Deputado do PSOL quer evitar repetir erros de Gabeira e manter capital político para suceder algoz Eduardo Paes, descrito por ele como "mimado", "imaturo", "prepotente" e "autoritário".
Com capital eleitoral de 914 mil votos, o candidato derrotado do PSOL à Prefeitura do Rio, Marcelo Freixo, considerou a votação expressiva “uma vitória política” e já faz planos para ter seu grande momento em 2016. No ano das Olimpíadas, ele pretende conquistar a cadeira de sucessão do algoz Eduardo Paes. “A grande campanha será em 2016”,
Pouco mais de duas semanas após o pleito, ele já decidiu que não repetirá o “erro” do ex-deputado federal Fernando Gabeira (PV): disputar o governo do Estado (após perder o segundo turno em 2008 para Paes, o verde foi facilmente derrotado pelo governador Sérgio Cabral em 2010 e ficou sem mandato). “Um passo em falso em 2014 poderia pôr tudo a perder.”
Freixo planeja usar seu prestígio político-eleitoral, agora como um dos principais nomes do PSOL nacional, para aumentar a bancada do partido na Assembleia Legislativa do Rio em 2014. Quer ser candidato à reeleição a deputado estadual. Ele acredita que um cargo em Brasília, como de deputado federal ou senador, o afastaria demais da cidade.
Nesta quarta-feira, ele se referiu a Eduardo Paes como “mimado”, “imaturo”, “arrogante”, “prepotente” e “elitista”, mas reconhece que é “muito presente” na cidade. Após ser desdenhado pelo rival como “limitado” e “menino” “radical” em recente entrevista à TV Folha, disse que o prefeito é “autoritário”, não tem “cabeça política” e “precisa de leitura” e “formação política”. Também ironizou o governador Sérgio Cabral, que, diz, “não gosta de trabalhar”.
Freixo conta que não se candidatou a prefeito em Niterói, cidade onde cresceu, para não se isolar politicamente e também por temer o “efeito Santo André”, cidade paulista onde o prefeito petista Celso Daniel foi assassinado em 2002. Ameaçado de morte após presidir a CPI das Milícias - inspirou o personagem Fraga, de Tropa de Elite 2 -, Freixo tem escolta permanente e disse que temia se tornar vítima se saísse do foco na capital.
O sr. acaba de ter 914 mil votos como candidato do PSOL a prefeito do Rio. Em 2010, tinha sido o segundo deputado estadual mais votado em 2010, com 177.253 votos. Quais são os seus planos políticos para 2014? O sr. pretende ser candidato ao governo, ao Senado, a deputado federal ou estadual?
Freixo: O partido se consolidou, foram as eleições mais vitoriosas da História do PSOL, que é novo, de 2005. O PSOL deu um passo certo: fez vereador em Florianópolis, Campinas, São Paulo, Salvador, dois em Maceió, quatro no Rio, três em Niterói, dois em Natal, quatro em Belém, Macapá, refez dois em Porto Alegre. Importantes cidades têm presença do PSOL no parlamento. Acho que nosso projeto tem de ser 2016. (Nesse momento, a chefe da comunicação do ex-presidente da Alerj e presidente do PMDB-RJ Jorge Picciani o cumprimenta, rindo: “Agora é o Senado!”)
"Agora é o Senado"?
Freixo: O grande objetivo tem de ser 2016, podemos vir para disputar com nível de organização muito maior. Fizemos essa campanha com um nível de precariedade de dar dó. Não nos preparamos. Tínhamos um bom programa e estrutura nenhuma; sem a militância estaríamos ferrados.
Mas e em 2016 o sr. será candidato a prefeito?
Freixo: A grande campanha será em 2016 (para prefeito do Rio). O PSOL precisa reconhecer o tamanho de suas pernas. Um passo em falso em 2014 poderia fazer tudo a perder.
