Técnica ganha força nas clínicas brasileiras. Apesar de coadjuvante, trabalhos justificam eficácia para além do efeito placebo
Foram oito tentativas de Fertilização In Vitro, nome completo da FIV, até o nascimento das filhas gêmeas em 2009. Durante três longos anos a nutricionista L. A, 42, imaginou o rostinho das crianças a cada procedimento feito. Perdeu dois bebês, um na segunda tentativa – aos quatro meses de gravidez – e outro na quinta, com menos de 30 dias de gestação.
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A técnica de transferência embrionária é uma das alternativas mais comuns para tentar converter infertilidade em gestação. O processo, porém, demanda investimento financeiro e, muitas vezes, acarreta um grande desgaste emocional.
O sonho da maternidade, nesses casos, parece impor a insistência. Antes de optar por outras formas de se realizar como mãe, muitas mulheres buscam alternativas coadjuvantes que possam elevar as chances individuais de eficácia da FIV.
A história facilmente se repete. A advogada L.T precisou ler sete resultados negativos de gravidez antes de confirmar a gestação de gêmeos. Hoje, aos 39 anos, ela curte uma gestação tranquila, após dois anos de incansáveis tentativas.
O berço
É nesse contexto desfavorável à saúde mental e física da mulher que a acupuntura ganhou espaço dentro das clínicas de fertilização. “Estava completamente desequilibrada, em um estado emocional terrível. Já tinha engordado mais de 7k por conta do tratamento. Não aguentava mais, precisava me reestruturar antes de recomeçar", recorda a nutricionista.
Mitos e verdades sobre a fertilização
O sonho da fertilização e o pesadelo da laqueadura
Inicialmente a procura pela acupuntura como tratamento complementar à fertilização partiu das próprias pacientes, a exemplo de A.L e L. T..
Segundo Artur Adzik, presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), hoje a maioria das clínicas aposentou o ceticismo e passou a indicar o tratamento para reconfortar os casais. A aceitação, aponta ele, é quase sempre imediata.
“Nao podemos prometer que a acupuntura vai fazer diferença no resultado, mas é um método coadjuvante, não invasivo, não medicamentoso que ajuda bastante.”
Além de melhorar o estado emocional, baixando os índices de ansiedade e nervosismo das (possíveis) futuras mamães, a acupuntura, sustentam os especialistas na área, apresenta mecanismos de ação para além do efeito placebo, ou calmante.
"Ela ajuda a controlar a ansiedade e o nervosismo, reações comuns no perfil das mulheres que buscam a fertilização, mas também melhora a vascularização do sistema reprodutivo. É um tratamento que exige um perfil diferenciado de acupunturista. Esse profissional precisa ser médico e ter conhecimento na área de reprodução humana", pontua Ana Lúcia Beltrame, ginecologista e médica do Centro de Reprodução Humana do Hospital Sirio Libanês, em São Paulo.
Comprovação
Trabalhos internacionais mostram os benefícios da acupuntura na fertilidade. O primeiro deles foi publicado em 2002 por um médico alemão e apontava um bom índice de eficácia: 42% das mulheres que fizeram FIV e acupuntura tiveram resultado positivo (ultrassonografia com batimento cardíaco do feto), contra 26% de pacientes que optaram apenas pela FIV.
Décio Thima, ginecologista e acupunturista, apresentou o único estudo brasileiro publicado em âmbito internacional, em 2007, durante o Congresso Americano de Reprodução Humana. Os resultados nacionais também são positivos. Das 70 mulheres que fizeram FIV com acupuntura no dia da transferência do embrião para o útero, 51% engravidaram. O número foi bem menos representativo no grupo de 70 pacientes que não fizeram acupuntura: 26%.
Para Wilson Tadeu Ferreira, médico acupunturista e diretor da Associação Médica de Acupuntura, os números mostram que os efeitos não estão limitados a aspectos psicológicos, ou a crenças individuais.
“Não é efeito placebo, medicina da fé. Se a paciente fizer o tratamento, mesmo não acreditando na eficácia dele, o resultado não será afetado. Hoje temos meta-análises que apontam índices de eficácia acima dos 65%. O objetivo da técnica, na FIV, não é apenas equilibrar o lado emocional das pacientes.”
O que é o exame de gravidez?
O principal mecanismo, explicam os especialistas, é o aumento do fluxo sanguíneo na região uterina. Os pontos estimulados pelas agulhas provocam vasodilatação principalmente nos órgãos da pelve, aumentando o fluxo de sangue do útero e dos ovários durante o tratamento de fertilização, principalemtne meia hora antres da transferência embrionária para o útero, e 30 minutos depois dela.
No dia da transferência, a sessão de acupuntura é voltada para implantação dos embriões. O recomendado, porém, é que as pacientes procurem a acupuntura antes de iniciar a FIV.
"A técnica ajuda a controlar a parte emocional e age no equilíbrio hormonal, favorecendo a fertilização desde o início", defende o ginecologista.
Ao aumentar o fluxo sanguíneo do ovário, melhora-se a qualidade dos óvulos. O aumento do fluxo de sangue no útero, por sua vez, favorece o endométrio, ensinam os médicos. "Hoje, podemos dizer que a técnica realmente aumenta a possibilidade de fertilização. Depende da mulher, e do estudo analisado.”, explica Thima.
Tire suas dúvidas: Fertilização: mais tentativas aumentam o sucesso?
A baixa qualidade do endométrio é uma das múltiplas causas de infertilidade na mulher. O endométrio é a camada que reveste a parede interna útero, a mesma que descama durante a menstruação, e onde o embrião se fixa para se desenvolver. Para que a fecundação ocorra, é preciso que o endométrio não seja irregular, nem fino.
“Ele é igual a uma cama. Se for bagunçada e desconfortável, ninguém terá prazer em deitar nela. Agora, se for aconchegante e quentinha, repleta de cobertores, todo mundo vai querer. Melhorando o fluxo sanguíneo, melhoramos o endométrio.”
Segundo o especialista, o endométrio “confortável” é fundamental para tornar a fecundação possível. “Na FIV, não adianta ter espermatozóides de boa qualidade se o endométrio não é bom. O tratamento pode ser usado para qualquer tipo de infertilidade, seja ela masculina ou feminina, é sempre feito na mulher.”
Para as mães que deram rosto às estatísticas, a crença é de que foi a acupuntura a responsável pelo "empurrãozinho extra" que faltava. O que foi inicialmente medida de desespero, hoje, é sinônimo de sucesso.
“A gestação está até mais tranquila graças a acupuntura. Não sinto enjôos e estou calma, extremamente feliz, à espera dos meus tão desejados bebês”, revela L. T
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