terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Qual mulher assusta os homens?

A fronteira entre os papéis do homem e da mulher está se dissolvendo. E esta transição não ocorre sem conflitos

 
 O homem teme a mulher que busca viver em sintonia com seus próprios desejos, sem se preocupar em corresponder às expectativas

Juliana, advogada de 32 anos, não consegue estabelecer uma relação amorosa satisfatória. “Não sei bem como agir com os homens. Acho que eles também não sabem como lidar com a mulher atual, se ela for independente e livre de preconceitos. Eu, por exemplo, não consigo fingir que não estou a fim se o lance que rola é legal e fico com tesão. Será que não posso ir para a cama com um homem quando tenho vontade? Mesmo que seja no primeiro encontro? Ou será que o fato de ganhar mais dinheiro do que a maioria deles é que os assusta? Não consigo entender bem o que acontece, só sei que é muito difícil encontrar alguém para me relacionar”.

Acho que Juliana tem razão, homens e mulheres estão meio perdidos mesmo. Principalmente os homens. Os papéis masculinos e femininos sempre foram muito bem definidos. O homem para ser considerado masculino tinha que ser corajoso, ousado, e nunca falhar, no sexo principalmente. Da mulher feminina esperava-se que fosse meiga, gentil, compreensiva, deixasse claro que não gostava muito de sexo e se esforçasse, acima de tudo, para corresponder ao que o homem esperava dela.

A partir da década de 60 as mulheres começaram a mudar. Exigiram igualdade de direitos e liberdade sexual. A fronteira entre os papéis do homem e da mulher está, desde essa época, se dissolvendo. E isso é ótimo. Só que esta transição não ocorre sem conflitos.

Os homens assistiram de braços cruzados às reivindicações femininas, sem perceber que eles também tinham do que se libertar. Somente de uns 20 anos para cá começaram a se dar conta de que o ideal masculino da nossa cultura — força, sucesso, poder — os oprime, e muito. Mas eles ainda estão sem saber muito bem como agir. O homem machista, que eles aprenderam a valorizar, é cada vez menos aceito e desejado. O que fazer então? Como se relacionar com uma mulher? Que padrão de comportamento adotar?

Para complicar mais as coisas, na área sexual é que os conflitos são ainda maiores. Hoje já não cabe mais a distinção entre mulheres de programa e mulheres para namorar ou casar. Todos já sabem que é muito melhor ter uma vida sexualmente intensa com a própria namorada. Mas isso gera insegurança. Por outro lado, a moça recatada, que antigamente se escolhia para esposa, não satisfaz sexualmente. E agora?

Quanto a não assustar o homem, creio que ele não teme a mulher independente, que ganha seu próprio sustento. E sim a mulher autônoma, aquela que tem uma nova visão do amor, do sexo e do mundo. Ele teme a mulher que não se sujeita aos valores impostos pela sociedade e que busca viver em sintonia com seus próprios desejos

A historiadora canadense Bonnie Kreps acredita que a autonomia das mulheres é ameaçadora a todos os homens que são influenciados pelo mito da masculinidade, sendo que o grau de ameaça sentido por um homem está diretamente relacionado com o grau de influência do mito sobre ele. Uma mulher autônoma, por sua própria existência, afirma duas coisas que nenhum homem masculino quer ouvir: “Não conte comigo para alimentar sua adequação”, e ainda pior, “Não conte comigo para deixar que você continue a vencer”. Essas palavras, e especialmente os atos, são coisas proibidas no jogo masculino/feminino.

Entretanto, como estamos vivendo um período de transição, acredito que as pessoas devem ser o mais possível espontâneas. E quanto mais elas se libertarem dos valores patriarcais, ou seja, machistas, mais livres e prazerosos vão ser os encontros entre os sexos, inclusive na cama. Estaremos então caminhando para uma sociedade de parceria entre homens e mulheres, onde não haverá motivo para ninguém se sentir assustado

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