Gabeira teve uma grande campanha em 2008, mas não teve chance em 2010 contra Cabral, deixou a política e nem disputou as eleições em 2012. O que sr. pretende fazer para não repeti-lo no ocaso político? Por isso não pensa em concorrer ao governo?
Freixo: Governo nem pensar! Esse foi o erro que Gabeira cometeu, e saiu da política. Saiu da política, sem mandato, e ele faz falta à política do Rio. Não repetiu a campanha.
O sr. é o grande nome do PSOL nacional hoje, em termos de votos?
Freixo: Acho que sim. Tem também o Randolfe Rodrigues (PSOL-AP)... Mas 2016 tem de ser desenhado agora, pelo conjunto da sociedade. Dia 29 teremos uma plenária, reunindo comitês de mobilização permanentes criados pela campanha para participar dos temas da cidade. Parte vem para o PSOL, parte não, mas será para manter a militância acesa com debates sobre a cidade.
A que o sr. vai concorrer em 2014?
Freixo: Não tenho a menor noção. Se venho para o governo do Estado e não ganho, fico sem mandato, o que seria muito ruim para 2016 (pela falta de exposição política). Presidência da República, nem pensar. Restam deputado federal, estadual e Senado.
O governador Sérgio Cabral não deve querer voltar ao Senado, mas é uma eleição difícil.
Freixo: Ele não gosta de trabalhar, não vai querer! Mesmo o Senado sendo moleza, para ele é muito estressante. Mas para o Senado é uma vaga só. Já tenho votação para deputado estadual ou federal; Senado é o que vamos debater, mas não é o que prefiro. Eu acho que entraria bem (na disputa), partindo de 900 mil votos na capital. Mas, se o objetivo é (disputar a Prefeitura do Rio) em 2016, talvez o melhor fosse não sair do Rio, e Brasília acaba que afasta.
Então o sr. concorreria à reeleição como deputado estadual?
Freixo: É o que mais me agrada, e poderia ajudar a fazer uma bancada forte. Já ajudei a eleger um (Janira Rocha) em 2010. Acho que, se dobrar a votação, posso fazer quatro deputados, mais quatro vereadores, já fortalece a sociedade civil. O PSOL poderia ter uma chapa forte, temos novos quadros bons, perfis de qualidade.
O que faltou para o sr. levar a disputa da prefeitura para o segundo turno?
Freixo: Quando aceitei concorrer, disse ao partido que não queria fazer campanha só para marcar posição, mas para disputar, e o PSOL aceitou. O programa foi feito com a sociedade civil, organizamos núcleos de movimentos sociais de cada área, com ampla participação. Fizemos uma oposição qualificada, não raivosa, apresentamos propostas. Ganhamos os debates não pela minha oratória, mas porque o que apresentamos era viável. Ninguém chega a 28% do eleitorado crítico sem tempo na TV à toa, sem grana e marketing. Não tivemos isso. Tivemos muita militância, cem comitês, 35 dos quais se reuniam todo dia, e que extrapolam o PSOL, que teve a sabedoria de conviver com isso. Foi escolha acertada, assim como Marcelo Yuka, que chamei para ser meu vice. Não é a lógica da aliança política, por tempo da TV, mas alguém identificado com os artistas, com os jovens, o que deu à juventude um sentimento de pertencimento grande, de que a campanha era deles. Tivemos um comício para 15 mil pessoas sob um dilúvio.
Isso engana? Dá a impressão de que se vencerá?
Freixo: No início da campanha eu dizia que tinha mais de 10% e que passaríamos 20% (me davam 12%), porque sentia nas ruas. Manipulam as pesquisas, isso é uma vergonha! Nosso candidato em Niterói, Flavio Serafim teve 18%, mas em nenhuma pesquisa apareceu à frente de Zveiter. É uma vergonha! Tem de ser discutido o grau de responsabilidade dos institutos de pesquisa e como interferem. Interesses privados definem o interesse público. Meu grande desejo era gerar o segundo turno. Eduardo sabia que não podia chegar ao segundo turno. Ele tinha ganhado do Gabeira por pouco. No primeiro turno, Gabeira teve 23% e nós 28%.
