quarta-feira, 29 de julho de 2015

Entenda as diferenças entre xiitas e sunitas

Em termos de lei, ambos os grupos islâmicos seguem a Sharia, mas Estados têm interpretações diferentes sobre as punições

Fundado por Maomé (570-632) no século 7, o Islamismo foi dividido predominantemente entre xiitas e sunitas após a morte do líder religioso, quando foi iniciada uma disputa sobre quem ocuparia a posição de principal liderança da comunidade islâmica mundial. Mas apesar de esses grupos corresponderem a vertentes distintas da religião, eles ainda compartilham de crenças e práticas fundamentalistas, como a fé no Alcorão e a regência da Sharia, código de leis do islamismo.
Há cerca de 900 milhões de sunitas no mundo e ao menos 120 milhões de xiitas, sugerem estudos
Reprodução/Youtube
Há cerca de 900 milhões de sunitas no mundo e ao menos 120 milhões de xiitas, sugerem estudos
Hoje, cerca de 90% dos muçulmanos, ou 900 milhões deles, são sunitas. Já os xiitas são compostos por uma média de 120 e 170 milhões, como explica a docente do programa de ciências da religião da Universidade Mackenzie Lidice Meyer Pinto Ribeiro. 
"Diferentemente dos evangélicos e católicos, por exemplo, os muçulmanos não enumeram os seguidores nas mesquitas. Então é difícil precisar seu número de seguidores", afirma. 
Essa divisão sectária tem gerado inúmeros conflitos ao longo da história, principalmente em países como o Líbano, a Síria, o Iraque e o Paquistão. Mas embora pareça hoje que as seitas não coexistem, elas ainda compõem comunidades em várias partes do mundo. Em áreas urbanas do Iraque, por exemplo, uniões entre sunitas e xiitas eram, até bem recentemente, bastante comuns. 
Quem são os xiitas?
Os xiitas surgiram após o assassinato do quarto sucessor de Maomé, o califa Ali (601-661), também primo e genro do profeta. Como Maomé não indicou um sucessor, os califas – chefes de Estado – assumiram a liderança da comunidade muçulmana. Depois da controversa posse de Ali, porém, uma parte dos muçulmanos – os autodenominados "shiat Ali", ou "partidários de Ali", em tradução livre – passou a defender que a única liderança legítima para o Islã deveria vir da linhagem direta de Maomé. 
Ativistas exibem cartazes contra a coalizão liderada pela Arábia Saudita cujos alvos  são rebeldes xiitas no Iêmen (Arquivo)
AP
Ativistas exibem cartazes contra a coalizão liderada pela Arábia Saudita cujos alvos são rebeldes xiitas no Iêmen (Arquivo)

Em meio à violência e rede de intrigas que dominou o curto reinado de Ali, o assassinato do califa rendeu uma série de outras tragédias entre os herdeiros de Maomé. Seus netos, Hassan e Hussein, foram mortos em diferentes circunstâncias: Hassan teria sido envenenado por Muawiyah, o primeiro califa da dinastia Umayyad, e Hussein foi vítima de uma conspiração em uma batalha. Esses eventos deram origem ao conceito xiita do martírio e rituais de luto.
Estimativas mostram que muçulmanos xiitas são maioria no Irã, Iraque, Bahrein, Azerbaijão e Iêmen. Há também grandes comunidades no Afeganistão, Índia, Kuwait, Líbano, Paquistão, Qatar, Síria, Turquia, Arábia Saudita e Emirados Árabes.
Saiba mais sobre os sunitas
Já os sunitas, termo que deriva da palavra Sunna – documento sagrado que narra as experiências de Maomé em vida –, assumiram uma visão mais ortodóxica e pragmática do Islã após a morte do profeta. Diferentemente dos xiitas, eles reconhecem a liderança dos primeiros califas que assumiram a liderança da comunidade islâmica após 632, e não apenas Ali, genro e primo do profeta.

