segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Peixes morrem após lama chegar ao litoral capixaba

Onda marrom ameaça fauna, turismo e subsistência de Regência, no Espírito Santo

A Vila de Regência, no Distrito de Linhares (ES), foi a última a sofrer as consequências da enxurrada de lama que percorreu mais de 650 quilômetros ao longo do Rio Doce, desde o rompimento da barragem de rejeitos de minério da empresa Samarco em Mariana (MG), no dia 5. A chegada da mancha marrom ao litoral do Espírito Santo, anteontem, ameaça as fontes de sustento da comunidade de 1.300 habitantes, que beira a foz do rio.
Índios krenak, em Resplendor (MG), fazem orações após o mar de lama que inundou o Rio Doce
Cacau Fernandes / Parceiros / Agência O DIA
Índios krenak, em Resplendor (MG), fazem orações após o mar de lama que inundou o Rio Doce

Morador da vila há 22 anos e presidente da associação de comércio local, Messias Caliman, de 49 anos, lamentou após sobrevoar a região ontem e ver cardumes de tainhas, robalos e outras espécies de peixes agonizando. “A comunidade está em pânico, porque existe uma crise no abastecimento de água. Nossa perspectiva para o verão acabou, porque a gente vivia basicamente do turismo e da pesca, dois segmentos prejudicados”, disse.
A praia de Regência, onde o Rio Doce desemboca, é considerada um dos melhores picos de surfe do Brasil, com ondas que chegam a 1 metro de altura. A vila se preparava para organizar campeonatos de surfe, trilhas ecológicas e passeios no rio no verão. Era a chance de minimizar as perdas de um ano difícil para a economia. Mas, depois do acidente, as pousadas, que estavam com a maioria das reservas para a alta temporada esgotada, perdem a esperança a cada desistência.
Pássaros ilhados pela lama que chegou à foz do Rio Doce,  em Regência, distrito de Linhares (ES)
Cacau Fernandes / Parceiros / Agência O DIA
Pássaros ilhados pela lama que chegou à foz do Rio Doce, em Regência, distrito de Linhares (ES)

O surfista Alexandre Cavalcante faz a vida na vila há dez anos dando aulas de surfe. Ele cobra medidas mais rígidas que obriguem a Samarco a conter a barragem de Santarém, localizada próximo à represa de Fundão, rompida no início do mês, e que também corre risco. A empresa, cujas donas são a Vale e a anglo-australiana BHP Billiton, deu prazo de 90 dias para reforçar a estrutura. “Se precisa de mil operários para fazer isso em 90 dias, deveriam colocar cinco, dez mil para terminar em dez dias”, criticou.

De acordo com o especialista, caso a lama não seja altamente tóxica, os danos marinhos podem ser momentâneos, como a morte de peixes.
Segundo o químico Alexandre Fernando da Silva, se estudos apontarem a presença de metais pesados na lama, os danos ao meio ambiente podem durar anos ou décadas. “A população ribeirinha também é atingida, porque se um peixe é contaminado com chumbo, por exemplo, que é bioacumulativo, essa substância fica no organismo da pessoa e nunca é eliminada”, explica.
Multa de R$ 10 milhões
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O acidente em Mariana deixou 12 mortos e 12 desaparecidos, matando fauna e flora e interrompendo o abastecimento de água nas cidades do caminho. A causa ainda está sendo investigada. A Samarco tem até hoje para detalhar quais medidas serão tomadas para diminuir os impactos da lama. Se desobedecer, vai pagar multa de R$ 10 milhões por dia.
A empresa informou que toma as providências necessárias: “Como forma preventiva, o projeto Tamar recolheu os ovos de tartarugas na praia de Comboios e os levou para uma parte mais alta da costa. Uma equipe coleta amostras da água antes e depois da chegada da pluma. Outra ação foi a instalação de 9 mil metros de barreiras, para isolar a fauna e a flora. Também há o monitoramento aéreo.”

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