Número de pacientes da terceira idade cresce cada vez mais nos consultórios de cirurgia plástica
Aos 83 anos, Marie Kolstad tem uma vida rica. Tem um emprego de período integral e uma vida social ativa, ocupada com 12 netos e 13 bisnetos. Mas havia uma coisa que precisava melhorar, diz ela: seu corpo. Na sua idade, diz Marie, “seus seios vão para um lado e seu cérebro para outro”. Então, há algumas semanas, a viúva californiana se submeteu a uma cirurgia de três horas para levantar e colocar implantes nos seios – operação que custou cerca de 13 mil reais.
“Fisicamente, estou em boa saúde, e sinto que devo tirar vantagem disso”, afirma. “Minha mãe viveu muitos anos, e deduzo que é isso que vai acontecer comigo também. E quero que minhas crianças tenham orgulho de minha aparência”.
Marie é uma das muitas septuagenárias, octogenárias e até nonagenárias que estão lustrando seus anos de ouro com a ajuda de cirurgiões plásticos. De acordo com a Sociedade Americana de Cirurgia Plástica Estética, em 2010 houve 84.685 procedimentos cirúrgicos em paciente de 65 anos ou mais. Eles incluem 26.635 lifts de face; 24.783 operações de pálpebra; 6.469 lipoaspirações; 5.874 reduções de seios; 3.875 lifts na testa; 3.339 lifts de seio e 2.414 implantes de seios.
Com exceção de um breve período durante a recessão americana, esses números vêm crescendo de forma consistente há anos, e especialistas dizem que a tendência é que o crescimento acelere agora que os baby boomers estão passando dos 65 e entrando na terceira idade. Mas o crescimento da prática também aumenta a preocupação sobre segurança.
Por quê?
As razões para fazer cirurgia em pacientes mais velhos são tão variadas quanto os próprios pacientes, dizem especialistas. Alguns chegam saudáveis a uma idade mais avançada e querem que seu físico esteja de acordo. Outros buscam novos parceiros. Há os que ainda estão trabalhando ou procurando trabalho, e querem parecer tão jovens quanto seus concorrentes.
E outros estão simplesmente cansados de queixos duplos, braços que balançam e pálpebras caídas.
Gilbert Meyer, um produtor aposentado que sobre sua idade revela apenas ser “acima de 75”, procurou um cirurgião plástico no ano passado para operar a pálpebra e o pescoço. “Estava me olhando no espelho e não gostei do que estava começando a ver. Então decidi fazer algo a respeito”, diz Meyer. “Por que não ter a aparência tão boa quanto puder quando puder?”
Mary Graham, uma dona de restaurante de 77 anos, fez um lifting facial e colocou implantes nos seios no começo do ano. “Só vou ao médico para fazer plástica”, diz. Mary planeja abrir um novo restaurante nos próximos meses. “Trabalho sete dias por semana. Quero que minha aparência seja tão jovial quanto me sinto”.
O cirurgião de Mary, Daniel Man, afirma que tem visto um número cada vez maior de pacientes acima dos 70 anos. “Essas pessoas são saudáveis e querem ser uma parte ativa da sociedade”.
Riscos
Qualquer tipo de cirurgia apresenta riscos. Mas são poucos os estudos que focam em pacientes mais velhos que se submetem a cirurgias estéticas. Um deles, publicado em junho, aponta que os riscos na população acima de 65 anos não são maiores do que no resto da população. Pesquisadores da Cleveland Clinic revisaram o histórico médico de 216 pacientes que se submeteram a liftings faciais ao longo de três anos. Eles não encontraram diferenças significativas no número de complicações ao comparar pacientes com idade média de 70ª um grupo com média de 57 anos.
“O que estamos dizendo é que não é a idade cronológica que é tão importante, mas sim os aspectos fisiológicos”, diz James E. Zins, autor do estudo e chefe do departamento de cirurgia plástica da Cleveland Clinic.
Todos os pacientes de seu estudo passaram por testes para diagnosticar problemas de saúde como doenças cardíacas e pulmonares, diabetes e pressão alta, além do uso de medicamentos como anticoagulantes, que poderiam causar complicações. Mas nem todos os pacientes maduros pode ser tão selecionados, então suas descobertas não significam necessariamente que os riscos sejam mínimos entre os pacientes idosos.
“Existe uma idade em que teoricamente as complicações se tornam mais prováveis?”, questiona. “Isso significa que pacientes de 75 anos podem se submeter a um lifting facial com o mesmo risco de complicações dos pacientes mais jovens. Não temos números suficientes para responder a esta questão”.
Liftings faciais podem ser realizados com sedação, mas outros procedimentos precisam de anestesia geral, o que pode ser arriscado em pacientes idosos. Os mais velhos também podem demorar mais a se recuperar, e o resultado pode não durar tanto, diz o cirurgião plástico Michael Niccole.
Críticas
Alguns críticos da tendência questionam se os benefícios são maiores que os riscos, que, por sua vez, podem ser subestimados. Harriet A. Washington, autora de dois livros sobre ética médica, pergunta como pacientes mais velhos podem fazer uma opção consciente quando tão pouco é sabido sobre os riscos, especialmente para aqueles com condições crônicas, como diabetes, osteoporose e problemas cardíacos. “É uma daquelas coisas que começam a se infiltrar entre nós, e acho que, como de hábito, nós aceitamos a tecnologia antes de termos realmente aceitado questões e dimensões éticas”, diz.
E enquanto a maior parte dos estudos indica que as pessoas se beneficiam psicologiamente dos prtocedimentos estéticos, uma minoria passa por alguma “turbulência emocional”, diz David Sarwer, professor de psicologia da University of Pennsylvania School of Medicine.
“Há repercussões psicológicas reais a esses procedimentos, que frequentemente não são descritas no processo de consentimento”, afirma.
Estranheza
Mas, supondo-se que o paciente é saudável, cumpre os pré-requisitos e entende os riscos, por que as pessoas costumam ficar tão melindradas com a idéia de idosos se submetendo a cirurgias plásticas?
Nancy Etcoff, professora-assistente da Harvard Medical School que estuda biologia e crenças sociais sobre beleza, acredita que isso acontece devido aos sentimentos dúbios que nossa cultura tem em relação a idosos à procura de parceiros. “Parte de nosso estereótipo dos idosos é que eles são pessoas sociais, queridas e afetuosas, mas sem força e sem sexo”, afirma. “Estamos na era do Viagra, que é muito bem aceito, mas de repente a ideia de idosos, ou, principalmente, idosas, querendo ser sexualmente atraente em sua idade nos deixa desconfortáveis. Se uma idosa quer recuperar suas pálpebras ou ter seios que ela não precisa esconder sob uma cinta, por que não?”
Marie se perguntou a mesma coisa.
“No meu tempo, ninguém pensava em aumentar os seios nem nada assim”, diz. “Mas hoje em dia as mulheres saem e nunca recebem uma segunda olhada se aparentam sua idade. Acho que você deve manter sua aparência física, mesmo que você só queira uma companhia ou alguém que te convide para jantar. E isso não vai acontecer se você não tiver a aparência que eles querem”.
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