quarta-feira, 18 de julho de 2012

Últimas notícias sobre criatividade no trabalho


No futuro, garantem os especialistas, criatividade vai ser a competência mais valorizada pelas empresas na hora de contratar profissionais

Thinkstock/Getty Images
Cultivar a criatividade no trabalho é um desafio para empresas e profissionais
Muitos pensadores modernos, como Domenico de Masi, por exemplo, vêm há algum tempo anunciando que à medida que as atividades mecânicas e repetitivas vão sendo absorvidas por processos automatizados, os profissionais serão cada vez mais incentivados a aplicarem seu potencial intelectual em atividades menos burocráticas e mais criativas.
No seu escritório ainda não lhe fizeram essa cobrança? Pode ser que não tenham feito com essas palavras, mas vão fazer. E logo.
Para Isabel Arias, professora do Centro de Inovação e Criatividade da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), “se os gestores ainda não têm esse conhecimento, eles já têm o incômodo que vai desaguar nessa demanda”, observou.
Por isso, é bom se preparar e saber mais sobre o tema.
Todas as pessoas são criativas, mas muitas foram ensinadas a não acreditar nisso
A boa notícia: todas as pessoas são criativas. Você nunca achou que era criativo? Provavelmente é apenas porque foi convencido na infância ou na adolescência de que não era ou, o que é ainda pior, embora ainda bastante comum, que criatividade era coisa de artistas ou de inventores amalucados. 
Hoje sabe-se que, assim como existem vários tipos de inteligência (visual, corporal, matemática, etc.), existem vários 'tipos de criatividade'.
Bob Souza
Rodolfo Garcia Vasquez, autor do curso “Processos Criativos no Ambiente de Trabalho, da Casa do Saber, em São Paulo. 

O que se costuma chamar criatividade é, na verdade, um processo com muitas etapas
Rodolfo Garcia Vasquez, diretor do grupo teatral “Os sátiros”, e autor do curso “Processos Criativos no Ambiente de Trabalho”, realizado na Casa do Saber, em São Paulo explica. "O processo criativo é composto por várias etapas. Começa pela fase de questionamento, onde se identifica o problema a ser resolvido; depois passa para uma etapa de investigação, composta tanto por pesquisa, quanto por imaginação; segue-se o momento da ‘eureca’, em que a lâmpada se acende e você sente que afinal teve uma 'ideia', um insight de criatividade; por fim, a etapa de concretização, na qual é desenvolvida a estratégia para colocar a ideia em prática. Cada um de nós vai ter mais fluência em uma dessas etapas e essa avaliação é fundamental para você começar a desenvolver sua criatividade."
As "ideias-eureca" não entram assim prontas e acabadas no nosso cérebro
Para entrarmos nos detalhes é preciso acabar com outro mito: o de que as ideias surgem de uma vez no nosso cérebro, prontinha, como aquela lâmpada desenhada sobre a cabeça dos personagens de desenho animado.
Outro ponto importante é que as grandes ideias levam algum tempo para se desenvolver. O momento de ‘eureca’ não acontece se você ficar ininterruptamente destrinchando uma questão. Conceder momentos de descanso à mente é importante para relaxar e permitir que o inconsciente trabalhe uma questão. Isso acontece porque grandes ideias são formadas a partir da observação e da união de conceitos que, aparentemente, não tem uma ligação entre si. Se a solução virá em 10 minutos, 10 dias, 10 meses ou 10 anos é algo impossível de precisar.
É claro que existem formas de tentar controlar ou acelerar esse processo. Conversar com outras pessoas por exemplo. E por isso as empresas investem tanto em sessões de “brainstorming” (termo oriundo da publicidade e que significa, literalmente, “tempestade de ideias”), onde todos podem expor suas ideias sem constrangimentos nem script prévio seja para resolver problemas, criar novos produtos ou bolar novas estratégias.
Nessa hora, se você é tímido, pode levar alguma vantagem. Como, a rigor, os tímidos têm uma maior capacidade de observação, eles podem ter grandes sacadas. Mas vão precisar formulá-las na frente dos outros, o que costuma ser um imenso desafio para os tipos mais introvertidos.
Mulheres também têm uma certa tendência a se saírem melhor nesses processos. E, aparentemente, essa pequena vantagem está relacionada à resiliência necessária para equilibrar vida acadêmica, profissional e pessoal, segundo Isabel. “Não é que os homens não sejam criativos, é só um pontinho a favor da mulher”, avalia a professora.
Outra técnica desencadeadora de ideias que as empresas costumam utilizar é o walkabout, Steve Job, por exemplo, costumava adotar essa estratégia, que consiste em estimular pessoas de áreas diferentes a conviver para trocar ideias sobre novos projetos ou problemas que precisem de soluções inovadoras. Muitas empresas adotam o “cantinho do café” para promover esses ‘encontros’ estimulantes entre as áreas.
Para fomentar a criatividade, as empresas modernas também estão adotando novas estratégias para lidar com erros. “A curiosidade e a coragem de se permitir errar são importantes motores da criatividade”, diz Isabel Arias. “Não se pode deixar a coisa ficar no mundo das ideias, Thomas Edison fez diversas tentativas antes de conseguir elaborar a lâmpada. Foi muito suor e um longo caminho”, avalia.
Como conseguir manter uma disposição de espírito favorável ao surgimento de novas ideias?
Divulgação
Flávia Lippi, autora do livro “Coaching da criatividade” (Matrix Editora) 