Estado Islâmico acorrenta reféns antes de afogá-los em uma piscina (jun/2015). Foto: Reprodução/Estado Islâmico
Reféns antes de serem executados pelo Estado Islâmico dentro de gaiola em piscina (jun/2015). Foto: Reprodução/Estado Islâmico
Estado Islâmico também explodiu carro com reféns em área desértica do Oriente Médio (jun/2015). Foto: Reprodução/Estado Islâmico
Reféns antes de serem mortos por militantes do Estado Islâmico (jun/2015). Foto: Reprodução/Estado Islâmico
Terrorista do Estado Islâmico mira em reféns em região desértica do Oriente Médio (jun/2015). Foto: Reprodução/Estado Islâmico
Estado Islâmico afoga espiões dentro de gaiola em piscina (jun/2015). Foto: Reprodução/Estado Islâmico
Supostos espiões foram mortos por afogamento dentro de gaiola (jun/2015). Foto: Reprodução/Estado Islâmico
Estado Islâmico afoga espiões dentro de gaiola em piscina (jun/2015). Foto: Reprodução/Estado Islâmico
Dois dias de ataques do Estado Islâmico em Kobane, na Síria, deixaram mais de 200 mortos (jun/2015). Foto: AP
Militante do Estado Islâmico antes de decapitar refém em área desértica (maio/2015). Foto: Reprodução
Suposto piloto jordaniano é queimado vivo pelo Estado Islâmico (fev/2015). Foto: Reprodução/Twitter
John Cantlie aparece em vídeo do Estado Islâmico em Mosul, Iraque (jan/2015). Foto: Reprodução/Youtube
Militante do Estado Islâmico aponta arma durante batalha contra as forças do governo sírio em uma estrada entre Homs e Palmyra (maio/2015). Foto: AP
Estado Islâmico comemora vitória no Iraque mostrando picapes e armamento (maio/2015). Foto: Reprodução/Youtube
Armas são expostas para iraquianos após nova ocupação do Estado Islâmico (maio/2015). Foto: Reprodução/Youtube
Criança com arma de fogo em mãos participa de parada comemorativa do EI em cidade do Iraque  (maio/2015). Foto: Reprodução/Youtube
Estado Islâmico mostra reféns antes de decapitação em área desértica (fev/2015). Foto: AP
Refém britânico do Estado Islâmico antes de decapitação em área desértica (fev/2015). Foto: Reprodução/Youtube
Kenji Goto momentos anos de ser decapitado por rebelde do EI, em vídeo divulgado neste sábado (jan/2015). Foto: AP
Vídeo do Estado Islâmico mostra a decapitação do britânico David Haines (13/09). Foto: AP
Combatentes da al-Qaeda ligados ao Estado Islâmico, marcham em Raqqa, na Síria (jan/2014). Foto: AP
Filho de brasileira está entre os militantes do Estado Islâmico no Oriente Médio. Foto: Reprodução/Facebook
Líder e califa do Estado Islâmico (EI), Abu Bakr al-Baghdadi . Foto: Reprodução/The Guardian (21.04.15)
Estado Islâmico acorrenta reféns antes de afogá-los em uma piscina (jun/2015). Foto: Reprodução/Estado Islâmico
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A seita defende ainda que a religião e o Estado devem ser uma coisa só e acreditam que os quatro califas que sucederam Maomé lideraram a comunidade legitimamente e seguiram governando o mundo árabe até o fim do Império Otomano, depois da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). 
Diferenças e semelhanças
Em termos de lei, ambas as seitas seguem a Sharia, mas com interpretações diferentes. De acordo com um relatório do Council of Foreign Relations, cada país tenta conciliar os costumes locais com o Islã, o que diferencia o peso que cada uma aplica à forma como a sharia é interpretada.
Quando o assunto é casamento ou divórcio, as leis de ambas as seitas são bem parecidas, mas diferem expressivamente sobre as leis criminais. No Irã, que é xiita, a pena capital mais aplicada é a forca. Já na Arábia Saudita, sunita, as sentenças variam. Por apostasia – abandono da fé – por exemplo, o condenado é decapitado com uma espada, enquanto, por adultério, a pena é a morte por apedrejamento.
Geralmente, os sunitas são mais abertos em termos religiosos e políticos do que os xiitas. "Igrejas xiitas no Brasil são feitas somente para descendentes de árabes. Um brasileiro não pode se converter e ser bem recebido numa mesquita xiita. Porque você não é visto como alguém que pertença ao grupo", explica Lidice Meyer Pinto Ribeiro.
Estado Islâmico é sunita?
Criança decapita soldado em vídeo divulgado pelo Estado Islâmico
Reprodução/Youtube
Criança decapita soldado em vídeo divulgado pelo Estado Islâmico
Os terroristas do Estado Islâmico, que se definem como grupo sunita, não seguem nenhuma vertente conhecida do Islã, mas uma corrente nova que aplica as leis da Sharia e do Alcorão conforme a visão do líder e fundador do EI, Abu Bakr al-baghdadi, como explica o chefe do Departamento de Relações Internacionais da PUC-SP, Reginaldo Nasser.
"Quando o Estado Islâmico realiza ataques no Oriente Médio, mata xiitas, sunitas e outros grupos religiosos. Eles não são sunitas, criaram para eles mesmos uma justificativa para o terror", avalia. 

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