O governo avalia que Eduardo Cunha está chamando a presidente Dilma Rousseff e o PT para briga. No entanto, um ministro diz que o governo evitará um choque com o presidente da Câmara.
Será mantido o discurso que tem sido feito publicamente pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Ou seja: não devem ser feitos prejulgamentos, todos os acusados têm o direito de se defender e todas as acusações devem ser apuradas. Em resumo, Dilma vai evitar, ao máximo, entrar em conflito com Cunha (PMDB-RJ).
O peemedebista se diz vítima de um complô. É uma teoria que não se sustenta nos fatos, porque o próprio PT e o governo sofrem danos com a Lava Jato.
Reação do PMDB
Dificilmente o PMDB como um todo acompanhará Cunha num eventual rompimento com o governo. Peemedebistas já diziam ontem que Cunha precisa se defender rapidamente para não se enfraquecer ainda mais.
A delação de Júlio Camargo mina a força Cunha como presidente da Câmara. Ontem, ele conversou com outros peemedebistas e se mostrou muito irritado. Peemedebistas avaliam que uma escalada da parte de Cunha pode levá-lo a um beco sem saída, fazendo com que perca apoio da bancada do PMDB na Câmara e dos demais deputados.
Um desses peemedebistas lembrava que o presidente do Senado, Renan Calheiros, radicalizou tanto na articulação para barrar a indicação de Luiz Edson Fachin para o STF (Supremo Tribunal Federal) que senadores do PMDB se afastaram dele. Portanto, o melhor caminho para Eduardo Cunha é se defender rapidamente.
Confronto com o Ministério Público
É dado como certo que a presidente Dilma deverá indicar novamente Janot. O procurador-geral deverá ter o respaldo da categoria e ser o mais votado na lista tríplice que será entregue a Dilma no início de agosto.
Uma rejeição do Senado transformaria Janot num herói e obrigaria o sucessor a ser tão ou mais duro do que ele. Cunha e Renan cometeram erros ao subir o tom contra Janot, que é uma voz moderada no Ministério Público e que tem tido uma atuação muito equilibrada na Lava Jato.
Janot não é um radical. Agiu na Politeia como agiu porque tem um arsenal de evidências e provas. A munição obtida por ele nos depoimentos de Júlio Camargo parece ser suficiente para sustentar um processo no Supremo Tribunal Federal contra Cunha. A escalada política é muito mais favorável ao Ministério Público do que a Eduardo Cunha.
Jogo da oposição
Interessa à oposição estimular o rompimento de Cunha com o governo, porque isso desorganizaria ainda mais a base de apoio do Palácio do Planalto no Congresso. Ao mesmo tempo, a oposição não pode sair em defesa de Cunha.
O PSDB tem duas alas hoje. Uma mais radicalizada, liderada pelo senador Aécio Neves, e outra mais moderada, comandada pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Temos de ver como esses segmentos vão se comportar.
O rompimento de Cunha é ruim para o governo, mas, se for levado a cabo, não deverá fazer com que o PMDB inteiro o siga neste momento. A oposição sabe disso. Está vendo o circo pegar fogo, quer que Dilma se enfraqueça, mas sabe que a perda de poder de Cunha dificulta o plano de promover um eventual impeachment da presidente.
Cunha agora terá de se preocupar mais em se defender. Não deveria agir agressivamente o tempo todo. Mas a personalidade guerreira de Cunha é um fator que deve ser considerado. O peso da personalidade na política tem exemplos históricos de caminhos que não deveriam ter sido seguidos e que acabaram sendo tomados, com os resultados sabidos. Se mantiver a escalada política que anuncia, Cunha poderá adotar uma ação suicida politicamente.
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