domingo, 12 de fevereiro de 2012

Crianças na plateia: um guia para os pais

O que pais e mães dispostos a levar seus filhos ao cinema, shows e teatro devem saber

Cultura não tem classificação etária. Estimular o filho para o novo, para as artes, faz parte das obrigações dos pais. Para ajudar nesta tarefa, respondemos as principais dúvidas dos pais na hora de levar os filhos a espetáculos de teatro, shows e cinema.

Qual a melhor idade para começar a levar os bebês a espetáculos?

De acordo com Luciane Motta, criadora da Casa do Brincar em São Paulo, até os três ou quatro meses, as crianças dormem muito. Depois dessa idade já é possível começar um trabalho de estimulação com os bebês, para ajudá-los a relaxar e prepará-los para as fases do desenvolvimento como sentar, engatinhar, andar. “A partir dos cinco ou seis meses nós começamos a trabalhar música com os bebês e as mães. É um trabalho muito mais de fortalecimento do vínculo entre a mãe e o bebê do que qualquer outra coisa”, explica Luciane.

 
Família com filhos no CineMaterna: sessões com som mais baixo e tapete para os bebês

O diretor e ator de teatro Luiz André Cherubini, do grupo Sobrevento, considera que desde o nascimento o ser humano é pleno e, por isso, está apto a perceber tudo que está a sua volta. Então, qualquer bebê pode participar de um espetáculo de teatro. “Uma criança não pode ser afastada deste encontro com outras pessoas. É como ouvir música. Não se pode querer de uma criança um entendimento lógico, porque arte não é feita para isso”, afirma. Para Cherubini, todo espetáculo tem que ser um encontro.

Quem assistiu às últimas peças do grupo em São Paulo – “Bailarina” e “Meu Jardim”, voltadas para bebês de seis meses a três anos – se espantou com os assentos para bebês. As crianças são liberadas para ir e vir enquanto atores continuam a se apresentar. Uma das propostas da peças era mostrar a pais e filhos que o bebê é um ser independente e autônomo dentro do espetáculo.

 Sessões especiais como as do CineMaterna, projeto nascido em 2008, oferecem uma opção de lazer às mães e bebês, desde os recém-nascidos até os 18 meses. A direção fez adaptações nas projeções. “Mantemos a luz acesa e o áudio mais baixo. Também evitamos filmes de terror ou que estimulem demais os bebês. Quando passamos ‘Ensaio sobre a Cegueira’, por exemplo, a certa altura todos os bebês adormeceram por causa da música. O som interfere muito sobre eles”, explica Alexandra Swerts, uma das fundadoras da ONG.

 
Duda em sessão de cinema para bebês: pipoca e brinquedos distraem as crianças

 

E ao cinema?

Há um tapete de atividades para os bebês desenvolverem atividades paralelas. E, para as crianças mais velhas, é oferecida outra sala com filmes infantis e tapetes de atividades.

O projeto está dando origem a uma nova geração de espectadores, habituados desde cedo a entender os códigos de uma sala de cinema. A engenheira Verônica Lassen começou a frequentar o cinema com a filha Duda quando ela tinha três meses.

“Existem poucos espaços direcionados a bebês menores de três anos. Ela foi curtindo e começou a perceber que aquele dia era de passear com a mamãe, foi ficando minha companheira”, conta Verônica. Hoje, com um ano e quatro meses, os programas culturais fazem parte da rotina de Duda. Ela vai ao teatro, shows, contação de histórias e participa ativamente, sem a mãe faça esforço para isso. “Não preciso interferir para que ela tenha atenção. O interesse é natural. Só precisa mostrar o caminho”, diz a mãe.

Como estimular as crianças a prestarem atenção?

Na hora do espetáculo, nada de tentar mediar o encontro do seu filho com o mundo imaginário. Uma simples frase como “Olha o cavalinho!” pode tirá-lo do encanto. “A criança está entendendo tudo. Os pais devem deixá-la se relacionar com aquele espetáculo do jeito que ela quiser. Todo teatro é um jogo”, explica Cherubini.

  
Duda em apresentação de "Meu Jardim": teatro para bebês
Georgia Baçvaroff leva o filho Caio, 4, ao teatro desde que ele tem um ano e seis meses. “Aos dois anos, o Caio já pedia para ir ao teatro. Ele gosta de repetir as peças preferidas, como ‘O Mágico de Oz’, ‘Os Três Porquinhos’ e ‘A Vaquinha Lelé’, bem como ‘Saltimbancos’, que já vimos 3 vezes”, diz a mãe.

Para estimulá-lo, Georgia conta histórias sobre as peças antes de ir aos espetáculos. “Tento explicar, de forma lúdica, o mundo da fantasia do teatro para o Caio. Acho que isso pode contribuir para a formação cultural dele na infância e também na vida adulta”, afirma Georgia.

 

  
Crianças na plateia do espetáculo "Bailarina", do grupo Sobrevento: 30 a 40 minutos de concentração

Por quanto tempo as crianças são capazes de se concentrar em um espetáculo?

Bebês menores de um ano se cansam mais facilmente. O tempo de atenção deles é em torno de 20 minutos. Nesta fase, dê preferência a apresentações de histórias curtas, com músicas, e teatro de fantoches. “Sou a favor de espetáculos livres para bebês. A duração é em torno de 30 minutos, mas normalmente dura o tempo que o grupo aguenta porque é um encontro”, explica Cherubini.

A partir de um ano, o tempo de atenção vai aumentando. Perto dos dois anos a criança já fica concentrada por até 30 ou 40 minutos numa atividade. Alguns pais já arriscam levar os filhos desta idade ao cinema, mas poucos realmente aguentam o filme todo. “Pode esperar até os três, três anos e meio para apreciar um cinema. Por volta dos quatro ou cinco anos, as crianças já deixam suas preferências bem claras e é possível negociar o tempo com elas”, explica Luciane Motta.

No CineMaterna, as crianças não ficam o tempo todo prestando atenção ao filme. “Quando se cansam elas brincam com os tapetes, comem pipoca, se distraem. Depois voltam a prestar atenção ao filme quando quiserem”, disse. Em uma sessão de cinema regular, isso seria impossível.

Embora apresentem fases de desenvolvimento semelhantes, o comportamento infantil é individual. “Tudo isso também está condicionado à personalidade e às preferências de cada criança, e a quanto ela foi exposta a atividades como musicalização, contação de histórias, teatrinhos, fantoches”, ressalta Luciane, da Casa do Brincar.

Como saber se a criança está gostando?

A interação é uma resposta positiva ao espetáculo. Quando o bebê assiste passivamente, de maneira prendida ou com palminha, é sinal de que a peça não está agradando. Não se acanhe em pegar seu filho e ir embora.

“O mais importante é que a criança se divirta, seja estimulada e brinque apenas pelo período em que estiver confortável e feliz. Nada deve ser imposto ou forçado”, explica Luciane Motta. Se a criança estiver gostando, vai dar sinais de que está envolvida na atividade. Como Duda, que no último show do Palavra Cantada podia ser vista na plateia cantando, dançando e batendo palminhas. “Ela vibra naturalmente”, explica a mãe Verônica Lassen

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