"Antes as pessoas se aposentavam da vida e hoje se aposentam somente do trabalho", afirma psicóloga
Arquivo pessoal
Dolores, 81, e Jacy, 93, são ativas e vivem mais felizes hoje do que quando eram jovens
Foi-se o tempo em que envelhecer era sinônimo de melancolia e solidão.
Quem ainda acredita que a terceira idade está restrita a cadeiras de
balanço, agulhas de tricô e partidas de gamão não conhece a vida do
idoso contemporâneo. Uma pesquisa divulgada este mês pelo Programa de
Novas Dinâmicas do Envelhecimento aponta que os brasileiros estão mais
felizes quando chegam na terceira idade. Segundo o estudo, realizado por
pesquisadores ingleses entre os anos de 2002 e 2008, a maioria dos
idosos brasileiros se considera “satisfeita” ou “muito satisfeita” com
suas condições de vida, com o respeito que recebem dos familiares e com
o relacionamento mantido com outras pessoas.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), dados do Censo Demográfico 2010 apontam que a
população idosa no País cresce, enquanto diminui o número de jovens com
até 25 anos. E esse crescimento parece mesmo ser uma tendência. Uma
pesquisa do Banco Mundial prevê que em 2050 o número de brasileiros com
mais de 65 anos deve saltar dos atuais 20 milhões para 65 milhões - ou
seja, será três vezes maior. "Hoje estamos envelhecendo cada vez mais e
melhor. Isso se deve a diversos fatores, como melhoria da qualidade de
vida e avanço da medicina", destaca Rita Khater, professora de
Psicologia Social da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas.
Segundo ela, há alguns anos a representação social do
idoso era a do dependente, inválido ou mesmo inútil. "Ainda existe muito
preconceito com relação à velhice, mas estamos evoluindo. Isso porque o
crescimento da população idosa é significativo e, naturalmente, a
sociedade vai sendo obrigada a se transformar para quebrar esses
paradigmas", afirma a professora.
Existir x produzir
A psicóloga Isabella Quadros, mestranda em Gerontologia Social pela PUC-SP, explica que a visão negativa do idoso está intimamente ligada ao capitalismo. "Em uma sociedade cujo modelo econômico gira em torno do capital, o seu significado está atrelado ao que você produz. Quando você se aposenta, teoricamente deixa de produzir e, consequentemente, perde sua função no mundo. Por isso durante tanto tempo a aposentadoria foi encarada como uma espécie de sentença de morte", diz.
A psicóloga Isabella Quadros, mestranda em Gerontologia Social pela PUC-SP, explica que a visão negativa do idoso está intimamente ligada ao capitalismo. "Em uma sociedade cujo modelo econômico gira em torno do capital, o seu significado está atrelado ao que você produz. Quando você se aposenta, teoricamente deixa de produzir e, consequentemente, perde sua função no mundo. Por isso durante tanto tempo a aposentadoria foi encarada como uma espécie de sentença de morte", diz.
Isabella ressalta, no entanto, que com o aumento da
expectativa de vida, as pessoas passaram a se deparar com um futuro
pós-aposentadoria de 20 ou 30 anos. "Isso é uma grande novidade: a
pirâmide se inverteu. Se antes o número de jovens era superior ao de
idosos, hoje temos um crescimento muito maior de pessoas na terceira
idade", observa. De acordo com a professora Rita Khater, antes as
pessoas se aposentavam da vida e hoje se aposentam somente do trabalho.
É por isso que grande parte dos idosos, quando se
aposenta, parte para a realização de projetos de vida. Viagens, cursos e
a prática de esportes são apenas alguns exemplos de atividades
comumente escolhidas pelos mais velhos. "Quando se sentem livres das
obrigações formais, as pessoas tendem a olhar mais para si mesmas e a
fazer o que realmente querem. Muitos idosos vivenciam a aposentadoria
como um renascimento; uma possibilidade de ter novas experiências e
realizar antigos sonhos", diz Maria Cristina Dal Rio, professora do
curso de Aperfeiçoamento em Gerontologia do Instituto Sedes Sapientiae.
É o caso de Jacy de Arruda Faccioni, de 93 anos, que desde menina
sonhava em ser professora. "Vim de um regime bastante rígido e acabei me
diplomando em contabilidade porque minha mãe não queria que eu fosse
professora. Mas não desisti do meu sonho, e com 66 anos fui fazer
Magistério", conta ela, que participa de diversas atividades para idosos
oferecidas pelo Serviço Social do Comércio (Sesc) de Campinas, no
interior de São Paulo.
