sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Viver e esquecer é a realidade de 35 milhões de pessoas com Alzheimer no mundo

Tipo raro, Alzheimer hereditário pode se manifestar precocemente, como no caso de Alice, do filme “Para Sempre Alice”, que adoeceu antes dos 50 anos; veja 10 sinais da doença

Julianne Moore interpreta Alice, em 'Para Sempre Alice': no filme, sinais da doença só apareceram quando está mais avançada
Divulgação
Julianne Moore interpreta Alice, em 'Para Sempre Alice': no filme, sinais da doença só apareceram quando está mais avançada
Alice é uma brilhante professora de linguística da Universidade de Columbia, em Nova York, nos Estados Unidos. Com uma eloquência invejável e prestes a completar 50 anos, ela tem um “branco” em frente a um auditório em uma palestra que ministrava. Havia esquecido uma palavra simples. Ela estranha. Isso nunca havia acontecido.
Achou fora do comum, mas continuou a vida. Logo depois, ao sair para correr perto de casa, se perdeu em um lugar que já havia passado inúmeras vezes. Tem uma crise de pânico. Logo depois, se orienta e volta para casa.
No natal com a família, esquece quem é a namorada do filho e se apresenta duas vezes, sem se dar conta. Decide, então, consultar um neurologista, que suspeita de Alzheimer. O diagnóstico cai como uma bomba: como uma mulher ainda jovem poderia ter uma doença considerada exclusiva da terceira idade?
No Brasil há 1,2 milhões portadores de Alzheimer. Em todo o mundo, somam 35 milhões. No entanto, cerca de 5% das pessoas com Alzheimer têm sintomas ainda jovens. É o caso da doença hereditária, como a de Alice. O gene também pode, em 50% dos casos, ser transmitido aos filhos. E quem herdou tem 100% de chance de desenvolver a doença.
>> Veja, na galeria de fotos abaixo, 10 sinais de Alzheimer:
A perda de memória é o principal sintoma do Alzheimer. Foto: Divulgação
A pessoa pode enfrentar problemas com a linguagem. Foto: Divulgação
E também perder a capacidade de analisar criticamente as situações. Foto: Divulgação
Perder objetos passa a ser uma situação frequente. Foto: Thinkstock/Getty Images
Mudanças na personalidade também são comuns. Foto: Divulgação
Desorientação no tempo e no espaço aponta na direção da doença. Foto: Divulgação
Mudanças repentinas no humor e no comportamento. Foto: Divulgação
O doente também pode ter dificuldade de executar tarefas conhecidas. Foto: Divulgação
Perda de iniciativa é um dos sintomas do Alzheimer. Foto: Divulgação
O doente também pode ter problemas com pensamentos abstratos. Foto: Divulgação
A perda de memória é o principal sintoma do Alzheimer. Foto: Divulgação
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Em uma história tocante, o enredo apresentado no filme “Para Sempre Alice”, interpretado pela atriz vencedora do Oscar 2015, Julianne Moore, e que estreia nesta quinta-feira (12) no País é fiel à realidade e representa as angústias que um portador de Alzheimer precoce enfrenta no dia a dia.
“Há formas hereditárias raras, com indícios de alterações nos genes dos cromossomos 14, 19 e 21”, explica o neurologista da Unifesp e diretor científico da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz), Rodrigo Rizek Schultz, sobre a doença que atinge mais mulheres do que homens.
Alta escolaridade
Normalmente, os sinais do Alzheimer se manifestam após os 65 anos. Schultz explica que os sintomas surgem bem depois de a doença já ter se instalado. No entanto, não se sabe ainda por que ela surge. Algumas lesões cerebrais características do Alzheimer, no entanto, são conhecidas.
Além de um depósito excessivo de uma proteína no cérebro, há uma redução de neurônios e das ligações entre eles, as chamadas sinapses. Esses neurônios, por sua vez, são os responsáveis pela memória e outras funções de planejamento e execução de tarefas complexas. Com o avanço da doença, outras áreas do cérebro tendem a ser atingidas, piorando o quadro.
No caso da personagem do filme, os sinais só apareceram quando a doença já estava em nível mais avançado, por causa do alto grau de instrução de Alice. “A alta escolaridade possibilita que a pessoa use a própria reserva cognitiva, e isso faz com que, mesmo com a doença, os sintomas demorem mais para aparecer”, explica Schultz. “A doença já vinha acontecendo há muitos anos, as proteínas amiloides vão se acumulando no cérebro e depois os sintomas aparecem”.
A cura para o Alzheimer ainda não foi encontrada. Os medicamentos disponíveis, no momento, também não conseguem, com rigor, atrasar o avanço da doença de maneira eficaz. Eles são capazes, no entanto, de ajudar no controle desses sintomas, tanto comportamentais como funcionais, dando mais autonomia ao doente. “Usa-se dois grupos de remédios, um que inibe uma enzima que degrada o neurotransmissor acetilcolina e outro que age no glutamato”, explica o médico.
A acetilcolina é um neurotransmissor responsável pelas sinapses, ou seja, sem ela, o portador de Alzheimer não consegue buscar palavras, datas ou acontecimentos na memória. Já o neurotransmissor glutamato, em excesso, é nocivo ao cérebro.
"Aquela doença"
Além dos problemas de memória, a doença também carrega um forte estigma social. Segundo a psicóloga da Abraz, Fernanda Gouveia, o Alzheimer virou “aquela doença”, fazendo alusão ao preconceito contra o câncer. “O Alzheimer hoje é o câncer da década de 80”.
Cerca de 80% dos pacientes de Alzheimer não sabem do próprio diagnóstico. Há uma resistência em contar sobre a doença àqueles que sofrem. O médico sempre dá a notícia para a família, mas existe uma discussão na sociedade se há algum benefício em contar a notícia ruim para o paciente. O argumento é que o diagnóstico poderia favorecer a depressão.
No entanto, se não comunicado logo no início dos sintomas, as chances de o paciente esquecer que tem Alzheimer são grandes. A consequência disso é ruim. O trauma existe, porque a pessoa efetivamente sabe que tem a doença, mas a lembrança da razão do trauma pode desaparecer. “Às vezes, a pessoa fica com aquele sentimento ruim, de que algo está errado, mas não lembra porque se sente assim. Não lembra da doença”, explica Fernanda.

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