Programa de tratamento que envolve sessões de terapia com o parceiro tem tido bons resultados contra a doença
A americana Margie Hodgin, hoje com 47 anos, tinha recém ultrapassado a casa dos 40 anos quando desenvolveu anorexia nervosa. Sem entender bem o problema, o isolamento provocado pela doença, foi inevitável. “Em meio a um transtorno deste tipo, você não sabe explicar seus sentimentos para quem está ao seu redor”, ela diz.
Felizmente, Margie recorreu aos cuidados de um terapeuta, que sugeriu um tratamento novo e bastante eficiente: um programa de aconselhamento intensivo com a participação do parceiro.
Anorexia: recuperação total pode ser ilusóri
Ela conta que o programa, que tem o nome de Uniting Couples (in the treatment of) Anorexia Nervosa (UCAN), algo como Unindo Casais no Tratamento da Anorexia Nervosa, foi mais eficaz – tanto para sua recuperação quanto para a manutenção do casamento - do que outros dos quais ela havia participado sozinha. A terapia de casal, segundo ela, permitia que os dois “lavassem a roupa suja”, debatessem sobre o que estava acontecendo
“Muitos canais foram abertos. Antes, eu sentia muita vergonha e desconforto. Nosso relacionamento, que durante a doença era quase como de pai e filha, alcançou um nível de igual para igual – voltamos a ser novamente um casal”, ela recorda.
“Muitos canais foram abertos. Antes, eu sentia muita vergonha e desconforto. Nosso relacionamento, que durante a doença era quase como de pai e filha, alcançou um nível de igual para igual – voltamos a ser novamente um casal”, ela recorda.
A recuperação bem sucedida de Margie não foi um caso isolado de sucesso do progrma. Na verdade, em um período de seis meses, a pesquisadora Cynthia M. Bulik e sua equipe presenciaram uma taxa de desistência de apenas 5% entre os 13 casais matriculados. Índices ainda mais positivos quando comparados às terapias convencionais. Segundo a pesquisadora, a taxa de desistência nos programas de tratamento tradicionais de anorexia costuma variar entre 25 e 40%.
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Após os três primeiros meses de terapia, Cyntia e sua equipe também observaram um aumento maior do Índice de Massa Corporal (IMC) dos participantes do que o tipicamente observado em pacientes de programas tradicionais. A apresentação das descobertas sobre o programa UCAN ocorreu em abril de 2011, durante a Conferência dos Transtornos Alimentares, em Miami.
Sem recortes
Geralmente considerada um transtorno adolescente, Bulik ressalta que a anorexia – caracterizada por emagrecimento excessivo e medo exagerado de engordar – é cada vez mais comum entre mulheres na meia idade, muitas delas em um relacionamento sério.
Com a terapia individual tradicional, em torno de 25% das pacientes se recuperam por completo, enquanto que outras 25% passam por recaídas crônicas e a metade restante consegue apenas uma recuperação parcial, complementa a especialista. Aproximadamente 5% morrem.
Ao mesmo tempo, os parceiros destas mulehres que lutam contra os transtornos alimentares “sempre querem ajudar, mas não sabem como”, diz Bulik, diretora do Programa de Transtornos Alimentares da Universidade da Carolina do Norte e professora do departamento de psiquiatria da instituição.
“Independentemente do que dizem, eles sempre se sentem mal interpretados. Por isso eu acredito que finalmente estamos equilibrando o poder no relacionamento”, ela explica.
Perfil
Os casais participantes do programa estavam juntos há nove anos em média, sendo que 77% deles eram casados. O programa UCAN incluiu 22 sessões de terapia de casal, consultas psicoterápicas semanais e psiquiátricas mensais, além de oito sessões com um nutricionista. Mesmo atingindo ambos os sexos, a anorexia é muito mais comum entre as mulheres. O programa UCAN foi formado somente por mulheres, com idade média de 32 anos.
Foram abordados os seguintes temas no programa: estresse no casamento, comunicação ineficaz e problemas sexuais entre os casais, além de formas de evitar recaídas. Bulik diz que, como o comportamento do anoréxico – que inclui momentos de inanição, alimentação excessiva e vômito forçado – é perigoso, ele cria uma muralha secreta entre os parceiros. Ao mesmo tempo, o parceiro saudável costuma assumir um papel artificial, constantemente monitorando o comportamento do parceiro anoréxico.
E o resultado é semelhante à política do “não faça perguntas, não diga nada”. Bulik explica: “A anorexia geralmente coloca uma cerca elétrica ao redor do doente. Por isso nosso programa é eficaz, pois não existem segredos. Os dois parceiros falam sobre o que estão passando, tudo fica às claras”.
Bulik diz que a vida sexual do casal geralmente é afetada quando um dos parceiros está em uma luta resoluta por sua imagem corporal. É justamente por isso que o programa UCAN instiga os casais a discutir a afeição física e a vida sexual, desenvolvendo formas de melhorar tais aspectos do relacionamento.
“A imagem corporal certamente faz parte disso, mas o controle é uma parte igualmente relevante. Por isso é extremamente importante que exista uma terceira pessoa envolvida”, disse Doug Klamp, outro médico especialista em transtornos alimentares. Ele complementa: “Existe um conflito natural. O anoréxico se acha gordo e presume-se que seu parceiro deva elogiá-lo. Por isso uma abordagem mais estruturada pode ser de grande valia”.
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