Que tal estimularmos nossos filhos a pensar por prazer, a descobrir um jeito novo de fazer as mesmas coisas, de usar a criatividade não apenas no campo teórico, mas prático, a ter ideias e realizá-las?
Quando, nos idos anos 90, foi lançado o livro “Ócio Criativo”, as pessoas correram às livrarias curiosas. Afinal, o que tinha a dizer o tal sociólogo italiano Domenico De Masi, famoso mundialmente por pregar a busca do equilíbrio entre trabalho, estudo e lazer sem distinção um do outro? Andávamos tão sobrecarregados e frustrados com as nossas rotinas enlouquecidas, haveria alguma fórmula mágica que nos ajudasse a “ter uma vida” novamente?
Então chegamos em 2013, décadas depois, e agora são nossas crianças que clamam por esta sabedoria. Por um tempo livre para sentir, para vivenciar com calma as pequenas descobertas do dia a dia, para estudar e aprender com e por prazer. Rogam por se divertir no processo de aprendizado. Transferimos para elas a nossa loucura, como bem colocou a Mari Della Barba em seu post Não quero mais ser uma mãe do tipo “anda logo, filho”.
O ócio (do latim otium, palavra usada pelos romanos para ocupações intelectuais) virou negócio (nec-otium, a negação do otium, tarefas de subsistência), tudo o que fazemos precisa ter um “propósito” lucrativo ou nos parece perda de tempo. Não conseguimos parar. Nossos filhos estão acostumados a nos ver correndo pra lá e pra cá feito baratas tontas turbinadas. Já não há mais sábados livres, é o dia em tapamos os furos do que não deu para realizar na semana. Supermercados e shoppings estão abertos aos domingos, para a alegria dos pais multitarefas. Relaxar, observar, acompanhar, educar um filho, quando?
Que tal, simplesmente, desacelerar? Pegar o seu filhote pela mão e dar uma volta matinal no bairro? Desligue o celular em dias de folga, deixe o carro na garagem, desconecte-se. Ouça mais, converse mais, abrace mais, troque sensações, impressões, emocione-se. Ensine seu filho a identificar os sons da natureza, entre mais em contato com ela. Mostre que há vida além dos ponteiros do relógio. Olhem para o céu, esperem por uma estrela cadente. Aprendam juntos.
Que tal estimularmos nossos filhos a pensar por prazer, a descobrir um jeito novo de fazer as mesmas coisas, de usar a criatividade não apenas no campo teórico, mas prático, a ter ideias e realizá-las? Incentive o seu pequeno a identificar o que gosta, seus talentos e qualidades e a investir neles. Mas para incentivar é preciso andar lado a lado, estar ali, presente nos momentos de descoberta, orientar, vibrar junto. Quando foi a última vez que vocês gargalharam até a barriga doer?
Que tal aprender a dizer não? Diga não aos supostos compromissos e diga sim ao que lhe faz feliz. Comprometa-se consigo mesmo. Encontre brechas para respirar fundo, relaxar e não se sentir, por isso, culpado ou inútil. Ócio não é ficar sem fazer nada, é praticar algo com prazer. Ana Bia adora cantar. Diz, desde os 3 anos, que quer ser cantora quando crescer. Estuda teclado, faz aulas de dança, pesquisa clipes na internet, imprime letras de música, canta no chuveiro, vive feito um passarinho verde. Se vai virar profissional? Não sei. Mas que vai ter uma infância feliz... já está tendo! Quantos de nós conseguimos curtir o caminho mais do que o ponto de chegada?
“Aquele que é mestre na arte de viver faz pouca distinção entre o seu trabalho e o seu tempo livre, entre a sua mente e o seu corpo, entre a sua educação e a sua recreação, entre o seu amor e a sua religião. Distingue uma coisa da outra com dificuldade. Almeja, simplesmente, a excelência em qualquer coisa que faça, deixando aos demais a tarefa de decidir se está trabalhando ou se divertindo. Ele acredita que está sempre fazendo as duas coisas ao mesmo tempo”, é uma das frases famosas de De Masi. Que tal começarmos a educar nossas crianças para que cresçam assim?
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