quarta-feira, 11 de julho de 2012

Castigar os filhos é mesmo coisa do passado?


Educação não deve se basear em punição, mas em tornar claro para a criança que seus atos têm consequências

Guilherme Lara Campos/Fotoarena
Debora e o filho Léo, de cinco anos: jogar bola dentro de casa é proibido e resulta em uma noite sem videogame
Se antigamente o castigo era visto como requisito básico para alcançar a boa disciplina, hoje é item quase proibido quando o tema é educação. Os especialistas acreditam que é fundamental dar limites, orientar e fazer a criança perceber que suas atitudes produzem reações. E se o comportamento não for legal, a consequência também não vai ser. Já as mães mostram que, embora a palavra em si tenha ficado associada a técnicas violentas e antiquadas, castigo ainda existe, mas com outro nome – e muito diálogo. 

“Os adultos não devem ‘castigar’ e sim ‘educar’, levar a criança a uma reflexão sobre o resultado dos seus atos”, explica Cris Poli, educadora e apresentadora da versão brasileira do reality show “Supernanny”, no SBT.

Para a psicopedagoga Wânia Forghieri, ex-coordenadora da escola Waldorf, se os pais observam, pontuam o que está errado e dão limite, não vão precisar dar castigo. “É importante mostrar que cada ato provoca algo em mim, no meio e na própria criança”, explica ela. Sozinha, uma criança pequena não tem condições de rever o que houve e chegar à conclusão de que não agiu certo.

A oftalmologista Debora Felberg, 37 anos, usou a regra de Cris Poli quando o filho Léo era pequeno. “Quando ele fazia algo errado, eu o punha na parede, um pouco afastado, mas onde eu pudesse ver”, conta ela.

Agora, com cinco anos, a relação deles é de bastante diálogo. Se ele faz algo que não pode, como chutar bola dentro de casa, ela alerta. Na terceira vez, ele ganha um castigo. Pode ser ficar sem jogar videogame por uma noite ou não descer para jogar bola com os amigos do prédio. Ela garante que funciona. Mas o castigo deve ser dado na hora que a desobediência acontece. “Tem que marcar de alguma forma, senão ele esquece”, diz a mãe.

“Se digo que vou desligar a televisão, o Léo me testa para ver se vou desligar mesmo. Ele espera que eu faça”, conta Debora Felberg. “Ele tem que testar o limite dele, e o meu também”, completa.

Mudança de foco 

Se os pais vêm uma atitude errada da criança, não precisam bater nem gritar. Cris Poli sugere que eles interrompam a ação e coloquem a criança sentada em um cantinho predeterminado, que pode ser o degrau de uma escada ou um tapetinho. A intenção é que ela pare e pense sobre o que está acontecendo.

Como Jo Frost, apresentadora do “Supernanny” original, Cris Polis sugere um minuto no cantinho para cada ano de vida da criança. Assim, se a criança tem três anos, ela deverá ficar três minutos pensando no que fez de errado. “O objetivo não é castigar por castigar e sim levar a criança a um raciocínio”, diz ela.

Conforme a criança vai crescendo, o cantinho da disciplina já não faz mais sentido, pois ela se acostuma a entender as consequências de seus atos. Aí, deixar sem TV ou videogame pode ser uma boa medida. Mas novamente, a criança deve entender claramente que estas privações são consequência de suas atitudes. “Não é a mãe que deixa sem TV, mas a conduta ruim da própria criança. É preciso mudar o foco”, alerta Cris Poli.

Para a pedagoga Teca Antunes, sempre que possível, a criança deve ser envolvida na remediação do seu ato. Se ela riscou a parede, deve ajudar o adulto a limpá-la. Lúcia, 6 anos, filha de Clara Zito, 32, adora brincar na banheira e muitas vezes exagera na diversão. A menina já participou algumas vezes da arrumação dos brinquedos e das toalhas do banheiro. “Ela reclama um pouco, faz manha, mas acaba ajudando, não tem escolha”, diz a mãe.

Funciona? 

“Não há dúvida de que castigo funciona, mas não é necessariamente a melhor forma de ter uma relação de respeito com os filhos. Eu prefiro confiar que a criança seja inteiramente capaz de fazer o que é pedido e depois esperar até que ela perceba que não têm outra opção senão fazer o que é dito”, explica a educadora Diane Levy, autora do livro “É Claro que Eu Amo Você... Agora Vá Para o Seu Quarto!”, Editora Fundamento.

Segundo Diane, algumas crianças ficam muito ressentidas de serem castigadas. Por isso ela prefere deixar que elas resolvam os conflitos internamente e não briguem com os pais (leia 9 dicas de Diane para impor limites).

Já para a psicopedagoga Wânia Forghieri, pior do que o castigo é a ameaça, geralmente não cumprida ou afrouxada no meio do caminho. “Hoje os pais trabalham longas horas fora de casa e sentem uma culpa enorme de dizer ‘não’. Deixam de castigo, mas ficam com pena”, diz Wânia. O limite de até onde a criança pode ir tem que estar claro, assim com suas consequências. Por isso, os pais devem propor algo que possam cumprir. Uma semana sem computador é difícil de manter? Diminua para dois dias, mas cumpra o prometido. 

E o mais importante: quem decide as regras são os pais, e não a criança. Os mundos dos adultos e das crianças não podem se misturar. Essa divisão vai ajudar, inclusive, na hora de reforçar a autoridade do adulto. Para Wânia, a falta de parâmetros e de “nãos” pode criar problemas no futuro. As crianças viram jovens incapazes de aceitar frustrações e não respeitam hierarquias, atrapalhando as relações no trabalho, onde não há tanta flexibilidade como em casa. Para ajudar seu filho, faça com que as regras sejam cumpridas.

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