sexta-feira, 10 de junho de 2011

Meu filho começou a namorar, e agora?

Especialistas orientam pais a impor limites, como idade mínima para iniciar uma relação, mas sem invadir a privacidade dos filhos
O primeiro namoro dos filhos traz à tona sensações e descobertas para todos os envolvidos, principalmente para os pais que, apesar de representarem uma geração muito mais aberta ao diálogo, encontram ainda dificuldades para lidar com a situação.
O namoro, segundo a terapeuta familiar Maria Amalia Faller Itale, é o atestado de que o filho não é mais uma criança e que o caminho em direção a autonomia está sendo construindo. “Esta etapa do percurso de vida familiar pode ser mais difícil em alguns casos”, afirma.
Pedido de namoro
Kethleyn tem apenas 13 anos, mas já vive um conto de fadas de fazer inveja a muitas adolescente da sua idade. Avessa à cultura do “ficar”, muito comum e natural entre seus amigos, ela não abriu mão de certas condições para iniciar sua vida amorosa. “Quem gosta de mim tem que me namorar”, esclarece. E foi assim que Gabriel, 14, pediu o consentimento do pai de Kethleyn. O casal começou a namorar, protagonizando uma história digna de admiração numa época em que o romantismo, pelo menos entre adolescentes, parece não ter mais vez.
“Não vou dizer que é fácil assimilar essa fase que ela está vivendo. Dá um vazio, uma sensação de que estão te roubando alguma coisa”, confessa a mãe da adolescente Josicléia de Oliveira. Ela diz que percebeu, nesta hora, que sua filha estava crescendo e tomando suas próprias decisões.
“O que falta, muitas vezes, aos pais é um mergulho na própria vida, nas dificuldades já vivenciadas, para que possam compreender melhor esse movimento dos filhos. Apaixonar-se é um processo natural”, explica a sexóloga Carla Cecarello. Ela acrescenta que os adolescentes precisam se sentir respeitados para que fiquem mais seguros e receptivos às orientações dos pais.
Curtir a nova fase
Se os sintomas e manifestações da adolescência pouco mudam de geração em geração, o mesmo não se pode dizer do esforço de muitas mães para vivenciar com mais proveito e sabedoria essa experiência do primeiro namoro do filho ou da filha.
Nem todos os pais acham complicado o primeiro namoro dos filhos. Há quem consiga curtir a nova fase na vida do adolescente. “Fiquei feliz quando meu filho começou a namorar. Apoiei, orientei sobre sexo, postura e regras que no meu deveriam ser seguidas. Impor limites não é fácil, mas tendo respeito na relação, certamente haverá compreensão de ambas as partes”, diz a paulista Wendy Yamamoto, mãe de Vinícius, 14, que vive um primeiro namoro há cerca de dois meses.
No caso de Wendy, o ciúme cedeu lugar a outras preocupações. “Acho fundamental que ele experimente e faça descobertas, mas tem que ser com responsabilidade. Procuro sempre orientá-lo para que seja sincero e verdadeiro e não faça nada que não gostaria que os outros fizessem com ele”, complementa.
Limites e Liberdade
Estabelecer uma idade para que os filhos comecem a namorar é função dos pais. O assunto pode ser introduzido a partir do momento em que a curiosidade aparece. Mãe e pai devem impor regras claras e limites para evitar futuros conflitos, o que não significa agir de forma ditatorial. “Se os motivos são explicados com respeito e existe um diálogo franco e aberto, dificilmente haverá problemas em aceitar essa limitação”, recomenda Carla Cecarello.
Para Juliana Miranda, mãe de Ítalo,14 e Olívia, 11, falar sobre namoros, sexo e homossexualidade sempre foi muito natural. “Tenho muitos amigos gays e por conta disso as perguntas começaram cedo”, ressalta. À medida que as crianças foram demonstrando interesse, Juliana foi introduzindo o assunto, de forma que compreendessem beijos e carinhos como qualquer necessidade humana vital. “Sempre fui muito direta. Falo de doenças sexualmente transmissíveis, entrando em detalhes mesmo. Às vezes eles ficam até constrangidos, mas acho importantíssimo que eles estejam informados”, diz.
Seus dois filhos já vivenciaram seu primeiro namoro. Cada um viveu o romance de acordo com o “repertório emocional” próprio de cada idade. “Foram namoros efêmeros, mas bem intencionados e acompanhados de perto por nós. Acho importante conhecer, trazer o namorado ou namorada para perto. Eu, por exemplo, fiquei tão encantada com a namorada do meu filho que até hoje, apesar de não estarem mais juntos, falo com ela pelo Facebook”, afirma Juliana.
Para a sexóloga, é fundamental que os pais saibam, e até mesmo investiguem, tudo que puderem a respeito desse primeiro namoro adolescente. Entre os 11 e 14 anos de idade a dificuldade em compreender os próprios sentimentos impossibilita qualquer autossuficiência. “Questionar é uma atitude de amor. Tudo depende de como a conversa é conduzida. Um bom artifício é usar seu próprio histórico amoroso, contando como era namorar no seu tempo, fazendo comparações engraçadas. E também mostrar interesse no universo dos filhos”, sugere Carla.
Mãe amiga
O vínculo entre mães e filhos até pode se sustentar, entre outras coisas, por um enorme grau de amizade. Mas especialistas em relações humanas, principalmente nas que envolvem adolescentes, são quase unânimes: mães podem ser amigas de seus filhos, mas antes de tudo possuem papel importante na criação e educação das crianças, o que exige impor limites e disciplina no dia a dia.
“Minha mãe é bem aberta, conversa muito comigo e confia em mim. Eu falo para quem quiser ouvir que ela é minha melhor amiga”, orgulha-se Kethleyn. “Existe troca na nossa relação. Eu compartilho tudo com minha filha. Ela me mostra o que gosta, eu mostro a ela o que gosto. Não se deve castigar pelo erro. Acho que é melhor mostrar o que se deve fazer para consertar”, diz a mãe.
Descobrir a maneira certa de se aproximar de seus filhos, sem invadir sua privacidade, não é tarefa fácil já que os pais não raramente são vistos pelos adolescentes de modo crítico. “Vale lembrar que, muitas vezes, não é a conversa que está faltando, mas sim a construção de um espaço de confiabilidade e de novas formas de intimidade”, ensina a terapeuta Maria Amalia Faller Itale.
Para Maria Lucia Bacili, de Tietê, interior de São Paulo, que também vivencia a experiência do namoro do filho Felipe, 14, conquistar este espaço foi uma das prioridades educação dele. “Tudo que meu filho é hoje é por conta do que eu fui um dia. Minha mãe sempre foi muito amiga minha, sempre me apoiou em tudo. Agora é minha vez. Tenho autoridade como mãe, mas o respeito e temos uma troca muito bacana”, diz.
A cumplicidade entre mãe e filho é tanta que Felipe nem se incomoda quando Maria Lucia aparece na praça para “vigiar” o namoro do filho. “Os amigos dele tiram um sarro, mas o Felipe mesmo nem liga e até me defende.” Maria Lucia acrescenta: “Dá para ser amigo de filho e mais: dá para ser amiga da nora. É só definir bem os papéis. Eu crio meu filho para o mundo. Meu papel é ensiná-lo a conseguir tomar suas próprias decisões mostrando o melhor caminho.”



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