sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Psoríase: vencendo o mal-estar na pele

Exposição quer desmitificar doença, que atinge a qualidade de vida e pode levar à depressão
Vanessa Barreto, 26 anos, é uma mulher alta, magra, sorridente e um pouco tímida. Ela convive com as lesões que marcam a pele das pernas e braços desde os nove anos, quando foi diagnosticada com psoríase. A doença crônica, que atinge 2% da população mundial, pode causar inflamações nas articulações e lesões vermelhas ou descamações na pele, mais comuns nos cotovelos, nos joelhos e no couro cabeludo.
A renovação da pele, em geral, leva 30 dias e é feita de maneira sutil, sem ser percebida a olho nu. Quem tem psoríase, no entanto, passa pelo mesmo processo, mas em um tempo bem inferior: apenas cinco dias. As células da pele aumentam de forma exagerada e se acumulam no local, causando descamação e a formação de placas.
“Há uma proliferação aumentada das células, que estão se dividindo de modo acelerado”, explica Ricardo Romiti, coordenador do Ambulatório de Psoríase do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP). Existem vários graus da doença e a classificação vai depender da extensão das lesões, se atingem todo o corpo ou estão em lugares isolados.
Vanessa se escondeu no quarto durante toda a adolescência com vergonha das lesões na pele
A doença não tem cura, nem é contagiosa, e é mais comum na faixa etária dos 20 aos 40 anos. No entanto, os médicos alertam que, quanto mais cedo ela aparecer, mais grave tende a ser. Quando ela acomete as articulações, pode causar rigidez e inchaço nas juntas, causando a chamada artrite psoriásica.
Ainda não se sabe o que causa a psoríase, mas é certo que o estresse é um fator que pode piorar ou desencadear uma crise. Além deste, outros fatores também podem agir como detonador do problema como traumas na pele, infecções mal curadas, uso de drogas, distúrbios hormonais, utilização de determinados medicamentos e até mesmo as baixas temperaturas. Os médicos reforçam, no entanto, que há uma predisposição genética para desenvolver a doença.
Efeito psicológico
Vanessa passou a adolescência se escondendo dentro do quarto, vestindo apenas calças compridas e blusas de manga longa. “Imagine sua pele coberta com lesões avermelhadas, que descamam, em uma fase que você já tem todas as encanações possíveis”, conta. “As pessoas falavam que eu era linda e eu mal conseguia me olhar no espelho. Como uma pele poderia ser tão bonita e tão horrível?”, relata, emocionada.
É comum que pessoas com psoríase se isolem do convívio social. Em geral, elas têm vergonha de sua condição e sentem dificuldades para vencer o preconceito e a curiosidade. “Eu, que sempre adorei a vida fora de casa, a natureza, evitava sair”, conta o biólogo Luiz Claudio Freitas. O isolamento pode levar a atitudes extremas como o suicídio. O índice entre pacientes é de 5,5%, enquanto que o da população em geral é de 2,4%.
Tratamento e controle
A relação com a doença começa a mudar quando o tratamento dá certo e a psoríase é controlada. Foi assim para Luiz Claudio e para Vanessa. “Depois do tratamento eu voltei a ir a praia e passei a falar sobre o assunto”, relata o biólogo. Para ela, a mudança aconteceu depois de ficar 25 dias – entre eles, o dia do aniversário – internada, coberta de pomada. “Eu ouvi do médico dizer que eu ia morrer com aquela doença. Aí resolvi buscar mais informação e achei a Associação Paulista de Psoríase. Lá encontrei histórias como a minha, passei a entender melhor o que acontecia comigo e me cuidar”, diz.
O tratamento vai depender do tipo de lesão, onde ela se localiza e qual sua gravidade. Casos leves e moderados são tratados com pomadas e cremes, casos graves podem exigir tratamento com fototerapia (aplicação de luz ultravioleta) e com medicações orais ou injetáveis, que têm como efeito colateral a redução da imunidade. O sol pode ser um aliado de quem tem a doença. “Todo mundo fala para fugir sol, mas nesses casos é um bom tratamento. E sem filtro-solar”, diz Romiti.
Exposição
Vanessa e Luiz Cláudio deixaram de lado a vergonha com o próprio corpo e posaram para as lentes do fotógrafo alemão Ralf Tooten. Suas fotos fazem parte fazem parte da exposição “Psoríase: a verdade nua”, promovida pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, e podem ser vistas no metrô Sé, em São Paulo, até o fim desse mês. Além das imagens, é possível conhecer um pouco da história de cada um e saber como a psoríase afetou sua vida. O objetivo é desmitificar a doença e levar mais informações à população. Depois da capital paulista, a exposição percorre outras cidades do País e da América Latina.





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