“Fiquei tão feliz quando soube que o bebê estava bem que a doença em si ficou em segundo plano”, conta a mãe
Patrícia Malim, de 40 anos, tinha histórico de câncer de mama na família. A avó materna teve a doença e ela, por isso, já se cuidava desde os 28 anos. Mamografia e ecografia de mamas eram feitas anualmente desde essa idade, ao passo que para a população geral esses exames só são recomendados a partir dos 40 anos. Mesmo com todo esse cuidado, aos 38 anos, ela descobriu que estava com câncer. Não bastasse o diagnóstico, soube também que estava grávida.
Patrícia tinha um nódulo benigno no seio direito e fazia acompanhamento havia três anos. Em 2012, no entanto, houve uma alteração no tamanho e se transformou em um nódulo palpável. “Parecia uma azeitona”, conta. A administradora de empresas diz que as características não apontavam malignidade. “Fiz uma nova mamografia, nova ecografia, punção com agulha fina e, por último, biópsia com agulha grossa. Esse último exame foi o mais preciso para diagnosticar que era maligno”, lembra.
“Eu me senti sem chão depois do diagnóstico, até porque realmente achava que não era maligno, os próprios médicos assim pensaram. No entanto, graças à persistência do meu mastologista, fizemos o último exame”, conta. “A sensação é de impotência diante de um fato. Medo do que virá pela frente, da cirurgia, dos exames, do tratamento. Tudo desconhecido e assustador, pois se tratava de um câncer”.
Uma semana
A dificuldade de diagnóstico aconteceu porque não era um tipo comum de câncer de mama. “Era um carcinoma lobular invasivo. O carcinoma ductal é mais comum, portanto tem diagnóstico mais rápido. O meu não, o meu cresceu rapidamente. Costumo dizer que foi da noite para o dia”, conta Patrícia.
Exatamente uma semana antes da cirurgia de retirada total da mama, enquanto fazia os exames preparatórios, Patrícia descobriu que ela não estava mais sozinha, tinha uma vida em formação dentro do ventre.
“Quando recebi o diagnóstico, a gravidez estava bem no início, aproximadamente em cinco semanas. Eu não sabia, nem me passava pela cabeça, pois estava na correria com os exames e sinceramente não estava tentando ter filhos. Na verdade, nem queríamos”, conta ela.
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Quando foi para o centro cirúrgico, o bebê havia sido concebido há apenas oito semanas. “Naquela ocasião, já pude ouvir os batimentos cardíacos do meu filho”, conta ela.
“Passado o susto inicial, não tive problemas para encarar. Não me importava de retirar a mama, nunca tive aquela neura de me sentir mal com isso. Sou muito forte nesse ponto. Mas, quando soube que estava grávida, tudo ficou mais difícil”, conta. Ela acrescenta que os médicos não tinham esperança de que o bebê sobrevivesse à cirurgia. “Na verdade, foram unânimes na opinião de que ocorreria um aborto durante a cirurgia”, diz.
A cirurgia, no entanto, foi um sucesso. “O grande salvador nessa história foi o anestesista. Esse abençoado foi me anestesiando em doses homeopáticas, durante toda a cirurgia”, lembra. “Mas antes me perguntou se eu tinha consciência de que seria difícil segurar a gravidez naquelas circunstâncias. Eu disse: ‘ok, seja o que Deus quiser’. E Ele quis o melhor”, comemora.
“Fiquei tão feliz quando soube que o bebê estava bem que a doença em si ficou em segundo plano”, conta ela.
Quimioterapia
No quinto mês de gravidez, a quimioterapia começou. “O oncologista me explicou que depois dessa fase, esse tratamento não representa mais uma ameaça”, diz. Patrícia conta que não teve nenhum tipo de efeito colateral, mas seus cabelos começaram a cair.
“Psicologicamente eu estava ótima, mas quando o cabelo começa a cair, não tem jeito: todas as mulheres ficam mal - e muito mal. A tal vaidade pega mesmo”, descreve.
“Se não estivesse grávida seria submetida à radioterapia. Como não podia, meu tratamento quimioterápico seguiu até 15 dias antes da cesariana. Meu bebê nasceu com 36 semanas, pois o médico ficou com medo de esperar mais e eu entrar em trabalho de parto”, conta.
Renan, que em abril completará dois anos, nasceu saudável, sem possíveis sequelas causadas pela quimioterapia. “Não pude amamentar, apesar de ter a mama esquerda em condições para isso, porque os médicos decidiram interromper a produção de leite. Os hormônios, nessas circunstâncias, poderiam estimular uma metástase”, conta.
Hoje, a moradora de Curitiba, no Paraná, está livre do câncer e apenas faz o tratamento padrão durante cinco anos, para evitar que a doença ressurja.
Gravidez e câncer
Momento desejado para muitas mulheres, receber o diagnóstico de um câncer em meio a uma gravidez normalmente é angustiante. A oncologista do Hospital A.C. Camargo, Solange Moraes, no entanto, explica que o tratamento é adequado para tratar o problema sem prejudicar o bebê.
É preciso entender qual o risco que o tumor traz para o paciente. “Alguns não podem esperar nada para serem tratados. Para outros, é possível passar o primeiro trimestre da gestação para depois fazer a quimioterapia”, explica Solange. A radioterapia, no entanto, é descartada por trazer sérios riscos ao feto, mesmo depois da fase mais crítica.
Os três primeiros meses da gravidez são delicados porque é o momento em que os órgãos são formados. “Se fazemos a quimioterapia, há um risco muito grande de aborto e má-formação fetal. Se eventualmente a mãe tem um tumor extremamente agressivo e não pode esperar esses três meses, e se não tratar a mãe pode morrer, pode ser inclusive uma indicação de uma interrupção da gravidez”, explica a médica.
Os tipos de câncer mais comuns nas mulheres jovens, segundo a oncologista, são os mais agressivos e de proliferação muito alta. “Linfomas agressivos, sarcomas de crescimento rápido, alguns tipos de câncer de mama avançados, como tumores de mama com comportamentos agressivos”, conta ela.
Algumas mulheres, no entanto, acabam engravidando no meio de um tratamento de câncer. “A fertilidade pode estar menor durante o tratamento e mesmo depois dele, mas há um risco significativo durante o tratamento. Por isso há uma orientação de anticoncepção muito restrita”, explica a oncologista.
“Algumas mulheres não podem tomar anticoncepcional, por questões hormonais sobre o câncer, mas os outros meios com o DIU e preservativo são indicados”, diz Solange. “Durante o tratamento pode haver irregularidade menstrual, então não dá para saber o período fértil. Ela pode parar de menstruar, mas continuar ovulando”, alerta a médica.
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