as raízes das brigas. “Nem sempre o conflito pelo docinho é por causa do docinho. Muitas vezes tem a ver com ego e com vaidade”, exemplifica a psicóloga Cláudia Puntel.
Hoje casada há 11 anos, Soraya relembra que a hostilidade velada durante a organização de seu casamento e o conflito direto com sua avó no dia da cerimônia tiveram um motivo menos óbvio. “Na minha família, todos me protegiam muito, porque eu perdi meu pai muito cedo. Achavam melhor que eu não casasse, para ficar na mesma casa”, diz Soraya.
O diálogo entre o casal e as famílias deve estar sempre aberto. Soraya conta que a conversa foi importante para que sua família aceitasse sua decisão de casar com o namorado. “Acho que é preciso pensar na família quando se faz um casamento. São essas pessoas que vão nos ajudar depois. Tudo o que eu fazia era com cautela, sempre conversando com a minha avó. Durante a cerimônia, quando chegou a hora de cumprimentar os familiares, eu a abracei e falei ‘estou feliz’. Isso deixou minha avó muito mais tranquila. Ela parou de chorar e aproveitou a festa”, conta Soraya.
Cláudia recomenda que cada um tente apaziguar os conflitos com seus respectivos familiares. “Às vezes a sogra não se dá muito bem com a noiva e interfere demais no casamento. É o caso do noivo entrar em cena, afinal, a mãe é dele. Se o problema for com a mãe da noiva, ela que deve cuidar disso também”, comenta a psicóloga.
Quem paga a conta?
Uma das principais razões dos conflitos durante a organização do casamento é dinheiro. Normalmente quem paga a festa quer ter o poder de decisão, mesmo quando seus gostos não têm nada a ver com o dos noivos.
Segundo os assessores, mesmo arcando com as despesas do casamento, a família não pode escolher tudo. “A noiva deve deixar claro que é casamento é dela e que a sogra ou a mãe já tiveram a oportunidade de fazer o que queriam e definir suas listas de convidados quando se casaram”, aconselha Rainer.
De acordo com Vera Simão, aquela velha ideia de que a família do noivo arca com a festa não serve mais. Muitos casais optam por pagar pelo próprio casamento justamente para se sentirem mais livres nas escolhas que deverão fazer. “O mais importante é lembrar que o casamento é uma data para celebrar o amor e evitar conflito é muito importante”, finaliza.
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