Segundo o livro The Myths of Happiness
ou “Os Mitos da Felicidade” (Penguim Group, sem tradução no Brasil), da
professora de Psicologia da Universidade da Califórnia Sonja
Lyubomirsky, um dos enganos mais comuns sobre o tema é vincular a
felicidade à chegada de algum evento – casamento, filhos, emprego novo.
Buscar a satisfação a longo prazo e na dependência de um fator externo,
no entanto, não é algo saudável. Que tal começar a ser feliz agora?
A primeira coisa que a pessoa tem que fazer é perguntar
‘o que me faz feliz?’. É dançar? É sair tomar café com os amigos?”,
ensina a life coach Cibele Nardi. Para ela, a auto indagação deve ser
constante. “As pessoas que não se questionam não sabem o que é
importante para elas. É comum observarmos o comportamento dos outros,
mas esquecemos que é preciso nos observar, nos conhecer.”
Cibele defende que felicidade não é algo que se
busca ou procura, mas está dentro de cada um. “Construída dia após dia,
a felicidade não está longe”, acredita.
Dizer obrigado,
por exemplo, é uma das pequenas atitudes cotidianas que melhoram a
qualidade dos relacionamentos interpessoais – e a satisfação diária.
Segundo pesquisa publicada em maio de 2012, no “Journal of Personality and Social Psychology”
, um simples ‘obrigado’ entre casais pode fazer com que o cônjuge se
sinta apreciado pelo seu parceiro, fazendo com que o comprometimento se
fortaleça.
O efeito da gratidão vai além. “Não só melhora a
qualidade de vida como afeta a sociedade e todos os tipos de
relacionamento. Demonstrando gentileza e gratidão, recebemos gentileza e
conseguimos atingir as pessoas”, reforça Cibele.
Exteriorizar o que se sente também é uma medida necessária para ser feliz.
“Diga para as pessoas o que sente: se você ama, se você é grato. Use
palavras de generosidade”, recomenda a coach. Nem sempre, porém, estamos
no melhor dos dias. Quando isso acontece, não significa que é permitido
descarregar suas angústias em cima de todo mundo. Mas também não
precisa engolir. “Ninguém consegue estar 100% estável. É importante
sorrir quando está com vontade; porém, quando não está, é igualmente
importante dizer à pessoa ao seu lado que você não está bem, mas
deixá-la consciente de como você aprecia tê-la ali”, diz.
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Ser generoso promove a felicidade
Doar também pesa na balança da alegria.
Segundo estudo lançado em 2008 pela revista norte-americana Science,
“gastar dinheiro com outros pode ter um impacto positivo maior na
felicidade do que gastá-lo com você mesmo. Participantes que foram
escolhidos para gastar seu dinheiro com outras pessoas experimentaram
uma sensação de gratidão maior do que aqueles selecionados para gastar
com eles mesmos”. Ou seja, fazer doações ou presentear alguém traz uma
sensação de serenidade.
Não esperar algo em troca é ainda mais gratificante. Ao
dar ou receber algo, cria-se uma pressão inconsciente de retribuir à
altura. Não criar expectativas, além de nos livrar deste sentimento, nos
torna mais sinceros conosco e com as outras pessoas. “O importante é
mostrar quanto a pessoa agregou à sua vida”, explica Cibele.
Meditar pelo menos um minuto por dia
também é um dos caminhos para ser feliz diariamente. Segundo uma
pesquisa realizada em maio de 2012 pelo pesquisador Todd Kashdan, da
Universidade de George Mason, na Virgínia. Dos participantes da
pesquisa, aqueles que tiveram maior contato diário com a espiritualidade
apresentaram maior autoestima e pensamento positivo.
“A meditação é um caminho que traz a possibilidade do ser
humano conhecer a si mesmo. Não tem como se declarar plenamente feliz
sem se conhecer”, afirma Salvador Hernandes Esteves Neto, instrutor de
yoga e meditação especializado em medicina comportamental. “Todo ser
humano é capaz de meditar, só é preciso aprender. O ideal seria que cada
um buscasse um instrutor para passar orientações, mas ler sobre o tema
também é um caminho”.
