Cientistas encontram 'rastros' de doença degenerativa em autópsias e sugerem que instrumentos cirúrgicos e agulhas apresentam risco de transmissão
Pesquisadores britânicos dizem ter encontrado evidências de uma possível transmissão da Doença de Alzheimer durante procedimentos médicos, em um padrão semelhante ao observado com outro mal degenerativo cerebral, a Doença de Creutzfeldt-Jakob.
Em um estudo publicado na revista científica Nature, cientistas da University College London argumentam que instrumentos cirúrgicos e agulhas poderiam apresentar um raro mas potencial risco de contágio.
É importante ressaltar que se trata de uma estimativa ainda teórica, feita com base em autópsias de cérebros de oito pacientes. Outros especialistas já refutaram os resultados do estudo, dizendo que eles são inconclusivos e que não significam que o Alzheimer possa ser contagioso.
Também não existem evidências de transmissão do Alzheimer entre pessoas, ou seja, não é possível pegar Alzheimer pelo contato com pessoas que tenham a doença.
Doença
O Alzheimer é um tipo de demência que é mais comum em pessoas de idade avançada. Trata-se de uma "morte" de células cerebrais e de um encolhimento do órgão, o que afeta muitas de suas funções. Cerca de 35 milhões de pessoas no mundo sofrem de Alzheimer.
No Brasil, estima-se que a doença degenerativa afete cerca de 1,2 milhão de pessoas, muitas delas ainda não diagnosticadas.
A Doença de Creutzfeldt-Jakob (CJD) pode afetar pessoas mais jovens.
Há dois grandes sinais do Alzheimer que podem ser detectados por cientistas. O primeiro é um aglomerado de fragmentos proteicos da proteína beta-amiloide, chamados de placas amiloides. O outro é a presença de emaranhados de uma proteína conhecida como tau.
Quando a equipe de cientistas comandada John Collinge estudou os cérebros de pacientes recém-falecidos em função da Doença de Creutzfeldt-Jakob (CJD, na sigla inglesa), topou justamente com essas pistas.
Baixo
Todos os pacientes tinham contraído a doença através de injeções de hormônio de crescimento que receberam quando crianças. Entre os oito corpos estudados, sete tinham depósitos amiloides, algo surpreendente por causa da idade relativamente jovem (entre 31 e 51 anos) porque eles não tinham histórico familiar de Alzheimer.
Para Collinge, a descoberta sugere que os hormônios podem ter passado pequenas quantidades - ou "sementes" - de beta-amiloides, além das proteínas que causaram o CJD.
Isso significa que, em teoria, amiloides podem ser espalhados acidentalmente em procedimentos médicos e cirúrgicos e "semear" o Alzheimer.
Estudos feitos em animais corroboram a tese, mas é preciso cautela.
Nenhum dos pacientes analisados teve diagnóstico de Alzheimer e não está claro se desenvolveriam demência. Também não há provas de que o acúmulo de amiloides estava diretamente ligado às injeções de hormônios.
PublicidadeCollinge, por sinal, afirma que mais estudos precisam ser feitos. Ele diz já ter contactado o Ministério da Saúde do Reino Unido para checar se existem antigos estoques de hormônio de crescimento que podem ser examinados para detectar a presença de amiloides.
"Não acho que seja causa para alarme. Ninguém precisa adiar ou cancelar cirurgias", disse o cientista.
Tratamentos com injeções de hormônio de crescimento – extraídos de cadáveres humanos – foram interrompidos em 1985 depois de descoberto o risco de contágio com CJD. Testes especiais passaram a ser feito em hospitais para minimizar os riscos.
Para o médico Eric Karran, diretor da Alzheimer Research UK, entidade que promove pesquisas sobre a doença, as atuais medidas de profilaxia hospitalar já tornam o risco de contágio com CJD extremamente baixo, e mesmo que se confirme o risco de transmissão do Alzheimer, há fatores mais determinantes.
"Os principais fatores de risco do Alzheimer ainda são idade, genética e hábitos", afirma Karran.
Análise
Estudos como este talvez precisassem vir com um aviso: "pode causar alarme desnecessário".
Dizer isso não significa desacreditar seu valor científico – os resultados são interessantes e importantes para aprofundar o conhecimento.
Mas eles devem ser interpretados com cautela: há muitos "se" para que seja possível chegar a qualquer conclusão firme.
Os cérebros observados são de um pequeno grupo de pacientes submetidos, anteriormente, a um tipo de tratamento que já foi abandonado há muitos anos.
Embora ainda não esteja claro o motivo pelo qual algumas pessoas desenvolvam o Alzheimer e outras não, especialistas concordam que não é possível "pegar" a doença, como se fosse uma gripe.
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