sábado, 7 de julho de 2012

Comida infantil em sachês faz sucesso nos Estados Unidos


Especialistas discutem se produtos são uma solução para a correria da vida moderna ou um problema para a educação alimentar infantil. Dê sua opinião

Fazer as crianças pequenas comerem trata-se de um desafio conhecido por qualquer um que já tentou alimentar um bebê. Nos Estados Unidos, Neil Grimmer, 40 anos, quer solucionar esse problema milenar dando poder às crianças.
Grimmer é CEO da Plum Organics, uma das pioneiras de um novo segmento em plena expansão: comida em sachês para bebês e crianças pequenas. O sachê tem um bico plástico na parte de cima pelo qual uma mistura de frutas orgânicas, vegetais e grãos (num total aproximado de cem calorias) pode ser sugada. Agora, nossos filhos também podem comer enquanto correm.
Drew Kelly/The New York Times
Comida em sachê seria forma de dar mais autonomia a uma criança



Desde que a Plum Organics, da Califórnia, lançou essa embalagem em 2008, a categoria ganhou concorrentes. No último ano, até mesmo nomes famosos nos Estados Unidos, como Gerber e Earth's Best, entraram em ação. O mesmo se deu com empresas chiques como Ella's Kitchen, Happy Baby e Sprout Baby Food.
E embora os saquinhos custem entre US$ 1,40 e US$ 2, praticamente o dobro do preço da comida vendida em potes (diferença que reflete, em parte, custos mais elevados de produção), grandes varejistas norte-americanos, como Safeway, Target, Whole Foods e Babies "R" Us, estão comprando o produto.
Grimmer acredita que a popularidade do sachê possa ser atribuída ao surgimento de uma nova forma de relacionamento com nossos filhos. Ele a chama de "criação solta".
Segundo ele, os pais querem ser tão flexíveis quanto a vida moderna exige. E na hora de se alimentar, isso se reflete no afastamento de refeições estruturadas em prol de uma alternativa menos organizada que acontece não em horários determinados, mas sempre que um filho tem fome.

Maureen Putman, diretora de marketing da Hain Celestial Group, empresa que produz a comida para bebês Earth's Best, disse que "conforme a criança se torna mais independente e quer se alimentar sozinha, o sachê é a resposta da mãe. Sem sombra de dúvida, ele dá à criança um pouquinho de controle e confiança".

Tony Cenicola/The New York Times
A Plum Organics estima que a venda de sachês para bebês e crianças chegará a US$ 53 milhões em 2012
Experiência própria
Quando Grimmer e a esposa, Tana Johnson, tiveram a ideia da Plum Organics, eles só desejavam que as filhas almoçassem.
Pais atarefados, eles colocaram as meninas na creche quando completaram seis meses, enviando-as todos os dias com uma caixa de frutas, grãos e vegetais cozidos em casa; comida que muitas vezes voltava intacta para casa, sem os pais para convencer as filhas a comerem. Porém, quando tentaram transformar o alimento em purê, numa ideia precursora do saquinho, a caixa voltava vazia.

De forma conservadora, a Plum Organics estima que a venda de sachês para bebês e crianças chegará a US$ 53 milhões em 2012, contra cerca de US$ 4.800 quando lançou seus primeiros produtos, em 2008.
Outras empresas relatam resultados similares. Segundo a Gerber, as vendas de suas novas linhas de sachês para bebês e crianças estão crescendo acima dos 10%. Já a Earth's Best assegurou que as vendas de sachês estão crescendo na casa dos "três dígitos" (as vendas em supermercados cresceram 372% no ano passado) e que a popularidade da embalagem é um dos principais motivos para as vendas de comida orgânica para bebês terem crescido 41% nos últimos três meses.
Dividido
Para Brian Wansink, professor e diretor do Laboratório de Alimentos e Marcas da Universidade Cornell, e autor de "Mindless Eating: Why We Eat More Than We Think" (“Comer sem Consciência: Por que Comemos Mais do que Pensamos”, em tradução livre), o lado positivo é o sachê promover a nutrição e dar à criança a escolha.
Contudo, "vai criar um monte de crianças absortas em si mesmas".
Wansink e esposa têm três filhos com menos de seis anos e defendem o conceito de "tirar a atenção da comida" para manter as crianças na mesa e evitar brigas. À noite, cada membro da família responde quatro perguntas: qual foi o ponto alto do dia? Qual foi o ponto baixo? Do que a criança mais gostou? E o que pretende fazer amanhã?

"Os pais precisam ter uma determinação tremenda ao afirmar que a hora da refeição é a hora da refeição", diz.
Edward Abramson, psicólogo que estuda hábitos alimentares e é autor de "It's Not Just Baby Fat" (“Não É Só um Bebê Gordinho”, em tradução livre), também prefere refeições estruturadas, as quais assegurou promoverem a saúde nutricional a longo prazo, estabelecendo limites no que tange à comida.
Contudo, ele reconheceu existirem realidades a enfrentar: a maioria das crianças não tem o intervalo de atenção necessário para ficar sentada durante longos períodos de tempo e quase todos os pais são ocupados e precisam ajudar para os filhos comerem de forma eficiente.

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