Hormônios femininos e menor concentração de líquido corporal dificultam absorção do álcool
As universitárias já bebem com a mesma frequência do que os homens que estão na faculdade, mas nelas os efeitos do álcool são piores.
Além de gerar dependência etílica mais rápido, a ressaca do dia seguinte à bebedeira também é mais nociva para o público feminino.
“Em qualquer idade, a mulher é mais afetada pelo álcool”, afirma a psiquiatra da USP e diretora do Centro de Informações sobre o Álcool (Cisa), Camila Magalhães.
“A constituição do organismo delas é diferente. Primeiro porque elas têm menos concentração de líquidos no corpo do que os homens, o que deixa o álcool menos diluído no organismo e por mais tempo em forma de etanol, o que intoxica todos os órgãos, em especial o fígado”, explica a médica.
Outro problema é que os hormônios femininos também influenciam no caminho do álcool dentro do corpo. “Em especial em algumas fases do ciclo menstrual, em que há aumento da progesterona (ovulação), a função hepática é comprometida”, diz Camila.
A dificuldade do fígado em trabalhar faz com que ele produza menos as enzimas responsáveis por fazer o álcool sair do corpo. O resultado? Não apenas no dia seguinte, mas por vezes ao longo de até 72 horas, as mulheres ficam com mais náuseas, dor de cabeça, sensação de boca seca e dores no corpo, quando comparadas ao público masculino.
“Isso faz com que elas se embriaguem mais rápido e também desenvolvam dependência química em uma fase mais precoce”, completa a diretora do Cisa.
Estas características da fisiologia feminina, inclusive, fazem com que os médicos utilizem padrões diferentes de consumo ideal de bebidas alcoólicas entre os dois gêneros. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), os homens podem beber entre duas e três doses diárias de cerveja ou vinho e para elas o limite é de apenas uma dose.
Moderação
Apesar da constituição desfavorável à ingestão de álcool, as mulheres estão bebendo mais. Hoje 10% da população feminina bebe mais de quatro doses quando decide sair para beber, comportamento chamado na literatura especializada de “bebedora pesada”, mostraram os dados divulgados este ano pelo Ministério da Saúde. Em 2006, primeiro ano em que o estudo federal foi realizado, este índice feminino era de 8%. Quanto mais jovem, maior o consumo feminino. Na parcela entre 18 e 24 anos, 14,6% delas bebem desta maneira frente a 26,3% dos homens, diferença estatística de 12 pontos porcentuais. Já no grupo etário entre 30 e 45 anos, 30% dos homens são bebedores pesados contra 10,4% das mulheres, com 20 pontos de diferença.
No trabalho realizado pela Secretaria Nacional Antidrogas e o Instituto de Psiquiatria da USP foi constatado que na universidade, as jovens bebem como os homens.
“A relação é de uma mulher bebedora pesada para cada homem que consome álcool desta maneira”, afirmou Camila Magalhães, que participou do levantamento feito com sete mil pessoas, matriculadas em 12 universidades públicas e privadas de todo País.
O Delas já preparou uma série de reportagens sobre a dependência química crescente entre as mulheres. Confira a série de especiais:
Nenhum comentário:
Postar um comentário