quinta-feira, 9 de julho de 2015

“Impedir um governo de governar é golpe”, diz Colombo


Para governador de SC, Congresso e oposição agem mal; ele é contra impeachment
KENNEDY ALENCAR 
SÃO PAULO

“Impedir um governo de governar é golpe”, disse Raimundo Colombo (PSD). O governador de Santa Catarina deu essa declaração ao avaliar o tipo de oposição que o PSDB faz ao PT e as votações do Congresso que fragilizam a situação fiscal do Brasil.
Na avaliação de Colombo, o Congresso agiu com “irresponsabilidade” ao votar a flexibilização do fator previdenciário e estender a política de reajuste real do salário mínimo para a correção de todas as aposentadorias. Ele também criticou a aprovação do reajuste dos servidores do Poder Judiciário pelo Senado e a reforma política votada pela Câmara.
“A reforma política foi uma tragédia. Um desastre. Um desrespeito à população brasileira”, disse, lamentando que não tenha sido aprovado o fim das coligações proporcionais.
“É um desrespeito ao bom senso e ao esforço que todo mundo no Brasil está fazendo para ajustar as contas. Essas quatro medidas que o Congresso aprovou são uma irresponsabilidade com o momento pelo qual o Brasil passa. Então, atribuir a crise só ao governo é um conforto. O processo é bem mais amplo. Essas quatro medidas são horríveis.”
O governador de Santa Catarina afirmou que “contraponto é fundamental para iluminar o caminho da gente”. Mas também disse: “Sinceramente, quero uma coisa melhor do que isso, que essa oposição tão dura”.
Colombo disse não ver “razões” para um eventual impeachment da presidente Dilma: “Foi eleita pela sociedade brasileira. Está há seis meses no governo. Claro que estão havendo correções importantes, às vezes impopulares, que ocorreriam também se o Aécio [Neves, presidente do PSDB e candidato derrotado no ano passado] tivesse ganhado a eleição. A proposta econômica teria de ser mais ou menos essa. (…) Não torço para o touro derrubar o toureiro. Eu torço para que o Brasil vá bem”.
A respeito das chamadas pedaladas fiscais, que devem ser consideradas ilegais pelo TCU (Tribunal de Contas da União), Colombo admitiu não conhecer “bem o processo”. “Deve ser avaliada tecnicamente a questão das pedaladas, mas já houve no passado. Acho que não se deve colocar mais gasolina neste momento do Brasil e com as consequências que isso pode ter”, pondera.
“O que o povo está cansado, sinceramente, é que antes o PSDB era o governo e o PT estava na rua tentando destruir. Agora, se inverte”, disse, lembrando que ele e os petistas são adversários “ferrenhos” em Santa Catarina.
Ele fez críticas à administração Dilma. “O próprio governo reconhece que houve desonerações excessivas e algumas desnecessárias.” No entanto, afirmou que apoiou a reeleição da presidente por “gratidão”.
Colombo disse: “Sou sincero. A presidente Dilma, em Santa Catarina, está fazendo uma boa parceria conosco. Ela nos ajudou. Não tenho nenhuma relação com o PT. (…) Ela não tinha nenhuma obrigação com a gente. Mas demonstrou espírito republicano e construímos uma boa parceria. Agora, o mais importante pra mim, na minha relação com ela, é o futuro do Brasil. E a gente tem de olhar o futuro com mais responsabilidade. Essa superficialidade me deixa com medo do futuro”.
Colombo ressaltou que o impacto da crise econômica tem sido mais ameno em Santa Catarina. “Em 2014, foi Estado que mais gerou empregos no Brasil em termos absolutos. Mais do que São Paulo. Nós temos o segundo melhor nível de emprego do mundo. Só Cingapura tem uma situação melhor do que a nossa”.
Segundo ele, a abertura do mercado de carne suína para o Japão deu impulso ao Estado, que deverá vender o produto para a Coreia do Sul. A desvalorização do real ajudou Santa Catarina, que é exportadora. Citou ainda avanços no setor cerâmico e turístico.
Em relação às ondas de violência que enfrentou no Estado no primeiro mandato, ele atribuiu as causas ao tráfico de drogas. Segundo o governador, houve um “enfrentamento de quadrilhas, de crime organizado”.
Afirmou que investiu na melhoria do sistema penitenciário. “Hoje em dia, 80% dos presos que são libertados, que terminam a pena, não reincidem. Nesse período [de prisão], a gente dá uma profissão, a gente ensina, garante um emprego quando ele é liberado. Nós temos mais de 500 empresas que usam o nosso sistema penitenciário para qualificar mão de obra.”
Colombo disse que “sensação de insegurança é muito pior” do que as estatísticas de violência. “Embora nós tenhamos os melhores índices do Brasil, ainda é grave.” Ele se diz a favor da redução maioridade penal de 18 para 16 anos, mas afirmou teria de “saber dosar” para não colocar gente demais nos presídios.
