Os ateus estão mais inteligentes? Não necessariamente. Os cristãos, em geral, ignoram o que creem? Completamente! E os adventistas em relação aos demais cristãos? São como gorilas do fim da fila, seguem o macho alfa.
Olhe para a cultura em geral: as pessoas fazem perguntas, há uma demanda espiritual, uma admissão à possibilidade de que as velhas respostas da tradição pudessem estar certas. E tradições não faltam, montando barraquinhas na feira-pública da contemporaneidade. Entretanto, nós adventistas não estamos preparados para nos mostrar nesse espaço. Talvez haja demasiada incerteza do produto que temos em mãos e de suas garantias. E, afinal, as barracas vizinhas gritam suas ofertas com tanta convicção!…
Como entender o drama? Um exemplo útil: os professores ufanistas acham bom os adolescentes lerem qualquer lixo, porque, oras, o importante é que leiam. Uma hora passaram de Rick Riordan para Machado de Assis. É tão ingênuo como achar que não há problemas em consumir batata frita, porque uma hora, por comê-las, alguém logo passará a se preocupar com uma alimentação realmente nutritiva! Esse tipo de otimismo que se agarra esperançoso no “menos-mal” acompanha os adventistas.
Achamos fantástico ver igrejas lotadas por programas de evangelismo dinâmicos. O importante é ver decisões sendo tomadas. Mudança de vida? Deixe para depois! Pelo menos, a pessoa entregou o coração a Jesus – como se o batismo fosse o passo que levasse a uma posterior renúncia de práticas mundanas. Não é. O batismo é, em si, uma declaração radical de renúncia: “Simboliza o batismo soleníssima renúncia do mundo”, assinalou Ellen G. White. [1]
Todavia, estamos felizes! Gente com dificuldade de responder desafios intelectuais, de suportar tensões familiares e ser fiel? Menos-mal! Promovemos grandes eventos e a assistência corresponde em massa, sucesso! Porém, as dificuldades com respeito à vivência da fé confirmam a falta de embasamento de pessoas sinceras, falha no processo de discipulado (palavra ressurreta entre nós, mas que ainda precisa ser mais bem estudada). Quando se veem confrontados em sua fé, muitos sucumbem. Ensinaram-lhe que Jesus ama e salva (eterna e maravilhosa verdade); só esqueceram de instruir a raciocinar com base bíblica (a condição necessária para se manter na verdade). Salvação está condicionada à contínua tensão em lutar contra a tentação e obedecer a Deus. [2]
O adventista de décadas atrás levava certa vantagem: alguém lhe fazia decorar uma série de textos bíblicos e ele os repetia com toda convicção, sem perceber que muitos poderiam estar fora de contexto. Já os adventistas da geração atual, mencionam o que creem, sem saber por que creem exatamente – e ainda estranham quando ouvem o restante da história que ninguém lhes contou, aquelas verdades mais inconvenientes que deixaram de ser ditas nos púlpitos para não lembrar o pecador que ele é … pecador!
Assim, heresias e ceticismo crescem como capim no terreno baldio que é a intelectualidade adventista. A mensagem mediada pelas pregações populares que chega confortável ao coração fica por aquela área mesmo, sem se dar ao trabalho de subir ao cérebro (ironicamente, quando a Bíblia fala de coração, refere-se ao centro da vontade, à mente como um todo, razão e emoção).
Quando o povo for instruído a amar a Bíblia e a gastar horas estudando-a, com a mesma paixão com que vai assistir programações que não passam de pura oba-oba gospel, aí as respostas vão surgir. Quando estudar a Bíblia deixar de ser um plano de escritório para ser algo transmitido olho a olho, o Espírito do Senhor falará ao remanescente.
O mais estranho? Deus nunca deixou de se interessar, com amor vívido e constante, por esse povo medíocre que estamos nos tornando! Mesmo quando nos falta o senso de autocrítica – e reagimos com frases de Facebook ”não devemos julgar”; “cada um tem a sua opinião” –, Deus trabalha para nos despertar para as coisas essenciais, as quais estavam há muito sepultadas em glamorosos álbuns de fotos dos avós.
Acima de tudo isso, a Verdade imperará. Mas um alerta: somente para aqueles que a buscarem com esforço e coragem, amando o Senhor de “todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento” (Mateus 22:37). Agora, é com você.
Notas:
[1] A citação completa diz: “Simboliza o batismo soleníssima renúncia do mundo. Os que ao iniciar a carreira cristã são batizados em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo, declaram publicamente que renunciaram o serviço de Satanás, e se tornaram membros da família real, filhos do celeste Rei. Obedeceram ao preceito que diz: ‘Saí do meio deles, apartai-vos… e não toqueis nada imundo.’ Cumpriu-se em relação a eles a promessa divina: ‘E Eu vos receberei; e Eu serei para vós Pai, e vós sereis para Mim filhos e filhas, diz o Senhor todo-poderoso.’ 2 Coríntios 6:17, 18.’” Ellen G. White, Testemunhos Seletos, vol. 2, 389. Também aparece em Idem, Evangelismo, 307.
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