A simpática senhorinha canta, dança, atua, escreve
poemas, não abre mão de uma boa taça de vinho tinto e diz que jamais sai
de casa sem maquiagem. "Sou muito vaidosa e independente. Faço minhas
atividades no Sesc semanalmente. Frequento bailes da terceira idade, vou
ao shopping com minhas amigas, lavo minha própria roupa. Sempre fui
independente e sempre quero ser. Claro que a idade traz algumas
limitações, mas sou da seguinte teoria: tudo na vida tem solução",
ensina Jacy. O segredo para uma velhice feliz? "Não guardar mágoas e
ressentimentos. Isso judia muito do coração". E completa: "Ainda hoje a
vida me encanta, me fascina."
Uma vida ativa também está associada ao bem-estar dos
idosos. Professor de Educação Física e formado em Gerontologia, Benedito
Saga trabalha com grupos da terceira idade há pelo menos 25 anos e
enxerga uma evolução significativa na vida dos idosos. “Na década de 70
existia muita dificuldade em trazer os idosos para integrar grupos de
atividades culturais e físicas. Eles tinham vergonha até de mostrar as
pernas usando bermuda. O avanço veio na década de 80, quando a
preocupação com a saúde e o bem-estar foi ampliada no Brasil”, diz. O
professor observa que as atividades em grupo são essenciais para que os
idosos se sintam mais felizes e ativos.
"Rainha da Terceira Idade"
Com os cabelos claros, bem cortados, unhas feitas, brincos de pedras e batom, Dolores Fernandes anda sempre impecável. Faz atividade física diariamente, canta em um coral, viaja bastante e já está de malas prontas para realizar o seu sonho: conhecer a Itália. Lola, como prefere ser chamada pelas amigas, há um mês resolveu fazer algo inédito em sua vida: morar sozinha. Essa história parece comum, comparada facilmente a de centenas de mulheres no Brasil. A diferença, neste caso, é que Lola vive bem e mais feliz do que nunca aos 81 anos de idade.
O segredo de tanta vitalidade, felicidade e da aparência jovem, segundo Lola, é interagir, praticar atividade física, viajar e, principalmente, ter amigos. “Trabalhei a vida toda. Fui comerciante. Quando era jovem eu tinha muitas preocupações, como bancar o ensino dos meus filhos, por exemplo. Hoje o tempo que eu tenho é meu", explica.
A história dela é semelhante a de Maria Augusta Assis. Cantora por natureza e hoje aos 74 anos, a aposentada mora sozinha e, de tão animada, ganhou o título de "Rainha da Terceira Idade". “Adoro meus amigos e sempre que posso estou com eles. Sou tão ativa que não consigo ficar quieta", conta. Nem a eventual falta de sono à noite a perturba. "Tenho um aparelho de videoke em casa e sempre que tenho insônia, começo a cantar. É um ótimo remédio", ensina
"Rainha da Terceira Idade"
Com os cabelos claros, bem cortados, unhas feitas, brincos de pedras e batom, Dolores Fernandes anda sempre impecável. Faz atividade física diariamente, canta em um coral, viaja bastante e já está de malas prontas para realizar o seu sonho: conhecer a Itália. Lola, como prefere ser chamada pelas amigas, há um mês resolveu fazer algo inédito em sua vida: morar sozinha. Essa história parece comum, comparada facilmente a de centenas de mulheres no Brasil. A diferença, neste caso, é que Lola vive bem e mais feliz do que nunca aos 81 anos de idade.
O segredo de tanta vitalidade, felicidade e da aparência jovem, segundo Lola, é interagir, praticar atividade física, viajar e, principalmente, ter amigos. “Trabalhei a vida toda. Fui comerciante. Quando era jovem eu tinha muitas preocupações, como bancar o ensino dos meus filhos, por exemplo. Hoje o tempo que eu tenho é meu", explica.
A história dela é semelhante a de Maria Augusta Assis. Cantora por natureza e hoje aos 74 anos, a aposentada mora sozinha e, de tão animada, ganhou o título de "Rainha da Terceira Idade". “Adoro meus amigos e sempre que posso estou com eles. Sou tão ativa que não consigo ficar quieta", conta. Nem a eventual falta de sono à noite a perturba. "Tenho um aparelho de videoke em casa e sempre que tenho insônia, começo a cantar. É um ótimo remédio", ensina
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