A respeito da Operação Lava Jato, afirmou: “O Brasil precisa ser passado a limpo. Evidentemente, tem de haver por parte do Poder Judiciário, que fica muito empoderado e muito aclamado pela sociedade, eles precisam, para o bem de continuarem trabalhando, se impor limites. Respeitar as leis. Não pode haver excesso. Mas esse processo tem de continuar. Esse tumor tem de sair da sociedade. Mas o poder Judiciário tem de ter também equilíbrio para não cometer excessos”.
*
Pingue-Pongue
Getúlio Vargas: “É um dos maiores brasileiros. Gosto muito dele. Li tudo sobre ele. É um exemplo. É um homem que sofreu muito, mas deu uma grande contribuição. O Brasil mudou profundamente com ele”.
Juscelino Kubitschek: “Não gosto muito. Acho que ele endividou muito o país e deu prioridades falsas, que não eram as prioridades. Claro que a gente gostou da industrialização, mas, sinceramente, para mim, a construção de Brasília é uma coisa que ainda não desceu”.
Ditadura militar de 1964: “Naquele momento, a sociedade quis. O erro deles foi continuar. Eles poderiam ter feito aquela mudança em dois anos e sair. Eles sairiam como heróis, e o Brasil seria muito melhor”.
Tancredo Neves: “Foi uma pessoa importante. Me parecia muito concessivo, muito político. Muito da Constituição de agora, que pese a falta dele nesse período, foram erros que se estabeleceram naquela política de que o setor público podia tudo. Mas ele foi um grande brasileiro. Cumpriu bem seu dever”.
José Sarney: “Terminou mal. Acho que voltar para a prática política, disputar eleições, continuar no processo… acho que ele perdeu a estatura de um ex-presidente quando voltou para a prática política. Ficou igual. Ficou comum. Então, ele não termina bem”.
Fernando Collor: “Fui senador com ele. Foi uma decepção, uma tragédia. Uma oportunidade perdida. Uma decepção. Fechou a porta do futuro naquele momento para o Brasil”.
Itamar Franco: “Todo mundo questiona, mas o resultado do trabalho dele é muito bom. Eu não o conheci, mas eu sou obrigado a reconhecer que o Plano Real foi uma das melhores coisas que aconteceram no país. O Fernando Henrique tem muitos méritos, mas o Itamar teve a humildade de delegar e bancar. Ele é um brasileiro que a avaliação que se faz dele não é justa”.
Fernando Henrique Cardoso: “Um grande brasileiro. Um homem muito preparado. Uma pessoa de muita qualidade. Nós devemos muito a ele. A análise sobre ele é injusta. Eu gosto muito dele. Sou um admirador dele”.
Lula: “Sou contra o PT. Eu acho que, de muitas das coisas que estão erradas no Brasil, o Lula é o líder. Esse sindicalismo excessivo. Essa permissividade. Agora, ele teve momentos de grandeza. Aceitar, por exemplo, a lógica da economia foi um momento importante. Abrir mão da reeleição foi importante para a democracia. Ele é um personagem histórico importante. Eu sou suspeito porque as nossas divergências são profundas”.
Dilma: “Ela é uma mulher do bem, uma mulher honesta, dedicada. Ela tem dificuldades de relacionamento. Cada um tem sua personalidade. Mas é uma pessoa que merece respeito. Ela foi reeleita pelo povo brasileiro e tem muito por fazer ainda no país”.
Aécio Neves: “Ele é um jovem. Eu, particularmente, prefiro mais o perfil do Serra, do próprio Alckmin. Mas tem de reconhecer que ele não chegou por acaso. É um líder importante”.
Geraldo Alckmin: “Eu gosto dele. É um líder importante. Acho um homem equilibrado, maduro, com bom senso. É uma pessoa de êxito na política”.
Marina Silva: “Eu a conheço pouco. Acho suas prioridades um pouco equivocadas para a nossa realidade, um pouco utópicas. Mas é uma pessoa do bem, com uma história pessoal muito bonita”.
Joaquim Barbosa: “Eu esperava uma postura diferente de um juiz do Supremo. Eu acho que ele popularizou muito e desrespeitou um pouco o sistema. Mas ele disse muitas verdades que viraram polêmicas na sociedade e que contribuíram. É uma pessoa que tem prós e contras bem significativos”.
Ciro Gomes: “O Ciro é um talento. É uma pessoa de muita qualidade. Eu o apoiei para presidente da República. Convivi com ele. Só temperamental. Na atividade política, você tem a hora e o jeito de fazer. Getúlio Vargas ensinava isso com muita clareza. Quando você quer fazer na paulada, você não consegue”.
Raimundo Colombo: O que eu procuro fazer é agir com bom senso. Quanto mais equilibrado for e quanto mais as pessoas perceberem que é normal e que tem rumo, eu procuro estabelecer isso. Às vezes é difícil pra chuchu, porque as pessoas tentam te tirar do eixo, mas eu procuro dar minha contribuição”.
:
Parte 1
Parte 2

Nenhum comentário:

Postar um comentário