Só que tinha o Crivella. Lembro quando após um debate o sr. comentou que “queria um Crivella para chamar de meu”.
Freixo: Só que tinha o Crivella (na eleição de Gabeira). E mais que isso, Gabeira não enfrentou a reeleição (de Paes). Era Cesar Maia desgastado, não tinha máquina, não inaugurava obra. Gabeira tinha tempo de TV, Molon era o candidato do Cabral e o PMDB pôs Paes aos 48 minutos. Ele não tinha a campanha estruturada como agora. Gabeira teve desempenho espetacular, foi para o segundo turno e quase ganha. Perdeu por 50 mil votos. Então Eduardo sabia que não podia correr risco de ir ao segundo turno de novo. Sua estratégia, bem-sucedida, foi ganhar no primeiro. O PMDB chamou Crivella, Jandira, PDT (possíveis candidatos), tirou todas as possibilidades de segundo turno, com habilidade e mais dinheiro ainda, sem nenhum pudor.
Faltou um Crivella na disputa?
Freixo: Faltou um terceiro candidato, Aspásia, Rodrigo e Otavio, juntos, chegaram a 5%, o que trouxe o segundo turno para o primeiro. Eduardo fugiu da polarização comigo; nos debates, ia para a Aspásia. Se vai para o segundo turno, não tem jeito.
O que, além do poder econômico, do tempo de TV, o sr. considera que contribuiu para essa vitória significativa, com 65% dos votos, do prefeito? O que a administração Eduardo Paes tem de mais positivo?
Freixo: Ele é muito presente, diferentemente de Cabral, e faz marketing disso, tem um marketing muito forte, parte inclusive financiada com dinheiro público. Fez ainda uma propaganda muito boa, programa de TV muito bem feito, e fugiu do debate, da polarização.
Além disso, que outros aspectos positivos teve a prefeitura, para ter aprovação tão elevada e votação tão expressiva?
Freixo: É uma prefeitura que tem como referência a prefeitura de Cesar Maia, a pior possível. E tem um instrumento grande de propaganda de um cenário muito promissor para o Rio com os eventos por vir.
O sr. acha que ele soube capitalizar o momento positivo do Rio?
Freixo: Acho que ele tem uma concepção de cidade perigosa. Põe o Rio à venda, em uma grande promoção, um balcão, capitalização. Ele fala isso claramente em entrevista à TV Folha. “Eu ponho tudo na conta das Olimpíadas.” Naquele vídeo pós-eleição, já sem marqueteiro, ele mostra sua arrogância, uma prepotência enorme, que é o grande perfil dele, a arrogância e a prepotência elitista. É revelador da personalidade e do governo dele.
Nessa entrevista à TV Folha, ele falou de modo depreciativo do sr., em comparação a Gabeira. "Eu não acredito... muito no potencial dele não, entendeu? Eu vejo ele (Freixo) muito limitado. O Gabeira tem história, é um cara com a cabeça aberta, sabe? Não é radical. Superou já as crises de identidade da adolescência. Esse menino (Freixo) acho que ainda não." Ficou um ressentimento das eleições?
Freixo: Ele se mostra aí. Fiquei surpreso, como todas as pessoas – professores, artistas – com quem falei. Quem viu ficou estupefato. É uma arrogância muito grande, mostra que não aceitou muito bem as críticas feitas. Toda pessoa autoritária não permite questionamentos. Ele responde como se fossem pessoais, não políticas. Mostrou rancor, um nível de imaturidade e autoritarismo que são ruins para a vida pública. Tenho várias críticas a ele, mas no campo político, temos concepções opostas de cidade. Ele é tão autoritário que acha que o voto dos outros é contra ele, não do adversário. Chama 28%, quase 1 milhão de cariocas, de idiotas, porque não entendem a importância dele... É imaturo.
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