Inspirada por um post, resolvi tentar respeitar melhor o ritmo do Theo e parar de apressá-lo todo santo dia
Dia desses, fui dormir com um texto na cabeça. Era um post que eu tinha acabado de ler, desses lindíssimos, que te fazem pensar por dias. O título era O dia em que parei de dizer 'anda logo' - em uma tradução livre minha. Mas sites brasileiros que traduziram o texto usaram como título: O dia em que parei de mandar minha filha andar logo.
A autora em questão - Rachei Macy Stafford - conta como tinha uma vida corrida, cheia de compromissos, listas de afazeres, tempo apertado para tudo. E como não importava o tanto que ela se esforçasse para dividir seu tempo e sua atenção ou o quanto ela conseguisse ser uma mãe multitarefas - nunca havia tempo o suficiente para dar conta de tudo.
Ela fala, em seguida, de como estava passando esse estresse e essa sensação de correria constante para a filha. Uma menininha que sempre teve outro ritmo, que gostava de prestar atenção nas pequenas coisas da vida, mesmo que isso significasse assistir a uma joaninha passear pelo jardim bem na hora em que todos estivessem prontos para sair.
Bom, como eu disse, fui dormir com essas ideias martelando minha mente - especialmente minha consciência.
E logo no dia seguinte, pouco depois do almoço, o Theo soltou essa: "Mãe, a gente já está atrasado pra ir pra escola?" A pergunta me doeu e me fez ver ainda mais sentido e sabedoria no post sobre o "andar logo".
Meu filho que não tem nem 5 anos já estava assumindo que a gente estava sempre atrasado, era só uma questão de ver se isso ia acontecer agora ou já já.
E então eu me senti a autora do texto. Me vi repetindo à exaustão não apenas "Anda logo, Theo", mas dezenas de outras frases como "Você tem 10 segundos para colocar esse tênis", "Corre ou você vai ser o último a chegar na escola", "Se troque rápido ou não vamos mais à pracinha".
Eu simplesmente estava "pilhando" um menino, um menininho.
Assim como a filha da autora, o Theo gosta de dedicar seu tempo a coisas que muitas vezes acho bobagem, como pensar por muitos e longos minutos sobre qual bonequinho levar na escola. "Leva esse azul" ou "Leva qualquer um", costumo responder.
Mas daí fiquei pensando se todas as crianças não são assim - em menor ou maior grau. E cheguei à conclusão de que sim. Muito mais do que nós, elas dão importância às pequenas coisas da vida. Pequenas mas importantes. E optar por um bonequinho azul ou pelo vermelho pode, sim, ser algo crucial na vida de um garotinho de 4 anos. Talvez essa seja uma decisão que defina várias outras coisas ao longo do dia dele.
Essa atenção extra que elas dão às coisas simples da vida lhes permitem observar bem melhor o que está à sua volta - um "dom" que os adultos, muitas vezes, deixam no passado.
A gente passa todo santo dia por uma praça e mal percebe o ipê recém-florido, um ninho que acaba de ser estreado, uma mãe em seu passeio diário com o filho recém-nascido. Nada disso. Muitas vezes, passamos batido. Nossa cabeça está pensando na reunião com o chefe que vai começar em minutos, no que temos que comprar no mercado no fim do dia. Ou estamos olhando a telinha do celular.
Enquanto você lê um email nada urgente ou apaga seus spams, seu filho está lá, pegando as florzinhas coloridas do chão e fazendo gracinhas para o bebê que passeia pela praça.
Então decidi que quero fugir com todas as minhas forças dessa mãe "anda-logo-Theo". Quero deixar meu menininho aproveitar a vida desse jeito doce que as crianças fazem, quero respeitar o ritmo dele.
Desde esse dia venho, assim como a autora americana, tentando limar o "anda logo" do meu dia a dia com meus filhos. Confesso que não é fácil. Tem dia que eu quase tenho um treco. Afinal, pedi pro Theo ir escovar os dentes e, dez minutos depois, ele está longe do banheiro. Está sentado no meio do corredor desenhando. Mas antes de perder a paciência e mandar ele ir logo, vejo o desenho. "É um homem entregando uma jarra de água para outro homem, mãe. E é pelo correio. Aqui é a caixa do correio, olha."
E eu olho. É um desenho lindo, que me faz chegar à conclusão de que valeu super a pena adiar um pouco a ida ao banheiro para escovar os dentes.
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