Aspectos de saúde são bem valorizados, mas desenvolvimento emocional dos filhos ainda é deixado em segundo plano
Se o seu filho tem entre zero e seis anos, o que é mais importante para ele: brincar ou tomar as vacinas recomendadas para a fase? Segundo o II Simpósio Internacional de Desenvolvimento da Primeira Infância, realizado em São Paulo no final da semana passada, a maioria dos pais escolhe a segunda opção. Não que eles estejam errados. Mas, para os especialistas presentes no evento, a primeira alternativa é tão importante quanto.
A pesquisa “A percepção da sociedade brasileira a respeito do desenvolvimento da Primeira Infância (0 a 3 anos)”, realizada pela Fundação Maria Cecília Souto Vidigal em parceria com o Ibope, foi apresentada na quinta-feira (13) pela diretora executiva do Instituto Paulo Montenegro/Ibope, Ana Lúcia Lima. Em entrevistas realizadas com mais de 200 mães com filhos de até um ano e mais de duas mil pessoas de diferentes faixas etárias e classes sociais no período de abril a julho de 2012, foi constatado que os aspectos médicos e biológicos das crianças são bem valorizados em comparação aos aspectos emocionais.
O estudo mostra não só as prioridades das mães em relação aos filhos pequenos, mas também o que fica em segundo plano. Reunimos os principais dados apresentados e, com esclarecimentos de Ana Lúcia, do Professor da Faculdade de Psicologia da USP, Yves de La Taille, e do médico especialista em desenvolvimento infantil e consultor da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, Saul Cypel, descubra quais são os principais acertos e erros em relação ao desenvolvimento inicial das crianças.
Pré-natal e visita ao pediatra são considerados os principais aspectos para desenvolvimento
69% dos entrevistados acreditam que o pré-natal é o mais importante a se fazer para que o bebê se desenvolva bem no útero da mãe. Não à toa, nesta mesma semana foi divulgada a queda de 73% no número de mortes de crianças menores de cinco anos em 2011 no Brasil.
Para o desenvolvimento do bebê entre zero e três anos, 51% dos entrevistados consideram que visitas regulares ao pediatra e dar as vacinas recomendadas são as atitudes que mais contam. A pesquisa aponta que 96% dos bebês de até um ano das mães entrevistadas já tinham feito consultas de rotina, número que mostra a alta preocupação das mães com a visita ao pediatra.
Mas, por outro lado, somente 25% acreditam que as crianças começam a aprender assim que nascem . 21% consideram que elas só começam a aprender após os seis meses e 17%, após um ano de idade. Estas concepções são erradas, segundo Yves de La Taille. “Nasceu, começa a aprender”, disse ele durante o Simpósio.
De acordo com Saul Cypel, há estudos que demonstram que o aprendizado começa antes mesmo do nascimento, na vida intrauterina. Um exemplo é a relação do bebê já nascido com a música escutada ainda dentro do útero da mãe: ao ouvi-la novamente, ele provavelmente irá mamar com mais vontade. “Subestimamos a compreensão do bebê”, diz Saul.
Isso explica porque os entrevistados não valorizam tanto a conversa com os filhos após nascimento. Segundo a pesquisa, 24% consideram importante conversar com o bebê ainda no útero, enquanto 19%, após o nascimento. As porcentagens são muito pequenas.
O vínculo com o bebê deve sim começar no útero e Saul indica que, depois de nascer, acolhimento não é só dar o peito. “Deve-se conversar e brincar com o bebê desde muito cedo”, diz. Obrincar , inclusive, “não é espontaneamente valorizado”, de acordo com Ana Lúcia, mas ao lado do conversar é fundamental para que a criança tenha um aprendizado emocional que a prepare para a complexidade da vida no futuro.
Estabelecer limites continua sendo difícil
Apenas 17% das mães consideram que a adaptação da criança à rotina, como dormir no horário pré-definido, é um sinal de desenvolvimento. Essa porcentagem mostra, segundo Ana Lúcia, a dificuldade de estabelecer limites . Aí também entraria o papel do pai, que não corresponde às expectativas: 64% esperam que ele imponha limites e diga não, mas apenas 43% o fazem.
Impor limites ainda é confundido como falta de carinho. “Afeto não quer dizer permitir tudo ao filho”, diz Saul. Os pais devem colocar os limites desde o início e organizar uma rotina para que isso aconteça. De preferência, com acesso limitado à televisão.
25% dos entrevistados acreditam que assistir desenhos ou programas infantis estimula as crianças e 55% das mães deixam seus filhos o fazerem. De acordo com Yves, a televisão é sim um estímulo, mas depende de como os pais a utilizam. Se deixarem o aparelho ser uma babá eletrônica, a criança será bombardeada com propagandas que podem estimular o consumismo infantil .
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