Da amamentação a conversas honestas: saiba como lidar com a culpa ao voltar para o trabalho depois da maternidade
Há maneira de se livrar da culpa que boa parte das mulheres que se tornam mães sentem na hora de voltar para o trabalho? Se não, é preciso ao menos não cair nas armadilhas deste sentimento comum e avassalador. "A mãe que fica culpada fica boba", diz Roberta Palermo, terapeuta familiar, autora de "Babá/Mãe – Manual de Instruções" (Summus Editorial) e mãe de um menino de 8 anos - que foi para a escolinha com um ano e meio, enquanto Roberta retomava suas atividades.
Conversamos com profissionais de diferentes áreas para reunir conselhos e dicas úteis para as mães deixarem a culpa para trás - e voltarem ao trabalho motivadas e dispostas. E assim, por que não, se aprimorarem também como mães.
1. Confie no cuidador
Na sua ausência, a criança vai ficar sob os cuidados de alguém da família, de uma babá ou de uma escolinha? Não existe fórmula, mas nem pense em deixar seu filho com a sogra por preguiça de procurar uma boa creche ou uma babá treinada. "O ideal é fazer uma opção consciente, e não por falta de outra escolha", aconselha Vânia Solé, psicóloga clínica e obstétrica da Clínica Genesis, em São Paulo.
Para ter menos grilos no horário do expediente, a confiança no cuidador é essencial, assim como a certeza de que ele está bem preparado. O pediatra Andre Bressan, autor do blog Pediatra em Casa, recomenda disponibilizar uma lista contendo todos os telefones necessários para eventuais urgências - celulares, número do pediatra e de um hospital - além de esclarecer as "condutas imediatas" para que o responsável pela criança saiba o que fazer em caso de febre, engasgos ou quedas. Sim, elas vão acontecer enquanto você não está lá - e seu filho vai sobreviver.
2. Deixe uma blusa no berço do bebê
Maria Tereza Maldonado, psicóloga, consultora e autora de "As Sementes do Amor - Educar Crianças de 0 a 3 anos para a Paz" (editora Planeta), explica que o olfato é um dos sentidos mais desenvolvidos do bebê recém-nascido. "Aos 10 dias de idade, ele já pode diferenciar o cheiro da mãe do cheiro de outras mulheres", diz. Por isso, ao sair para trabalhar, deixe uma peça de roupa sua dentro do berço: é uma forma de dar segurança ao bebê.
3. Exija seus direitos
Segundo a legislação, empresas que tenham em seu quadro mais de 30 mulheres com mais de 16 anos devem oferecer uma creche interna, convênio com estabelecimentos ou auxílio-creche para as mães que trabalham. Confira se este é o seu caso - e, se a empresa não cumpre a lei, converse com outras colegas que são mães e estude fazer uma proposta à administração.
4. Continue amamentando
As mães também estão amparadas, pela legislação trabalhista, na continuidade da amamentação. Além da legislação, que garante dois intervalos especiais de meia hora exclusivos para isso até os seis meses do bebê, você também pode utilizar uma bombinha para retirar o leite e armazená-lo adequadamente. "O bebê pode continuar mamando, integralmente, até os 6 meses de idade", diz Maria Tereza. E você pode ficar tranquila por não deixá-lo em falta.
5. Seja sempre honesta com seu filho
Na hora de deixá-lo na creche, com a babá ou na casa da vovó, explique que está indo trabalhar e que vai voltar para pegá-lo. Mas jamais diga "eu venho te buscar" se quem vai buscar é outra pessoa, ou se não tem certeza de que vai sair do trabalho a tempo. "Para a criança, isso cria uma expectativa que pode se transformar em ansiedade", explica Vânia Solé - que também é mãe de um menino de 14 e uma menina de 10.
E jamais reclame do trabalho na frente de seu filho. Em vez de mostrar que para você é difícil ficar longe, isso só o leva a entender que você prefere ir a um lugar do qual nem gosta em vez de estar em casa. "Se o emprego está ruim, cabe a você procurar por outro", diz Vânia, que também alerta para os perigos do velho discurso "eu trabalho para comprar comida para você": "já atendi crianças que param de comer depois de ouvir isso. Elas preferem ter a mãe em casa e acham que, se a mãe trabalha por comida e não gosta de trabalhar, essa pode ser a solução".
Muitas mulheres voltam ao trabalho por necessidade financeira - mas, mesmo se este for o caso, é preciso que você valorize seu emprego, sua carreira, sua profissão. "Os próprios filhos vão se orgulhar de uma mãe profissional", acredita a terapeuta Roberta Palermo. "É preciso manter a vida após a maternidade e continuar a ser mulher, além de mãe". Vânia concorda: "Não adianta ficar 24 horas por dia em casa, ao lado do filho, e viver reclamando disso". Ficar em casa amarga e infeliz, pela obrigação, só vai gerar problemas para a criança - você cria uma pessoa cheia de culpas e neuroses.
7. Não caia na armadilha da compensação
A maioria das mães que se sentem culpadas acabam tentando "compensar" seus filhos. Na cabeça delas, dizer 'não' para a criança durante o pouco tempo em que estão juntos seria uma crueldade. Outras "compensam" o que elas acreditam ser uma falta (o fato de trabalhar fora) com presentes e mimos. Erro duplo: não é uma falta trabalhar fora, e não faz bem para a criança ter todas as suas vontades atendidas - desde ter o último modelo de boneca a comer chocolates antes do jantar. Ela precisa de limites. "É melhor passar meia hora que seja dando banho, jantando com a criança ou ensinando a ela que não pode subir na mesa do que chegar em casa com um pacote de presente", defende Roberta Palermo.
8. Dispense a babá no final de semana
Acorde com ela, brinque, dê banho, troque a fralda, curta, dê bronca, passeie, se canse. Os momentos em que você está casa devem ser passados com a criança. Como ninguém é de ferro e todos precisam de descanso, divida com o pai as atribuições. E trabalhe durante a semana sem culpa.
9. Dê um tempo na vida social
Não precisa planejar todos os finais de semana com lazer completo: parque, teatrinho e passeios são divertidos, mas também cansativos. Curta ficar em casa no final de semana. Dê um tempo em compromissos sociais e valorize o seu tempo com a criança. "Fique um feriado na cidade - isso evita o estresse de fazer a mala, pegar a estrada, chegar a um lugar e ter que sair todos os dias", exemplifica Roberta.
10. Ponha as cartas na mesa com o pai de seu filho
Quer vocês vivam juntos ou não, quer você goste disso ou não: lembre-se de que o filho não é só seu. Converse claramente com o pai para envolvê-lo na tarefa de criar uma criança, o que inclui uma gama bem variada de atribuições: dar comida e banho, brincar, colocar limites, pegar no colo, mostrar o mundo. Revezem-se, falem sobre o rumo que querem dar à educação dele e tenham claro o compromisso e a responsabilidade que ser pais representa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário