quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Prescrição de medicamentos confunde idosos

Orientações vagas dadas pelos médicos prejudicam o uso correto dos remédios
Novo estudo mostra que as prescrições de medicamentos costumam ser tão vagas que os pacientes idosos, muitas vezes em uma rotina de até de 7 comprimidos diários, podem acabar tomando a medicação de forma incorreta.
Além disso, muitos pacientes não se dão conta de que podem tomar diversos medicamentos de uma única vez. A equipe de pesquisa observou que instruções simples e padronizadas, que facilitem a compreensão sobre frequência e dosagem, são de extrema necessidade.
“Ao receber prescrições de vários medicamentos diferentes, os participantes do estudo complicaram a rotina de forma desnecessária”, disse Michael Wolf, professor assistente de medicina da Northwestern University’s Feinberg School of Medicine, de Chicago, que liderou a pesquisa.
Wolf ressaltou que atualmente muitos idosos chegam a tomar até sete medicamentos diferentes todo dia. “Observamos que a medicação estava sendo tomada com maior frequência diária do que o necessário”, disse ele.
O relatório foi publicado na edição de 28 de fevereiro do periódico Archives of Internal Medicine.
Para o estudo, Wolf e sua equipe conversaram com 464 pacientes, entre os 55 e os 74 anos.
Os pesquisadores observaram que, embora a maioria deles tivesse bom nível acadêmico, praticamente a metade não dispunha de “conhecimentos sobre práticas de saúde” – ou seja, a habilidade do paciente de compreender as informações recebidas sobre sua saúde, os remédios que devem ser tomados e a habilidade de desempenhar tarefas relacionadas à sua saúde.
“Estudos realizados nas últimas duas décadas já haviam relacionado o conhecimento insatisfatório sobre a saúde a resultados mais baixos e a piores índices de mortalidade”, disse Wolf.
O pesquisador-chefe conta que, depois de designar aos pacientes uma rotina de sete medicamentos diários, a equipe constatou que os mesmos chegavam a tomar remédios até 14 vezes ao dia. “Eles não deveriam estar tomando a medicação mais do que 4 vezes ao dia”, argumentou Wolf.
Ele explicou que cada paciente precisa encontrar a forma mais eficiente de tomar a medicação, estabelecendo uma rotina. “Constatamos que, quando os pacientes receberam a prescrição de dois medicamentos com exatamente as mesmas instruções, um terço deles não combinou os dois remédios no mesmo horário. Quando eram instruídos a tomar o medicamento com água ou durante as refeições, metade dos pacientes também não combinava a medicação”, ele explicou.
O pesquisador explicou que, que quando dois medicamentos deveriam ser tomados a cada 12 horas, dois em cada três pacientes também não tomavam os mesmos de uma única vez. “Pode ser porque muita gente se preocupa que os medicamentos não possam ser tomados concomitantemente, que isso poderia causar danos”, disse ele.
Para solucionar o problema, Wolf sugere aos médicos que mudem a forma de prescrever os medicamentos. “Em vez de dizer ao paciente para tomar determinado remédio duas vezes ao dia ou a cada 12 horas, a prescrição deveria ser para tomar determinada medicação pela manhã, ao meio-dia, à noite ou na hora de dormir – como em um horário universal de medicações”, ele explica.
Ele complementa que os médicos precisam informar melhor a seus pacientes sobre os medicamentos prescritos, quando e como tomá-los, e quais deles podem ser combinados em um único horário. Laurence Gardner, um dos diretores da University of Miami Miller School of Medicine, concordou que “não é fácil para os idosos simplificar o horário dos medicamentos para tomá-los, ao máximo, quatro vezes ao dia”.
Entretanto, Gardner disse que o estudo não mostrou que os pacientes sofreram danos por não simplificarem a rotina da medicação. Porém, ele complementou que erros podem acontecer com maior freqüência neste tipo de cenário.
Gardner sugere que uma das formas de simplificar a prescrição de medicamentos é o uso de registros médicos eletrônicos. “Apesar de não haver uma economia de custos, é mais seguro para os pacientes. Não seria complicado desenvolver uma linguagem comum sobre a frequência da medicação”, ele argumenta.
Outra especialista, Terri Ann Parnell, diretora corporativa da North Shore-Long Island Jewish Health System, de Nova York, ficou surpresa com a quantidade de pacientes de bom nível acadêmico sem conhecimentos sobre saúde.
“Foi ressaltado no estudo, de forma persuasiva, que a maioria dos participantes era de nível acadêmico alto e, mesmo assim, tinha pouquíssimo conhecimento sobre saúde. Acredita-se que esta falta de informação seja um problema exclusivo dos grupos de baixo nível socioeconômico e acadêmico. Este estudo mostra que este não é o caso”, disse a especialista.
Na opinião de Parnell, os médicos devem usar uma linguagem simples para dar instruções aos pacientes. Além disso, eles podem checar a compreensão pedindo aos pacientes para repetir as instruções recebidas. “A idéia não é testar os pacientes, mas pedir a eles que repitam, com suas próprias palavras, as instruções que acabaram de receber”, ele explica.



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