Perguntas provocativas para 'acender' sua capacidade de pensar 'fora da caixa''
Flávia Lippi, escritora, comunicadora multimídia, master coach pelo Behavioral Coaching Institute – EUA e autora do livro “Coaching da criatividade” (Matrix Editora) propõe que o leitor tenha à mão as 100 “perguntas poderosas”, que remetem ao modelo filosófico de Sócrates. O filósofo grego usava perguntas simples para levar seus ouvintes a questionarem o senso comum e seus próprios preconceitos, aprenderem a pensar por si mesmos e, consequentemente, ousarem ter ideias novas. “Quando as perguntas são bem colocadas podem trazer à tona informações que estão adormecidas em cada um”, explica Flávia.
O método de Flávia retoma pontos fundamentais do processo criativo como o autoconhecimento e a observação. E aí, pronto para as “perguntas poderosas”?
Segundo a coaching não há uma ordem correta para responder as perguntas, nem existem respostas ou resultados corretos. As perguntas são provocações que estimulam você a refletir de um jeito diferente sobre temas comuns. Comece pela que achar melhor, mas tente aceitar o desafio proposto por todas. Você pode responder por escrito ou não conforme se sentir mais confortável.
Quem você pensa que é?
A criatividade de outras pessoas mobiliza você?
Você tem uma lista de coisas que gostaria de criar?
Como motor da criatividade, você usa mais as experiências ou as percepções?
Você deixa o estresse da entrega de um trabalho bloquear a sua capacidade de criar?
Você já experimentou escrever com a mão contrária àquela com que escreve?
O que existe ao seu redor neste momento?
Você acredita na frase “tem gente que não consegue nem desenhar uma casinha”?
Já agradeceu alguém hoje por essa pessoa ter dedicado alguns segundos da vida dela para opinar sobre alguma coisa que você tenha acabado de criar?

Se existem meios de estimular a criatividade, existem também atitudes que, por outro lado, espantam rápida e definitivamente a centelha de uma boa ideia
Pedimos aos especialistas ouvidos nessa matéria uma relação dos 'creativity killers', aquelas atitudes ou sentimentos que atrapalham o surgimento de ideias criativas, confira o resultado:
Falta de autoconhecimento;
Fechar-se para o novo;
Não saber ouvir;
Não saber expressar o que você gostaria de uma forma adequada;
Não acreditar nas próprias ideias e alimentar uma atitude derrotista;
Aceitar que outra pessoa, seja ela quem for, consiga desestimulá-lo;
Não anotar ideias quando elas surgem – segundo Flávia Lippi, as ideias só duram em nosso cérebro de três a trinta segundos, por isso é muito comum quando somos interrompidos não conseguirmos mais lembrar o que estávamos falando. Para anotar valem caderneta, agenda, smartphone, etc. Mas é importante que você tenha esse recurso sempre à mão.

Internet, sim ou não?
A internet pode matar a criatividade? O escritor americano Nicholas Carr, autor do livro “The shallows – What the internet is doing to our brains (Os superficiais – O que a internet está fazendo ao nosso cérebro)”, argumenta que a exposição constante às mídias digitais está nos deixando menos inteligentes, mais superficiais e mais distraídos. Segundo ele, conhecimentos que antes acumulávamos na mente, agora não nos preocupamos em gravar porque temos o “google” que 'lembra' de tudo por nós. Com isso o cérebro vai ficando preguiçoso. O excesso do uso do Facebook e do Twitter acabariam impedindo nossa mente de conseguir assimilar um livro. Segundo o autor americano, corremos o risco de perder progressivamente nossa capacidade de raciocínio. 
Manoel Belém, físico, empresário ligado ao setor de inovação e fundador da Spacetrip4us, incubadora de projetos na área de tecnologia espacial bseados em crowsourcing, discorda:  “Qual o sentido de usar a memória para lembrar disso ou daquilo, coisa que qualquer máquina simples faz? Isso é subutilizar o intelecto humano”, observa. “A tecnologia é um instrumento como qualquer outro. Há quem a transforme em uma vantagem competitiva e existe quem se deixe aniquilar por ela”, conclui. Belém ainda destaca o fato de a internet nos permitir pesquisar e conviver com gente de todo o mundo, fato que aumenta exponencialmente as oportunidades para quem busca desenvolver novas ideias.
Imagine, sonhe acordado, vá viajar
“Imagine – How Creativity Works” (Imagine – Como funciona a criatividade, em uma tradução livre), é o último livro de Jonah Lehrer, um jovem neurocientista de 30 anos, com interesses divididos entre psicologia, literatura, filosofia e ciência e que escreve sobre inovação para algumas das mais importantes publicações do mundo, como a revista Wired, a Scientific American Mind e a New Yorker. Nesse seu último livro, que deve ser publicado no Brasil pela Companhia das Letras, Lehrer destaca o papel do inconsciente no processo criativo e demonstra como grandes ideias surgiram a partir da adaptação de coisas que já existiam.
Um dos casos que ele relata em seu livro é o do surgimento do post-it. Arthur Fry, um executivo da 3M, em plena igreja, se aborrecia com o fato de suas marcações em papel na Bíblia caírem frequentemente. Foi quando ele lembrou-se de uma cola que um colega havia desenvolvido e que mal sustentava duas folhas de papel juntas. Ele somou as duas coisas et voilá! Estava criado um excelente marcador de textos!
Para ele, o 'tipo criativo' não existe. A criatividade é um processo mental complexo e cheio de etapas que todos podem aprender a 'usar' de forma mais eficiente. Mas para isso, você deve cultivar sem medo alguns hábitos, como aprender a relaxar, pensar feito criança, sonhar acordado e adotar o ponto de vista de um marciano diante de qualquer problema (viajar às vezes resolve!).

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