Ter pouco tempo disponível não é desculpa. “Existem
várias técnicas. Uma que se encaixa no estilo de vida das pessoas
atualmente é a meditação em um minuto”, diz Salvador. Basta procurar um
local onde você não vai ser interrompido, fechar os olhos para se
desligar dos estímulos externos, prestar atenção na própria respiração
e, lentamente, acompanhar apenas o ato de respirar, deixando todo o
resto do lado de fora.
Um estudo de 2009 publicado no veículo Journal of Sexual Medicine
relata que fazer sexo tem ligação com a felicidade,
principalmente para as mulheres. Pesquisadores da Universidade de
Harvard já diziam em estudo publicado na revista Science
em 2010: durante o sexo as pessoas ficam mais concentradas, resultando
em um sentimento de realização mais profundo do que em outras atividades
do dia a dia. “Conseguir manter-se presente no momento da união com o
parceiro afetivo faz com que este seja um momento pleno”, conta o
instrutor de yoga Salvador.
A relação entre trabalhar menos, curtir o ócio
e ser feliz é uma tendência percebida há tempos. Em um momento em que a
importância social é pesada de acordo com sua eficiência e resultados, o
ócio fica relegado aos considerados ‘preguiçosos’. “Havia anteriormente
uma capacidade de despreocupação e divertimento que foi de certo modo
inibido pelo culto à eficiência. O homem moderno pensa que tudo deve ser
feito pelo bem de alguma outra coisa, e nunca por seu próprio bem”,
escreveu Bertrand Russell, lá em 1932, no seu livro “O Elogio ao Ócio”
(Editora Sextante).
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Ler é uma porta de entrada para experiências compartilhadas sobre felicidade
Arrumar a cama
– ou realizar atividades, das menores às maiores, no tempo estipulado –
pode trazer um enorme sentimento de realização. Durante pesquisa para
seu livro, The Happiness Project,
ou “O Projeto Felicidade” (Editora HarperCollins, sem tradução no
Brasil), a blogueira Gretchen Rubin alega que uma das coisas que ela
percebeu foi que arrumar a cama pela manhã era um segredo para a
felicidade. Como? “Arrumar a cama faz com que tudo fique mais limpo,
arrumado. Você consegue achar seus sapatos, seu quarto parece um lugar
tranquilo. Para muitas pessoas, a ordem do lado de fora contribui para a
calma do lado de dentro”, relata em seu site
.
Outro motivo que a escritora apresenta é o fato de que
completar uma resolução traz satisfação. “Se decide realizar uma
mudança, você se apega a isso. Fazer a cama pela manhã é uma das
primeiras coisas que se faz no dia, e isso contribui para que se comece o
dia se sentido mais eficiente, produtivo e disciplinado”.
Uma simples visita a um museu de arte também ajuda a contar pontos para a felicidade.
De acordo com estudo publicado em maio de 2011, na revista “Journal of
Epidemiology and Community Health”, homens que praticam atividades
culturais, como visitar museus e galerias, estão mais satisfeitos e com
saúde melhor do que aqueles que não têm esse costume. Livros também se
encaixam: muitas dicas e técnicas para viver melhor estão compartilhadas
nas páginas de livros.
O filósofo Alain de Botton, por exemplo, é responsável
pela criação do The School Of Life, uma escola para ensinar filosofia
aplicável no dia a dia, além de oferecer meios para a busca do homem por
respostas além da religião – como cultura, literatura, artes,
psicologia. Botton é autor de livros como “A Arquitetura da Felicidade”
(Editora Rocco) e “Como Proust Pode Mudar Sua Vida” (Editora
Intrínseca).
Não adianta focar nas grandes expectativas e ações: a
busca pela felicidade começa aos poucos, em cada atitude do dia a dia.
“Felicidade é fazer o que você acha que pode e consegue fazer, dentro do
seu alcance”, resume Cibele.
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